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Irã e Rússia abrem o caminho para a primeira central nuclear iraniana
Da AFP
27/02/2005 | 19:38
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Rússia e Irã assinaram neste domingo um acordo chave que tornará possível o funcionamento da central nuclear iraniana de Bushehr (sul), construída pela Rússia, apesar do receio internacional sobre as atividades nucleares da República Islâmica.

Os presidentes das organizações iraniana e russa de Energia Atômica, Gholamreza Aghazadeh e Alexandre Roumiantsev, assinaram em Bushehr os documentos relativos à entrega por parte da Rússia do combustível à central e a posterior devolução a Moscou do urânio enriquecido uma vez utilizado.

Esta última cláusula tem o objetivo de garantir que o combustível não seja reutilizado pela República Islâmica para fabricar a bomba atômica. "Nos documentos as duas partes estão de acordo em questões referentes ao abastecimento de combustível, incluindo sua devolução", informou a televisão.

Este acordo abre o caminho para o funcionamento da central. "Prevemos o funcionamento físico da central para o final de 2006", declarou Alexandre Rumiantsev, segundo a agência russa Itar-Tass. "O combustível será entregue seis meses antes".

Segundo ele, quase 100 toneladas de combustível serão enviadas ao Irã. "A instalação de equipamentos da central estará acabada em dez meses. Os testes e o início oficial das operações acontecerão seis meses mais tarde", declarou Gholamreza Aghazadeh.

O que atrasou a assinatura, inicialmente prevista para sábado, foi o calendário, já que iranianos e russos não haviam chegado a um acordo sobre as datas das entregas. Por fim, assinaram um "protocolo confidencial".

Pressionada pela comunidade internacional, e em particular pelos Estados Unidos, que acusa abertamente a República Islâmica de querer produzir armas nucleares sob um programa civil, a Rússia exigiu que o Irã devolva o combustível após seu uso.

Porém, o atraso também foi conseqüência da tensão entre o Irã e a comunidade internacional, inquieta por causa das atividades nucleares da República Islâmica e, sobretudo, por seu programa de enriquecimento de urânio.

Moscou garante que Bushehr não implica uma aproximação do Irã da bomba atômica. Com este acordo, a Rússia tenta afirmar a independência de sua política em relação aos Estados Unidos, assim como seu lugar no mercado nuclear civil internacional.

A visita de Rumiantsev a Teerã também tem o objetivo de ativar as relações entre os dois países, sobretudo em matéria nuclear, disse Aghazadeh. Segundo fontes diplomáticas, Bushehr, um contrato de US$ 800 milhões, literalmente salvou a indústria nuclear russa.

Embora de fato a Rússia não esteja violando nenhum tratado internacional e alguns analistas vejam na atuação russa a possibilidade de se tornar um intermediário para a solução do problema nuclear iraniano, tal ousadia pode custar caro, principalmente no que diz respeito a represálias americanas.

As reações não devem tardar. Dois proeminentes senadores americanos já propuseram neste domingo a adoção de medidas contra Putin por sua decisão de firmar um acordo sobre o fornecimento de combustíveis nucleares a Teerã.

O influente senador John McCain convocou Washington a cancelar o próximo encontro da Rússia com o Grupo dos Sete Países Mais Ricos (G-7), reunião do chamada de conferência do G-8.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus devem dizer a Putin: "Vladimir, não será bem-vindo na conferência do G-8, pelo menos para começar", declarou McCain à Fox News.

"Deveríamos estar preocupados com o último acordo entre a Rússia e o Irã, pois este não precisa de poder nuclear e, obviamente, trata-se de um regime que se tornou mais opressivo e repressivo", destacou.

Seu colega republicano Lindsey Graham disse que Washington "deve pressionar a Rússia para que compreenda que um Irã nuclear não será uma influência estabilizadora, mas desestabilizadora".




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