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O sumiço das abelhas

Sem as abelhas, o homem pode desaparecer em quatro anos, disse um dia Albert Einstein

Wilson Marini
07/07/2011 | 00:00
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Sem as abelhas, o homem pode desaparecer em quatro anos, disse um dia Albert Einstein. O motivo? Sem elas, ficaria muito mais difícil a polinização e com isso ficaria comprometida a produção de flores e frutos. Cairia não só o encantamento dos jardins, mas também a produção de alimentos. É que a abelha transporta o pólen de uma flor para outra e dessa forma preserva o equilíbrio da vida vegetal. Frutas, legumes e oleaginosas dependem e muito dessas pequeninas. Dita há pouco mais de meio século, a frase foi interpretada na época como uma exaltação da importância das abelhas na natureza e nem causou sensação ou preocupação. Resgatada mais tarde, nos anos 90, quando o que era ficção começou a se tornar realidade, a frase passou a assumir cada vez mais ares proféticos e apocalípticos. Os gênios quase sempre possuem pontos incompreendidos em sua época. Agora, muitas perguntas podem ser feitas a partir da frase de Einstein. Ele estava prevendo a tendência de forma intuitiva? Exagerou na previsão, no que se refere ao desaparecimento da vida humana? É possível trazer de volta as abelhas para o campo como antigamente? E se elas desaparecerem mesmo, como isso pode ser enfrentado para que a polinização continue ocorrendo na mesma intensidade? Quais os efeitos disso sobre as florestas e a agricultura?

Desaparecimento

Com as mudanças climáticas (aquecimento global), as abelhas não estão mais encontrando lugar para viver. Estariam dando um até logo ao planeta. O desaparecimento das abelhas foi diagnosticada como o Distúrbio do Colapso das Colônias. A síndrome caracteriza-se especialmente pelo esvaziamento repentino e sem explicação aparente das colméias. A "doença" vem ocorrendo com frequência cada vez maior. Há relatos de que, possivelmente desorientadas, a multidão de abelhas operárias largou a rainha para trás, o que denota degeneração da espécie nunca vista antes.

Declínio

Em artigo no jornal O Estado de S.Paulo/CF em 2008, o jornalista e escritor francês Gilles Lapouge afirmou: "Esta hecatombe misteriosa já dura alguns anos e constitui verdadeiro mistério. (...) Milhões e milhões de colméias pereceram na América, na Europa, em toda parte. Estudos realizados nos Estados Unidos e na França já dão o sinal de alarme". Nos Estados Unidos, onde produtores de laranja da Flórida, por exemplo, têm por conduta alugar colmeias já formadas, como forma de multiplicar a produção, o sumiço das abelhas causaram impacto no mercado de aluguel de colmeias. Monoculturas, plantas geneticamente modificadas (transgênicos) e aplicação de venenos - são algumas das hipóteses aventadas para explicar o fenômeno.

Fapesp

O tema do sumiço das abelhas foi abordado em abril em São Paulo por publicação científica da Fapesp a partir de reportagem do jornal The Independent, de Londres, segundo a qual o declínio das populações de abelhas pode estar se tornando fenômeno global. Grupo de cientistas a serviço do Programa Ambiental das Nações Unidas relatou que queda significativa das populações de abelhas polinizadoras foi observada em várias regiões do planeta. As causas seriam a redução das plantas com flores, o uso de inseticidas e a poluição. A consequência do desaparecimento dos enxames pode ser queda na produção agrícola, como já aconteceu nos Estados Unidos, já que 70 das 100 principais culturas agrícolas são polinizadas por abelhas. Os cientistas sugerem aos fazendeiros que restaurem ou ampliem os ambientes naturais procurados pelas abelhas e tomem mais cuidado com a aplicação de inseticidas e outros produtos químicos.

No Brasil

Recentemente, a imprensa divulgou que o fenômeno está se verificando em Santa Catarina. A federação das associações de apicultores do Estado criou comissão técnico-científica para estudar a questão. A média de perda de colmeias chega a 30%, afirmou especialista da Universidade Federal de Santa Catarina. O combate ao "greening", doença da citricultura, está dizimando abelhas no Interior Paulista, segundo o biólogo Osmar Malaspina, da Unesp de Rio Claro. A morte das abelhas de pelo menos 700 colmeias em Boa Esperança do Sul e Brotas foi causada por excesso de inseticida, segundo comprova laudo. Outras 3.300 colmeias no Estado podem ter morrido em 2010 devido aos agrotóxicos.




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