Internacional Titulo Falta de pagamento
OMS recomenda suspensão do direito de voto da Venezuela por falta de pagamentos
17/05/2018 | 06:00
Compartilhar notícia
UN


A Organização Mundial da Saúde recomendou a suspensão do direito ao voto da Venezuela na entidade a partir do ano que vem e o impedimento da participação do governo de Nicolás Maduro nas decisões que afetam a agenda da saúde internacional. A medida isolará ainda mais o país e amplia o temor de que questões de saúde não estejam recebendo um tratamento adequado por Caracas.

Documentos obtidos pelo Estado apontam que o motivo da proposta de afastamento é financeiro. Cabe agora aos ministros dos 193 países presentes na Assembleia Mundial da Saúde, que se reúne a partir de segunda-feira, 21, decidir o destino da Venezuela.

O governo venezuelano não paga suas contribuições obrigatórias à agência de saúde da ONU desde 2014. O total da dívida chega a US$ 8 milhões, valor considerado pequeno em um orçamento de US$ 1 bilhão da entidade. Mas, pelas regras, atrasos consecutivos nos pagamentos e a falta de um plano para quitar a dívida resultam na suspensão de voto.

A situação humanitária na Venezuela tem sido alvo de uma atenção especial na ONU, em particular em razão do impacto que isso poderia ter para o Brasil e outros países da fronteira. O temor é que doenças possam se proliferar e uma suspensão da Venezuela dos votos na OMS apenas reforça, internamente, o temor de que as questões de saúde não estão recebendo a atenção adequada.

A crise venezuelana se reflete em uma hiperinflação que deve chegar a 13.800% este ano, segundo o FMI, além de escassez de alimentos, remédios e todo tipo de bens básico.

De acordo com o documento da OMS, "se até a abertura da 72.a Assembleia Mundial da Saúde" Caracas estiver em "atraso com seus pagamentos, os privilégios de votos devem ser suspensos desde seu início". Na prática, a agência está dando até 2019 para que a dívida seja quitada. Caso contrário, a suspensão entrará em vigorar.

Se esse cenário se confirmar, a Venezuela entra em um grupo de países afastados que conta ainda com República Centro-Africana, Gâmbia, Guine-Bissau e Sudão do Sul.

Mas, na OMS, a desconfiança vai muito além dos números da contribuição financeira. A entidade com sede em Genebra passou a não mais confiar nos dados de saúde apresentados pelo governo Maduro.

Um dos casos se refere ao sistema de saúde, mortalidade e o número de casos de malária. A Venezuela, por exemplo, informou à OMS que registrou apenas uma morte pela malária em 2016. Mas a entidade estima que ocorreram até 280 mortes.

A agência da ONU estima que, em 2017, mais de 400 mil casos foram registrados no país, quase dez vezes mais do que no início da década. Para a entidade, essa realidade já é uma ameaça ao Brasil, diante do fluxo de refugiados e imigrantes que poderia provocar uma nova onda de transmissão. Em 2010, o país havia registrado 45 mil casos de malária. Em 2016, a taxa já era de 240 mil. Contudo, nem a OMS acreditou nos dados oficiais fornecidos por Caracas e estima que havia 300 mil casos. Agora, para 2017, os dados preliminares apontam para 406 mil.

Para a agência de saúde da ONU, o risco é o de que esses casos voltem a afetar zonas brasileiras que tinham conseguido se livrar da malária ou reduzir de forma dramática a doença.

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo não obteve respostas oficiais da diplomacia venezuelana sobre o atraso nos pagamentos na OMS. Mas, em entrevistas nos últimos meses, ministros de Caracas vêm insistindo que não há uma crise humanitária no país.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;