Um esquecimento do Papa, que não mencionou Israel entre os países vítimas do terrorismo durante seu último Ângelus, provocou a ira do governo israelense e é o primeiro incidente diplomático do pontificado de Bento XVI.
Após a convocação na segunda-feira do núncio apostólico em Jerusalém, no Ministério das Relações Exteriores israelense, o Vaticano reagiu, por sua vez, acusando Israel de usar um pretexto para deformar as intenções do papa.
A discrepância entre Israel e a Santa Sé acontece menos de três semanas depois de um convite transmitido a Bento XVI pelo primeiro-ministro, Ariel Sharon, e no momento em que Israel acaba de confirmar o compromisso do novo papa de prosseguir seus esforços de aproximação de João Paulo II com o judaísmo.
O fator desencadeante desta polêmica foi uma frase de Bento XVI depois do Ângelus, celebrado no domingo em seu local de férias no vale de Aosta (Alpes italianos).
O Papa condenou 'os atentados terroristas execráveis que golpearam vários países, entre eles Egito, Turquia, Iraque e Grã-Bretanha”, mas não citou Israel, alvo freqüente de atentados suicidas.
O Ministério israelense das Relações Exteriores não se contentou com a publicação na segunda-feira de um comunicado lamentando o esquecimento que, segundo ele, poderá reforçar os extremistas opostos à paz e debilitar aos palestinos moderados.
O Vaticano expressou nesta terça-feira sua surpresa ante a reação, que considerou desproporcionada. "É surpreendente que se tenha desejado utilizar assim um pretexto para deformar a intenção do Santo Padre", declarou o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro Valls.
Este ressaltou que o papa se referia explicitamente em suas declarações aos atentados destes últimos dias, dando a entender assim que os de Netanya já eram velhos para um Ângelus que se refere aos acontecimentos da semana em curso.
"É evidente que o grave atentado de Netanya, ao que se refere a parte israelense, entra na condenação geral e sem reservas do terrorismo", acrescentou o porta-voz em um comunicado.
O incidente evidencia a complexidade das relações entre Israel e a Santa Sé, além das declarações de amizade. A diplomacia vaticana quer seguir ativa no Oriente Médio em nome da defesa dos locais santos do cristianismo e do futuro das comunidades cristãs que vivem na região.