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Bombeamento do Pinheiros agrava poluição na Billings

No aniversário de 94 anos da represa, especialistas lembram que medida intensifica carga de esgoto e sujeira na água

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
27/03/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Uma senhora de 94 anos que não tem sido bem cuidada nem tem recebido a atenção que merece. Esse é um retrato da Represa Billings, que comemora hoje seu 94º aniversário. Caixa-d’água da Região Metropolitana, responsável pelo abastecimento de 1,6 milhão de pessoas em Santo André, São Bernardo e Diadema, o reservatório sofre, ainda, com ocupação irregular, despejo de esgoto in natura e falta de políticas públicas efetivas que a protejam e recupere.

Especialistas ouvidos pelo Diário destacam que hoje é uma data para reflexão e avaliam que uma das medidas que poderiam colaborar para a mitigação da poluição, enquanto as cidades não contam com 100% de esgoto coletado e tratado – meta projetada para 2024 pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) –, é a suspensão do bombeamento de água do Rio Pinheiros para o manancial ou pelo menos, o tratamento da água que é enviada.

O bombeamento de água do Pinheiros para a Billings foi aprovado em 1997 pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) sob protestos de ambientalistas. A medida é adotada quando ocorrem enchentes na cidade de São Paulo e há risco de cheia no Rio Pinheiros. “Entendemos a necessidade para a transposição, mas o mínimo que poderia ser feito é o tratamento dessa água”, defende a bióloga especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marta Marcondes. A especialista pondera que a própria Billings precisa do volume de água extra, mas que deve ser garantida a sua qualidade. “A região está recebendo o programa Pró-Billings. Esses recursos poderiam custear estação de tratamento. O que não dá mais é para tudo continuar como está. A Billings pode ser a salvação do abastecimento da Região Metropolitana e a gente a tem tratado como a sociedade trata os idosos, sempre deixados por último”, conclui.

O advogado especialista em direito ambiental e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida) do Grande ABC, Virgilio Alcides de Farias, é mais radical e defende a completa suspensão do bombeamento. Farias é autor de ação popular que pede, desde 2010, que o procedimento não seja realizado em hipótese alguma. “A maior contribuição de esgoto e lixo jogado na represa vem do bombeamento”, acusa. O especialista lembra que as cidades também precisam fazer a sua parte e cuidar da coleta e tratamento de esgoto. O MDV vai ocupar cadeira no subcomitê de bacias Billings-Tamanduateí e será apresentada agenda de medidas, já previstas em lei, que os municípios podem tomar em benefício do manancial. “Os prefeitos precisam parar de se omitir sobre essa questão”, pontua.

Presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental) e integrante do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), Carlos Bocuhy afirma que o bombeamento de água do Pinheiros para a Billings contraria as diretrizes da ONU (Organização das Nações Unidas), que há 25 anos fez apelo pela priorização dos recursos hídricos, principalmente nas regiões metropolitanas. Ele destaca, ainda, que não há recursos sendo investidos em ações de despoluição. “Não basta apenas coletar o esgoto. É preciso retirar os metais pesados, o lixo. A gente avalia que a Billings já perdeu 20% de extensão nos seus braços, fora o que se perde em capacidade de armazenamento com o assoreamento”, finaliza.

A Sabesp informou que não há prejuízo à qualidade da água, captada no Sistema Rio Grande – um braço separado da Billings e controlado pela empresa. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) destacou que, “durante o período de reversão, monitora a qualidade dessa água por meio de estações automáticas localizadas na barragem de Pedreira, no Rio Pinheiros e em braços da Billings.

 

Morte de peixes pode estar associada à transferência de água

 

O aparecimento de milhares de peixes mortos na Represa Billings, em São Bernardo, nesta semana, será uma das pautas da próxima reunião do GT (Grupo de Trabalho) Meio Ambiente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Entre as hipóteses aventadas para o problema, que chocou pescadores e ambientalistas, está o bombeamento pela Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) das águas do Rio Pinheiros ao reservatório por conta das fortes chuvas deste mês.

Outro possível motivo seria o despejo irregular de material químico na Billings, explica a integrante do grupo e representante da Prefeitura de São Bernardo, Sonia Maria de Lima. As duas situações diminuem o nível de oxigênio nas águas.

O encontro está marcado para a primeira semana de abril, na sede da entidade regional, em Santo André. “É uma coincidência triste e infeliz caso como este acontecer justamente às vésperas do aniversário da represa. É de nosso interesse conhecer as razões para esta situação”, afirma.

Até o fim da semana devem ficar prontas as análises pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano), que colheu amostras da água e dos peixes. A investigação da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) sobre o caso ainda não tem data para ser divulgada.  




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