Economia Titulo Crédito
Jovens de baixa renda usam mais cartão

Classe E também incrementa participação entre requisitantes do plástico, responsáveis por 58,5% dos pedidos

Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
13/11/2011 | 07:30
Compartilhar notícia


Os jovens mais pobres estão experimentando a oportunidade de comprar mais, e com cartão de crédito. Compilando dados de 300 mil CPFs, a Serasa Experian apurou no Censo, por meio da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (do IBGE), além do seu banco de dados, que a chamada "periferia jovem" (de 18 anos a 23 anos), foi responsável por fatia de 25,54% dos solicitantes de cartões de crédito neste ano. Em 2009, o número havia sido de 21,75% e, em 2010, de 23,43%.

Somente na classe E, com renda média familiar de até R$ 1.200, o número de requisitantes já era a maioria junto aos bancos (52%) no primeiro trimestre de 2009. Número que saltou para 54,8% em 2010 e para 58,5% neste ano.

Em se tratando dos aspirantes sociais com idade entre 14 e 17 anos, segundo a Serasa, eles representam 19,78% dos que experimentavam em 2009 as facilidades do cartão de plástico pela primeira vez. O número regrediu para 15,89% em 2010 e, neste ano, para 15,33%. Fazem parte desse grupo donos de pequenos negócios ou à procura de oportunidades. Mas também é representada por consumidores com dificuldades em honrar débitos.

NA REGIÃO - O estudante Renato Augusto, 21 anos, conquistou o poder de sacar o cartão e pagar os produtos que queria. "O pessoal CF51(vendedores)/CF facilita para a gente poder comprar, o que é muito melhor. Além disso, hoje está mais fácil parcelar do que no passado."

Mas o jovem teve de abortar o método de pagamento há cinco meses, quando a conta passou do limite estipulado por seu banco, de R$ 500 reais. A renda familiar mensal do jovem é de R$ 900. "Mas ano que vem já vou conseguir novamente."

A operadora de telemarketing de 21 anos Tuane Santos Silva, frisa que usa cartão desde que tinha 15 anos. "Sempre usava adicionais da minha mãe. Para pagar depois tem de fazer acordo, porque a conta vem alta", diz a jovem, cuja fatura mensal virá em torno de R$ 600.

A auxiliar administrativa de 18 anos, Maite Fernandes dos Santos, conta que já passou por 12 vezes o limite do seu cartão. "Só neste mês acho que vem R$ 330", prevê.

ALERTA- Os casos dos estudantes não são espefícicos do Brasil. O especialista em finanças pessoais e autor do livro MoneyFit, André Massaro, sustenta que jovem é igual em qualquer parte do planeta. "Há esse descontrole com as finanças, dado o poder de sacar o cartão e gastar por aí."

E, no caso dos mais pobres, o presidente da Serasa Experian na América Latina, Ricardo Loureiro, afirma que esse público é o que mais requisita cartões, ressaltando que o estudo serve de alerta.  "Como a maioria dos novos entrantes no mercado de cartões é jovem da periferia, o risco de inadimplência precisa ser adequadamente monitorado", destaca o dirigente, acrescentando que a medida é necessária porque o perfil não possui vivência no mercado de crédito.

Apesar de os índices de inadimplência da consultoria englobarem todas as camadas do País, o fato de as classes D e E serem as maiores requisitantes indica que têm forte participação no resultado dos calotes. Nos primeiros quatro meses após a aquisição do plástico, o registro de calotes subiu. Em 2010, eram 4,8%. Neste ano, já são 5,2%.

Massaro destaca que a abundância do crédito na praça tornou bancos agressivos para oferecerem melhores taxas e condições de financiamento a clientes com menos recursos. Contudo, o consultor contrapõe que o cenário gera pesadelos quando usado sem responsabilidade ou rigidez. "Deixa de ser uma ferramenta conveniente para virar um quebrador de orçamento pessoal e familiar."

O raciocínio é simples. Há ainda a cultura de o brasileiro verificar se a parcela cabe no seu bolso, e não o custo final de um produto que, após ser financiado em meses a perder de vista, são engordados por conta de juros de 240% ao ano - os mais caros, segundo a Anefac. "Para 90% dos brasileiros, a taxa de juros não tem significado algum. Não vêem que compram um carro pelo preço de cinco", diz Massaro.EM

A dica de especialistas é evitar o cartão e usar o crédito consignado, por exemplo que contêm alíquotas mais baixas, porque a garantia de o banco receber pelo empréstimo são maiores.

 

Inflação de baixa renda cresce menos do que a média geral

 

A inflação para pessoas de classes mais baixas subiu em ritmo menor. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 - medido pela FGV, que abrange famílias que ganham entre R$ 545 e R$ 1.362 - cresceu 0,11% em outubro. Durante o ano, essa inflação acumula alta de 4,41% e, desde o mesmo mês do ano passado, 6,71%.

Já o IPC-BR, que analisa uma faixa de renda mais ampla - quem ganha até R$ 17.985 (33 salários-mínimos), acumulou 0,26% no mês passado. Nos dez primeiros meses do ano, esse consumidor percebeu a expansão de 4,91% - registro acima do verificado para famílias com baixa renda na mesma comparação. O ritmo de altas ocorreu também na comparação anual; 6,78% a mais.

A maior parte das sete classes de despesa que compõem o índice caiu ante setembro. O grupo alimentação teve decréscimo 0,16%, habitação subiu 0,45% e vestuário aumentou 0,74%.

Entre as influências, as que mais pesaram no bolso foram a batata inglesa que subiu 5,63%. Para o lado negativo, a maior deflação foi o chuchu, de 20,12%.

 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;