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PT pode intervir em São Bernardo
Por Regiane Soares
Do Diário do Grande ABC
09/05/2005 | 11:55
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O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, admitiu reformulação no diretório do partido em São Bernardo, cidade em que a legenda teve o pior resultado nas eleições do ano passado. O líder não fala em racha, mas ressalta que “partido que não está coeso e, como no caso é o PT, o desastre é quase que iminente”. Em entrevista ao Diário, Paulo Frateschi disse que a disputa é constante e que a briga é por espaço político dentro da legenda, o que às vezes extrapola os limites partidários. Dialogar mais com a classe média de São Bernardo é um dos caminhos a ser traçado no futuro breve. “Muitas vezes temos a visão de que São Bernardo é a cidade do operário de macacão, e não é. Tem uma classe média forte e atuante e nós precisamos atingir essa classe média”, comentou Frateschi.

DIÁRIO – O PED (Programa de Eleições Diretas) para os diretórios vai motivar a militância para eleição de 2006. Principalmente no Grande ABC, onde o partido perdeu em cinco das sete cidades?
FRATESCHI – Na verdade, precisamos dar sustentação política ao governo Lula, e, é claro, defender as nossas administrações. Isso é o fundamental. E para isso precisa ter disputa política, de informação política de qualidade, da qualidade da disputa. Não adianta dar números, tem de preparar. Isso é o que estamos fazendo hoje, com uma série de debates e conferências para animar o pessoal, e discutir os principais pontos da nossa política para o próximo período. Está tudo voltado, claro, para você armar a militância, preparar a militância para entrar em campanha, que é o que a gente quer mesmo.

DIÁRIO – Historicamente, o PT sempre teve votação expressiva no Grande ABC. Há alguma estratégia específica para a região agora que a legenda só tem duas prefeituras?
FRATESCHI – Nós ganhamos duas que são muito importantes. Melhoramos muito em São Caetano. Ainda somos a maior força política do Grande ABC, e queremos continuar sendo. Perdemos em São Bernardo, o que pesou para a gente. Teve importância política e precisamos entender melhor São Bernardo e reformular nossa política lá. Mauá eu considero que ganhamos, está suspenso. Vai chamar uma segunda eleição e nós vamos ganhar, não tenho a mínima dúvida disso. Então vamos ter três (prefeituras). Isso não tenho nenhum medo de falar, não é nenhuma futurologia. É que se tiver eleição, vamos ganhar. E temos Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que tem um processo muito tumultuado há décadas. Nós, na verdade, governamos ali sob pressão muito grande. O Ramón (Velasquez, ex-prefeito) passou maus-bocados ali para poder se livrar das arapucas dos adversários. Dentro do jogo democrático, nós perdemos. No caso de Ribeirão Pires, a Maria Inês (Soares, ex-prefeita) teve dois mandatos, foi muito bem avaliada. E os nossos adversários estavam preparando uma mudança. Nosso adversário se preparou muito bem, e teve sucesso. Para a gente está tudo dentro dos moldes, não houve queda nossa. Em número de votos, estamos muito alto. Só São Bernardo puxou um pouco para baixo, e essa é a nossa preocupação.

DIÁRIO – Em São Bernardo, o PT apresentou o pior resultado, obtendo 26% dos votos. E na mesma cidade o diretório do PT é mais dividido. O resultado eleitoral é reflexo dessa disputa interna? O sr. mesmo falou que precisa reformular a política do partido no município, mas o que pode ser feito? Como alterar essa situação?
FRATESCHI – Primeiro precisamos lembrar quem é o nosso adversário. Todo mundo sabe que o (prefeito William) Dib é um aliado do governador (Geraldo Alckmin). É quem mais representa o governador no Grande ABC. A voz do Palácio dos Bandeirantes no Grande ABC é o Dib. Foi o José Augusto (da Silva Ramos, candidato derrotado a prefeito de Diadema pelo PSDB)? Não foi, sabemos disso. Ele veio na rabeira. Na verdade quem o governador contou como grande apoio político foi o Dib, e isso foi muito a favor dele. O PSB também deu muita importância a ele e ao Márcio (França, ex-prefeito), de São Vicente. Jogou peso. O Márcio porque tem outras pretensões, vai ter uma carreira política, é o presidente do partido. E o Dib que estava com todo apoio para mostrar e é claro para derrotar. Agora internamente: O partido que não está coeso, como no caso o PT, o desastre é quase que iminente. Porém, o maior problema disso não é que ele está rachado ou dividido. É que as vezes as disputas internas acabam tomando vulto que consome muita energia. Tivemos muitos problemas. Além disso, São Bernardo carrega nas costas o peso de seu berço. É uma responsabilidade muito grande que os companheiros têm de carregar. É o PT de primeira hora, do presidente da República, onde o presidente vota.

