Setecidades Titulo Balanço
Internação de criança por doença respiratória diminui pela metade

Suspensão das aulas presenciais na região e atenção com higiene são razões apontadas pelos especialistas

Yasmin Assagra
Diário do Grande ABC
18/10/2020 | 23:59
Compartilhar notícia
DGABC


Com a suspensão das aulas presenciais e os cuidados redobrados com a higiene durante a pandemia do novo coronavírus, o número de internações de crianças de zero a 14 anos por doenças respiratórias caiu pela metade no Grande ABC entre janeiro a agosto desde ano, comparado com o mesmo período dos anos anteriores. De acordo com informações levantadas pelo Diário com base no Datasus, banco de dados do Ministério da Saúde, foram 3.539 internações deste tipo em 2019 contra 1.440 neste ano, queda de 59,3%.
 

Foram, em média, 14 casos por dia no ano passado contra só seis em 2020. Das sete cidades, apenas Rio Grande da Serra não possui hospitais com leitos de internação.
De acordo com especialistas, casos como asma, bronquiolite (infecção que gera acúmulo de líquidos nos pulmões), bronquite ou gripes em geral, como as Influenzas A e B, são problemas comuns e que geram alta demanda em hospitais pediátricos, principalmente porque os vírus circulam em ambientes comuns para crianças, como as escola. Neste ano, com aulas suspensas, a possibilidade de contaminação foi menor. “Tanto pelo pronto-socorro, quanto em internações mesmo, houve essa queda, justamente porque a circulação viral caiu e o contato de uma criança contaminada com outra criança também”, analisa o pneumologista pediátrico Leandro Odone Bertelli.
 

Um exemplo é o estudante Gustavo Mauro Pereira, 8 anos, que cumpriu com rigor o isolamento físico e desde março não teve nenhuma crise asmática. “A queda (das crises) foi nítida. Antes, o Gustavo tinha crises praticamente todo mês. Se ele ficar resfriado, pode esperar que ataca a asma. Depois que começou a pandemia, ele não teve nenhuma vez, inclusive, a bombinha (recipiente pressurizado que contém medicamento broncodilatador) que utilizava nas crises, ele nunca mais usou”, detalha a mãe, a dona de casa Amanda Mauro Pereira, 33.
 

Moradores do bairro Planalto, em São Bernardo, Amanda lembra que no ano passado Gustavo quase precisou ficar internado após crise forte, mas conseguiu realizar o tratamento em casa. A situação é mais complicada nas estações do outono e inverno. “Tenho outras duas crianças em casa (Elena, 1, e Anna Clara, 11) e todas acabam ficando gripadas também, junto com o Gustavo, pois, além do contato na escola, ele também utilizava o transporte escolar que ficava ainda mais próximo a outras crianças, não tem jeito”, lembra Amanda.
 

Por mais que a Prefeitura de São Bernardo ainda não tenha confirmado o retorno presencial das aulas para este ano, Amanda não pretende enviar Gustavo para escola. “Este ano praticamente já acabou, então vou esperar o ano que vem e ver como ficará essa situação das escolas, mas já estou conversando com ele sobre a higiene redobrada, uso de máscaras e, também, sobre uma alimentação melhor”, pontua.
 

O mesmo aconteceu com o estudante Nicolas Ferrari Leite, 10, que descobriu ser portador de asma há quatro anos e, além da prática de natação que começou a fazer no ano passado, o isolamento também contribuiu para melhora de seu quadro. “Fazia uso da bombinha direto, tanto que o ano passado ficou internado com sintomas de falta de ar bem forte. As crises já estavam melhorando por causa da natação, agora, então, melhorou mais ainda”, destaca a mãe, a dona de casa Priscila Ferrari Leite, 37.
 

A moradora de Santo André reforça a higiene com o filho para quando for o momento de voltar para a sala de aula. “Ele já sabe que estamos neste novo normal e sabe o que faz bem para ele. O Nicolas viu que todos esses cuidados, inclusive a máscara, foram fundamentais para não ter mais essas crises”, observa a mãe.

Pico de infecção é entre abril e agosto

De acordo com especialistas, o pico das infecções respiratórias em crianças está associado com o período do outono e inverno, entre abril e agosto, quando os profissionais da saúde já esperam pela alta de casos e internações.
 

O infectologista pediátrico do Hospital Santa Ana, em São Caetano, José Raphael Ruffato avalia que, na pediatria, a maior parte das doenças é infecciosa, ou seja, transmitida pelo contato. Com isso, ele aconselha tomar cuidados após retorno das aulas presenciais, mesmo sendo gradual e lento até a volta total dos estudantes. “Os cuidados que, teoricamente, surgiram com a Covid, vieram para ficar. Já adotamos o uso das máscaras que vai permanecer ainda por um bom tempo, além dos cuidados com a mão na boca e nariz, que são as principais vias para que a doença chegue no sistema da criança e também no de adultos”, analisa.
 

De acordo com Raphael, as orientações precisam ser repassadas em casa para que a pessoa tenha atenção na escola. “Vai fazer parte da educação das crianças a partir de agora e, além disso, é fundamental que os pais e responsáveis acompanhem, pois se os pais não cumprirem também este papel, de higienizar, de usar máscara, logo a criança também não vai fazer”, ressalta.
 

O especialista ainda observa que, com a queda das internações de crianças por doenças respiratórias e a baixa probabilidade de jovens apresentarem sintomas mais graves da Covid, leitos ficaram disponíveis para pacientes que precisam de atenção maior. “Principalmente com relação aos respiradores mecânicos, que é o mesmo usado em crianças ou adultos. Felizmente poucas crianças apresentaram sintomas mais graves do novo coronavírus”, finaliza Raphael</CW>.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;