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História à beira do mar

Passear por Santos, que abrigou a elite cafeeira, é verdadeira viagem no tempo

Por Daniela Pegoraro
24/05/2018 | 07:00
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Daniela Pegoraro/Especial para o Diário


Na temporada de verão, descer a serra para as praias de Santos é destino certo. Mas quem pensa que durante o frio deste fim de maio não há o que fazer no local, está absolutamente enganado. Por lá há muito mais do que o belíssimo Jardim da Orla e a areia bem frequentada. Uma das cidades mais antigas do Brasil, fundada em 1546 – e a 65 quilômetros de Santo André –, ela guarda grande parte da história do País, principalmente porque lá concentrou-se, por longo período, grande parte da elite cafeeira. Hoje, inclusive, é comemorado o Dia Nacional do Café, e a cidade abriga programação especial.

Para quem gosta de aventurar-se pelo passado, Santos é uma verdadeira viagem pelo tempo. A começar pelo passeio a bordo do bondinho, que perpassa todo o centro histórico da cidade, partindo da Estação do Valongo. Construída por iniciativa de Irineu Evangelista, o Barão de Mauá, é a estação de trem mais antiga do Estado. Hoje, é lá que se localiza o primeiro Museu Vivo Internacional de Bondes da América Latina. A linha turística conta com sete bondes em funcionamento, todos eles originais de Itália, Escócia e Portugal.

São 40 pontos turísticos no trajeto de 40 minutos, dentre eles o Palacete Mauá, a casa mais antiga preservada da cidade, e o Phanteon dos Andradas, que abriga os restos mortais de José Bonifácio, conhecido como patriarca da independência brasileira.

É possível estar a bordo do bonde de terça a sexta, domingos e feriados, das 11h às 17h, com saídas a cada uma hora. De sábado, das 10h30 às 17h, as saídas são a cada 30 minutos. Para embarcar, o tíquete pode ser comprado no Museu Pelé, em frente à Estação do Valongo, com custo de R$ 7.

Museu do Café é história viva de 1920

Dentre as ruas estreitas de paralelepípedos, o Palácio Oficial da Bolsa de Café se destaca por seu modelo arquitetônico único e rico em detalhes. Inaugurado em 1922, o prédio abrigou reuniões da elite cafeeira. Hoje, nele está o Museu do Café, que expõe todo o processo histórico de produção do grão até seu fornecimento e hoje tem programação (que pode ser vista no site www.museudocafe.org.br) a partir das 12h30, por conta da data comemorativa.

Olhando por fora, a Torre do Relógio talvez seja o que mais chame a atenção. Com 40 metros, ela atinge o dobro de altura da Bolsa do Café. Ao topo, quatro esculturas representam a agricultura, o comércio, a indústria e os navegantes.

Dentro da construção, as riquezas do local se tornam ainda mais evidentes. Já na entrada, topamos com o Salão do Pregão, onde eram realizadas negociações de café mediadas pelos corretores. Ali, três pinturas de Benedito Calixto cobrem toda a parede. A primeira delas simboliza a chegada dos portugueses à cidade; a segunda, a idealização da Vila de Santos, em 1822; e a terceira, a cidade já consolidada em 1922. Ao centro do salão, ao olhar para cima é possível encontrar o vitral temático, também assinado por Benedito Calixto. É o primeiro vitral de temática brasileira, destacando o ouro, a agricultura do café, cana-de-açúcar e algodão.

Ainda no térreo é possível se ter uma ideia do que se seguirá na visita ao museu, mas é subindo as escadas que o acervo toma forma. Além de exibir a produção de café na década de 1920, a contextualização histórica se faz presente. Um dos carregadores de café ganha destaque: Jacinto. A lenda diz que ele conseguiria empilhar em suas costas até cinco sacas de 60 kg cada.

Antes de entrar – ou após sair –, a cafeteira do palácio oferece diversidade de cafés. É possível escolher o grão que se quer tomar e seu modo de preparo. Interativo e um ponto obrigatório para todos os amantes da bebida, o museu funciona de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos, da 10h às 17h. A entrada custa R$10.

Ponto alto de Monte Serrat

Além dos bondinhos que percorrem as ruas do Centro, existe também o de Monte Serrat. Inclinado para subir até o topo da cidade, é utilizado não apenas pelos turistas, mas também como meio de locomoção dos moradores. Por cerca de quatro minutos, os passageiros sobem 150 metros de altura. Também existe a opção de encarar os mais de 400 degraus até o monte.