DIÁRIO – E como ter consenso e unidade partidária visando as eleições futuras?
FRATESCHI – O problema é que tem muita disputa, não que esteja rachado. Não é um PT rachado, é um PT que tem direção, tem diretório atuante, que conseguiu ter uma boa candidatura e uma chapa de vereadores. Agora, a disputa é constante. Mesmo porque todas as forças do PT querem ter uma ponta em São Bernardo. Todo mundo quer ir para lá. Isso chama muita atenção e realmente acaba tendo desgaste. É uma briga por ocupação de espaço. Precisamos rever tudo isso e aumentar nossa influência com nossa base social. Também temos de dialogar mais com a classe média de São Bernardo. Muitas vezes temos a visão de que São Bernardo é a cidade do operário de macacão, e não é. Ela tem uma classe média forte e atuante e nós precisamos atingir essa classe média com propostas. Precisamos aumentar o diálogo e fazer um programa também voltado para esse setor da sociedade. É isso que eu digo que precisa reformular. Agora o PT não está rachado, porque tem direção, é sede de um sindicato fortíssimo e temos futuro enorme em São Bernardo. Porém, esses pontos precisamos rever.

DIÁRIO – O sr. pretende atuar mais no diretório de São Bernardo e acompanhar o PED?
FRATESCHI – Quero acompanhar em todos os diretórios. Vou fazer campanha e pedir votos em todos. Mas evidentemente tentar harmonizar o processo. Fazer com que o PT tenha o debate, e que a disputa seja feita da melhor maneira possível para que as idéias possam circular, serem debatidas e se chegar a uma solução.

DIÁRIO – O diálogo é o caminho?
FRATESCHI – O diálogo e a disputa política. Temos de ir lá, apresentar chapa, candidato e ir para o debate político. Fundamental hoje é ter o debate político. Se você tentar passar por cima, depois vai te custar caro, porque você vai ter uma militância que não está preparada.

DIÁRIO – Muitas pessoas do próprio PT alegam que a militância do partido não é mais a mesma...
FRATESCHI – Não, ela atua, principalmente no Grande ABC tem muita importância. É chave. Dificilmente se faz alguma coisa sem ela. E nessa eleição teve muita participação com plenária, mobilização, foi bonito no Grande ABC. Santo André, São Bernardo e São Caetano, onde melhoramos bastante, teve muita militância. Não é problema de militância. É que realmente nós precisamos encontrar, hoje somos partido de massa, o maior partido de esquerda do Brasil que tem a Presidência da República, e é uma novidade. Precisamos preparar o PT para esse novo período. É muito difícil ser um partido assim que mantém as mesmas características de 20 anos. Ainda bem que mudamos, certo, agora tem algumas mudanças que precisamos ver como é que vamos fazer. Por exemplo, tem que continuar lutando para essa militância ter influência, para ser ouvida.

DIÁRIO – A militância vai ser ouvida nas decisões partidárias? Em 2002, a militância criticou a aliança com o PL. Como será em 2006?
FRATESCHI – Não é que não teve consulta. Teve consulta, mas tem a briga. A maioria decide por um lado e a minoria tem que caminhar junto. Não é que não houve consulta, há uma continuação de divergência interna no PT de como fazer as alianças, de projeto mesmo. Se a gente deve ir mais para o confronto, se deve buscar um guia cada vez mais excepcional. Tudo isso existe, tudo isso é um debate dentro do PT. Não é que a militância não foi consultada. Foi consultada e ganhou uma parte, e continua o descontentamento da outra parte. Isso é verdade, e isso continua. Hoje você tem um PT que discute, mas que tem uma parcela que é descontente. Agora tivemos erros nesta campanha, não no Grande ABC, mas em outros lugares. Erros que, por exemplo, você tem de profissionalizar, porque o tamanho do partido exige que você tenha uma profissionalização maior. Agora, se você fizer essa profissionalização sem contar com a militância, você tem um resultado. Se você fizer contando com a militância, você tem outro. Existe um lugar mesmo onde foi criticado que houve afastamento de uma parcela da militância.

