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Encontro de orquestra une e clássico e o popular
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
06/05/2005 | 12:15
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Duas orquestras distintas se encontram nesta sexta-feira e sábado para mostrar que música erudita e popular só se separam nas classificações enciclopédicas. Orquestra Sinfônica de Santo André e Orquestra de Violeiros de Mauá fazem dois concertos no Teatro Municipal (praça IV Centenário, s/nº. Tel.: 4433-0780), sob patrocínio da PqU (Petroquímica União), em comemoração ao aniversário de Santo André. Nesta sexta-feira, para convidados, e sábado, às 20h, com entrada franca, mediante retirada de convite nas bilheterias do Municipal a partir das 19h.

Com no mínimo 120 músicos em cena, é uma reedição, com pequenas alterações, da apresentação realizada em dezembro do ano passado nas comemorações do aniversário de Mauá. Uma das diferenças é a disposição no palco, que deve ser definida no ensaio de sexta-feira à tarde: Sinfônica, com cerca de 80 integrantes, no centro e Violeiros, com pouco mais de 40 músicos e cantores, na lateral.

O concerto terá três partes. Na primeira, a Sinfônica apresenta duas aberturas de óperas (A Flauta Mágica, de Mozart, e I Vespri Siciliani, de Verdi) e duas peças oriundas do folclore (Mourão, de Guerra Peixe, e Dança Húngara, de Brahms). Na segunda, os Violeiros mostram músicas sertanejas de raiz, dentro da proposta do grupo de resgatar esse gênero: Cuitelinho (Paulo Vanzolini e Antonio Xandó), Berrante de Ouro (Carlos César e José Fortuna), Mocinhas da Cidade (Nhô Belarmino) e Piracicaba (Newton de Almeida Mello). A terceira parte reúne as orquestras em clássicos sertanejos com arranjos de Edmundo Villani-Côrtes, em forma de suíte. A Sinfônica começa com Saudades de Matão (Antenógenes Honório da Silva, Jorge Gatali e Raul Torres), Violeiros entram em A Vaca já Foi pro Brejo (Tião Carrero, Lourival dos Santos e Vicente Pereira), volta só Sinfônica em Tristeza do Jeca (Angelini de Oliveira) e as duas juntas encerram com A Saudade Vai (Tonico e Tinoco).

São dois organismos musicais oriundos de universos diferentes que convergem para um ponto comum. “Este repertório da Sinfônica é de músicas de caráter popular e o da Orquestra de Violeiros é arranjado sinfonicamente”, diz Flavio Florence, maestro da sinfônica andreense, orquestra que tece laços com outras frentes da música popular brasileira, não só erudita.

Peças inspiradas nos folclores do Nordeste do Brasil e da Hungria e as aberturas de óperas, gênero que até o século XIX era entretenimento popular, dialogam com a música sertaneja da Orquestra de Violeiros. Músicas essas, ressalta Florence, que nada têm a ver com o “sertanejo edulcorado pela TV, com seus recursos maquiados e midiáticos, modificado ao gosto das grandes redes e gravadoras”. Tem, sim, a ver com um estilo ameaçado de extinção. “Só fazemos clássicos de raiz. O objetivo da orquestra é resgatar algo que pode sumir daqui a alguns anos”, disse o maestro Joelson de Moura Franco, 25 anos, desde os 12 na Orquestra de Violeiros e regente há quatro anos.

A Sinfônica é formada por músicos profissionais, embora a maioria receba como bolsista, que têm curso superior. A Orquestra de Violeiros é formada por músicos amadores que “levam o lazer a sério”, diz Franco. Para o violeiro Sergio Pastorelli, foi difícil entrosar no primeiro ensaio. “Quando sentimos que estava redondinho já era hora do espetáculo. Agora temos menos tempo ainda para ensaiar (que aconteceria nesta sexta-feira), mas já nos conhecemos bem”. Adriana Maresca, violinista da Sinfônica, destaca o encontro entre música erudita e popular. “É uma boa surpresa o erudito chegar próximo do popular e vice-versa. Depois de um estranhamento inicial, percebemos fazer moda de viola é gostoso”.

Um dos responsáveis por esse encontro é o compositor e arranjador Edmundo Villani-Côrtes, que rechaça as terminologias. “Não existe erudita e popular. Existe música bem-feita e mal-feita. Quando ouvi os Violeiros pela primeira vez notei que fazem bem feito, tocam afinados e com bom gosto. Os músicos da Sinfônica fazem bem feito, tocam afinados e com bom gosto. Empatam, portanto. Cada música tem característica específica, mas as notas musicais são as mesmas. O que varia é a qualidade da execução”.



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