O bonde desembarca no casarão que já abrigou um dos mais badalados cassinos da região. Por lá, passaram celebridades como a cantora Carmem Miranda e o governador Júlio Prestes. Pelas janelas do espaço pode-se ter a visão periférica de toda a cidade de Santos, desde as suas praias até o porto. O passeio, ida e volta pelo bonde, custa, em média, R$ 42. A vista panorâmica, para quem sobe pelo bonde ou de escada, faz toda a viagem valer à pena.

PADROEIRA
A importância histórica se faz presente também pela religiosidade. É ainda no monte que se localiza o Santuário de Nossa Senhora, construído em meados de 1600 pelo então governador geral do Estado do Brasil, Dom Francisco de Souza (1540–1611).

Santos estava constantemente sob o ataque de piratas, e o Monte Serrat era o local onde a população se abrigava. Em uma dessas invasões, os piratas foram soterrados por rochas vindas do monte. Na época, os moradores atribuíram o milagre a Nossa Senhora, que foi consagrada padroeira da cidade.

Santuário é marcado por milagre

Não tem como negar que a cidade tem uma forte conexão com a religiosidade. Encostado à Estação do Valongo está localizado o Santuário de Santo Antônio do Valongo. É uma das primeiras igrejas do Brasil, construída em 1640.

É marcado pelo que seria um milagre: em meados de 1960, quando estavam prestes a demolir a igreja, ninguém foi capaz de tirar a imagem de Santo Antônio do altar. Considerado como uma mensagem divina, o título foi elevado a um santuário.

Hoje, é considerado como um dos principais exemplares da arquitetura franciscana no Brasil. Marcado pelo estilo barroco, suas paredes são revestidas por azulejos, o teto, decorado por pinturas a óleo que retratam a vida do santo. O altar veio de Lisboa, com cores marcantes de branco e dourado. O turista que visitar o espaço ainda pode se deparar com um monitor especial, capaz de explicar e apresentar em detalhes toda a arquitetura e história do local.

E, por conta do projeto municipal Vovô Sabe Tudo, alguns pontos turísticos contam com a presença de guias da terceira idade. Marisa Fujioka, 65 anos, é uma delas, e fica responsável justamente pelas visitas ao santuário em questão. “Decidi fazer parte do programa para fazer alguma coisa diferente. Jamais pensei que iria pegar em livros para estudar a história de Santos e questões arquitetônicas.”

Museu conta a vida do Rei Pelé

Em frente à Estação do Valongo, de onde partem os bondinhos, está localizado o Museu Pelé, dentro dos antigos casarões do bairro. Para os amantes de futebol, o espaço é de passagem obrigatória. Embora sua fachada mantenha a arquitetura original, por dentro as instalações se fazem mais modernas do que o esperado.

Toda a história do Rei do Futebol é apresentada pela exposição, que conta com itens de seu arquivo pessoal, como documentos, bolas, camisas, chuteiras e troféus. Para deixar o ambiente mais interativo, a todo momento são exibidos trechos de filmagens, áudios, fotos e textos sobre a história do jogador: desde sua infância em Minas Gerais até as Copas do Mundo.

Os detalhes são muitos. Para se ter uma ideia, o acervo conta até mesmo com a caixa de engraxate que Pelé usava para trabalhar quando criança. É impossível sair dali sem ter a sensação de que passou por um grande pedaço da vida do jogador.

O museu está aberto para visitação de terça a domingo, das 10h às 17h. O ingresso pode ser retirado na hora e custa R$ 10. Recomendado para o público de todas as idades, o espaço conta, inclusive, com uma área destinada às crianças. O local também é um dos pontos de informações turísticas da cidade.

Memorial é atração para fãs de futebol

Aos amantes de futebol, é imperdível que se visite o Memorial das Conquistas do Santos FC, ainda que não torça para o time. Inaugurado em 2003, o espaço está aberto de terça a domingo, das 9h às 19h. A visita monitorada custa R$ 20, onde é possível conhecer o museu, camarotes térreos, sala de imprensa, vestiário e laterais do campo. No entanto, se a preferência for visitar apenas ao museu o preço é de R$ 8. Crianças com até 6 anos têm entrada gratuita.

No Memorial, o que chama a atenção é a placa eletrônica, que conta os gols que o time já fez em campo, sempre atualizando os números. Além disso, troféus, prêmios, camisas e imagens dos presidentes do clube estão expostos a fim de contar um pouco da história do time. Os objetos que mais se destacam são as placas marcadas pelos pés dos jogadores.

Quem ganha mais destaque no acervo são os jogadores Pelé e Neymar, ambos com esculturas que os representam e cada qual com uma sessão específica.

A interatividade também leva a sua importância. Filmes, áudios e trechos de entrevistas são exibidos a todo instante para contar a história do time. Com mais de dez anos de existência, o espaço já recebeu mais de 1 milhão de pessoas.

