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Esquerda e MST exigem CUT livre de influências
Eduardo Merli e
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
30/08/2003 | 19:48
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Governo Lula e aliados querem a CUT (Central Única dos Trabalhadores) livre da influência do Palácio do Planalto, mas reivindicam a participação da principal central sindical do país nas decisões do governo. A polêmica instalada desde que o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Presidência dominou a discussão durante o aniversário de 20 anos da entidade, comemorado sexta-feira no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo, onde foi fundada. Lideranças de esquerda, entretanto, deram ênfase à necessidade de que a determinação não fique apenas nos discursos.

“Há 20 anos, a CUT é do peão, sem pelego e sem patrão. A libertação será obra dos trabalhadores”, disse o candidato derrotado à presidência da central, Jorge Luis Martins, do Sindicato dos Sapateiros de Franca. Quando o barulho de um microfone caído interrompeu o discurso, ele provocou. “Espero que não seja o patrão.”

Chamado ao microfone, o coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), Gilmar Mauro, sentenciou: “A CUT não é só de vocês, é um patrimônio da classe trabalhadora.” Depois de trocar bandeiras com o novo presidente da CUT, Luiz Marinho, ele defendeu, diante do presidente Lula, as ações dos sem-terra. “A elite diz que não é preciso lutar mais. Mas nós vamos lutar enquanto houver um sem-terra neste país.”

Último a discursar, Lula não esqueceu o recado. Lembrou que a responsabilidade de governar o país não é apenas do presidente, mas de toda a sociedade, dos movimentos sociais. “Passem a bola para mim que eu devolverei como o Robinho (jogador do Santos) devolve para seus parceiros. Isso vale para o Gilmar.”

Fundador da CUT e primeiro presidente da central, o hoje presidente do Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria), Jair Meneguelli, disse que “a CUT não vai se amoldar ao governo, mas aos novos tempos.” No entanto, ele ressaltou que a aproximação com Lula é inevitável. “Eu não tinha a mínima confiança em negociar com José Sarney, com o Collor e com o Fernando Henrique. Hoje os dirigentes sindicais podem confiar no presidente da República.”

“Não há alinhamento da CUT com o governo. E também seria absurdo se houvesse algum pé atrás, na medida em que o programa de governo do Lula contempla uma série de reivindicações históricas da CUT”, disse o secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci. “O governo também não quer que a CUT esteja alinhada com o governo. Mas é uma parceira importante nas causas de mudança social neste país.”

O secretário-geral da CUT, João Felício, afirmou que tampouco haverá rachas no interior da central sindical por causa das divergências pontuais. “Faz três meses que ouvimos a imprensa falar que a CUT vai rachar. Quem se filia à CUT tem a marca da mudança. Dentro dela, cabem todos.”

Chamado ao palco como presidente de honra da CUT, Lula disse que ainda existe muito a fazer, que existem muitos sindicatos de carimbo no país e que é preciso não ter medo de propor coisas novas. “A minha lealdade não está na submissão que vocês tenham a mim.”




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