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Valas ficam abertas após exumação
Por Ana Carolina Negrão
Especial para o Diário
26/05/2006 | 07:39
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Um homem sonha com um amigo falecido. Fica tão impressionado que no dia seguinte vai até o cemitério onde o companheiro foi enterrado. Ao chegar lá, se depara com o jazigo do amigo aberto, com as urnas funerárias à mostra. O caso ocorreu com o geógrafo Evandro Ferreira dos Santos Reis, 36 anos. No último dia 17, Reis foi ao cemitério Curuçá, na Vila Assunção, em Santo André, e ficou indignado com a situação em que encontrou.

O túmulo que Reis foi visitar fica nas quadras onde existem apenas túmulos temporários. Passados três anos, os túmulos são abertos e os ossos retirados para que o espaço seja liberado para outros corpos. O procedimento é de praxe. A família é comunicada e se tiver interesse pode levar os restos mortais do familiar para outro jazigo. O corpo que não é reclamado pela a família vai para o ossário geral que fica no próprio cemitério.

Segundo o geógrafo, haviam duas quadras de túmulos abertos. "Justamente a quadra onde ele (o amigo) está enterrado estava aberta, fiquei revoltado e fui falar com o pessoal da administração. Me disseram que estavam fazendo exumação dos corpos. Tinha cabelo, pedaço de roupa dentro dos caixões abertos. Achei um desrespeito com quem passa por ali e tem que olhar aquilo."

A administração do cemitério rebate afirmando que não há maneira de evitar que isso aconteça. "Fazemos uma média de 250 exumações todos os meses. Essas valas ficam abertas apenas com blocos de concreto tampando a cova" , afirma o administrador do local, Adino Rodrigues Neves, 45 anos. Existem 40 quadras com aproximadamente 400 vagas no cemitério atualmente.

O diretor do Departamento de Serviço Funerário de Santo André, Manuel Cunha, reforça a afirmação do administrador. "Não temos espaço para fazer a exumação sem que os caixões fiquem abertos. Retiramos os restos e juntamos os caixões em uma área do cemitério para depois levar para um aterro sanitário. Em uma quadra que é feita a exumação não tem como não ver pedaços de crânios e ossos. É desagradável, mas só vê isso quem quer. Tem pessoas que vão ao cemitério só para ver as exumações."

De acordo com o diretor, de 30% a 40% dos corpos que são exumados ainda estão em estado de decomposição e voltam para a cova. As outras vagas são limpas ficam abertas para receber novos corpos. "Conforme acontecem os enterros, eles são fechados e recebem grama e placa de identificação", afirma Cunha. No mais, as valas ficam temporariamente abertas.

O cemitério está com três quadras abertas, segundo o Departamento de Serviço Funerário. Segundo o administrador do cemitério, em média são enterrados de oito a nove pessoas diariamente – indigentes ou pobres que não têm vaga – em cada quadra. São essas pessoas que ocupam essas valas. "Apenas em locais onde é feita a exumação e que os funcionários estão trabalhando é que os caixões estão, de fato, abertos", afirma Neves.




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