DIÁRIO – Além da disputa interna para ocupar espaço dentro do diretório, também há disputa de grupos que já estão pensando em 2006. Por exemplo, grupos que defendem a candidatura de uma ou outra pessoa. O PED também é uma forma de definir quem serão os candidatos? Em Mauá, por exemplo, há dois candidatos a deputado federal, Wagner Rubinelli e o ex-prefeito Oswaldo Dias. Como o partido vai administrar essa situação para não rachar?
FRATESCHI – Em primeiro lugar, é nossa obrigação como direção que monta uma chapa olhar tudo isso. Não podemos ficar omissos nisso. Então tenho que adequar. Acho o seguinte: vamos ter muito voto em Mauá. Esse voto de Mauá pode ser para servir para eleger alguém de fora, como pode servir para eleger um dos dois de lá. Todos eles são votos nossos. Você vai votar lá, no Osvaldo ou no Rubinelli, mas esse voto é do PT. Você pode ter uma quantidade de votos excelentes e não eleger nenhum dos dois. Você jogou fora? Claro que não. Porque posso estar elegendo um segundo de Santo André, ou um da capital. A nossa tarefa é ir lá, conversar, fazer as contas com eles, ver como está o clima, oferecer alternativas. Se não der, tem de ter voto nos dois e é uma responsabilidade da casa. É como São Bernardo, que reclama muito da gente. Teve ano que saíram quatro candidatos. Nós fomos lá, tentamos convencer, falamos que não dava, mostramos a realidade. E agora não é culpa nossa. Vocês resolvem brigar e vão até o fim. Apresentamos soluções e alternativas. Aqui a gente tenta pegar uma chapa e olhar, quanto mais você tiver isso distribuído, melhor para a gente. Sua presença institucional fica mais ampla, mais espalhada, atende mais a base. Então a gente tenta fazer uma política de espalhar e eleger, porque bom é eleger. Temos algumas outras cidades como por exemplo Santos, que na região elegeu dois federais e dois estaduais. E convivem relativamente bem. Agora, já está com problemas, porque teremos mais candidatos. É isso que precisamos acompanhar. É muito difícil fazer esse xadrez, e principalmente não deixar brigar, porque precisamos dessa força toda. Quem quer eleger o governador ou governadora como nós queremos, tem de ter o Oswaldo e tem de ter o Rubinelli.

DIÁRIO – Ainda sobre Mauá, a Justiça condenou o Márcio Chaves por uso indevido da máquina administrativa. Como é defender um candidato que foi condenado pelo TSE?
FRATESCHI – No nosso ponto de vista, isso não existe. Para gente foi uma mão muito pesada da Justiça. Não pode ter condenação por exposição de fotografias que nem foi ele quem fez. Não tem muito sentido. É uma mão muito pesada, não podia ter isso aí. Tivemos vários casos de gente que pegou cesta básica, dentro do carro, com vinheta do governo estadual, com adesivo de candidato e o cara não foi condenado. Então, acho que o Tribunal foi muito pesado. Nós não concordamos que ele seja condenado. Vamos recorrer, acreditando que ele vai ser o prefeito. Vamos fazer de tudo para ele ser o prefeito. Tudo indica que estamos bem na opinião pública.

DIÁRIO – Por que o senhor tem essa convicção?
FRATESCHI – Porque a gente vê a rua, vê como o povo fala. O povo não gosta do tapetão, o povo quer decidir. Acho que o Márcio cresceu com esse episódio e o povo se sente deixado de lado, que a opinião dele não valeu, que o voto dele não valeu. Então tem que valer.



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