Opções que não acabam

Fato de os dias estarem frios não quer dizer que não ‘dá praia’; há vários atrativos pela orla de Santos para turistas visitarem

Não precisa ir tão longe da praia para aproveitar Santos. Mesmo no frio, quem gosta de ouvir o som das ondas e apreciar sua vista pode sim agregar o mar à sua companhia.

Um dos espaços para passar o tempo é o Parque Municipal Roberto Mário Santini. Com pistas de skate, patinação, academias de musculação, escola de surfe e ciclovia, é perfeito para quem pretende praticar esportes. Mas não é destinado apenas a este público.

O parque abriga ainda a Plataforma do Emissário Submarino, a qual avança 400 metros mar adentro. É nela que está localizada escultura da renomada artista plástica Tomie Ohtake, criada em comemoração aos 100 anos da imigração japonesa e que pode ser avistada de todos os pontos da orla, pois conta com 20 metros de comprimento e 15 de altura. Quem se aproxima da peça percebe que o som do mar se amplifica.

Na região conhecida como Ponta da Praia ainda se encontram outras atrações turísticas que valem a pena serem visitadas, tudo sem a necessidade de entrar no mar para se banhar. É ali que está a Pinacoteca Benedito Calixto, com exposições permanentes e itinerantes, o Aquário de Santos e o Museu de Pesca.

Aquário de Santos é pioneiro no País

Para os apreciadores da vida marinha, o Aquário de Santos é o ponto turístico que não pode ser deixado de lado. Inaugurado em 1995, é o aquário mais antigo do Brasil, como consta no Guiness World Record.

Já antes de entrar lá é possível ter uma ideia do que vem adiante. Dois murais de 12 metros de altura decoram as paredes externas das caixas-d’água do aquário. Realizados pelo ambientalista Robert Wyland, são únicos na América do Sul.

O objetivo do espaço não é apenas de exposição dos animais, mas de trabalhar em projetos de preservação da vida marinha. Foi, inclusive, a primeira instituição a realizar resgates e recuperações dos animais.

Dos moradores mais ilustres, o que mais se destaca é o leão-marinho, apelidado carinhosamente de Abaré-Inti. Nasceu em 2001 no Zoológico de São Paulo, mas foi transferido para Santos em 2011.

Também são encontrados um casal de tubarão-lixa e quatro exemplares de tubarão-bambo. Já os pinguins se encontram no pinguinário, espaço construído com inspiração na Patagônia, mantendo sempre uma temperatura média de 17ºC.

Sernambiquaras, corcorocas, xaréus, robalos, salemas, marimbas e raias-ticonha. A variedade de espécies é grande, e tirar alguns minutos para visitar os animais é uma experiência que vale a pena.

São 32 tanques distribuídos pelo aquário, resultando em um total de 300 mil litros de águas doce e salgada. O local está aberto de terça a sexta, das 9h às 18h, e de sábado, domingo e feriados, das 9h às 20h. O preço do ingresso é R$ 8.

Museu exibe esqueleto de baleia

Outra opção para quem se atrai pela vida marinha é conhecer o Museu de Pesca. Localizado em antigo casarão de estilo eclético, o espaço foi construído em 1906 a fim de abrigar a escola de aprendizes marinheiros. Chegou a funcionar também como escola de pesca e, em 1942, se consolidou como museu.

De suas atrações, sem dúvidas a que mais atrai os turista é o esqueleto da baleia que encalhou no litoral de Peruíbe. São 3 metros de comprimento, 193 ossos e 7 toneladas.

Também faz parte do acervo a lula gigante taxidermizada, único exemplar em exibição no mundo. Logo na entrada, é possível admirar uma raia-manta, também tratada pelo processo de taxidermia, que foi morta acidentalmente em uma rede de pescadores, na Praia Grande.

Exemplares de tubarões (tubarão-megaboca, tubarão-golfinho, tubarão-galhudo e um tubarão-bico-de-cristal), conchas, invertebrados e até mesmo areias do Brasil e do mundo constituem a exposição.

Voltado para todas as idades, o museu apresenta espaços também às crianças. Um dos exemplos é a existência do chamado ‘quarto do capitão’, onde é reconstruído o cenário de um barco inspirado no filme Piratas do Caribe. A cama, o baú do tesouro, um gato que mia. Tudo isso em um espaço de teto baixo e inteiramente de madeira, dando a ilusão de estar em alto-mar.

 

O Museu de Pesca está aberto para visitações de quinta a domingo, das 10h às 18h. Os ingressos custam apenas R$ 5.

 

 




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