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'MP montou a história conforme seu interesse'
Do Diário do Grande ABC
17/01/2004 | 16:22
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Roberto Podval e Adriano Vanni – dois advogados de defesa do empresário Sérgio Gomes da Silva – afirmaram que não existe qualquer prova nos autos que possa condenar seu cliente. Eles assinalam que todos os acusados de participar do seqüestro e morte de Celso Daniel jamais mencionaram a existência de um mandante.

Sobre a participação do seqüestrador Dionísio de Aquino Severo, protagonista de uma fuga cinematográfica do presídio Parada Neto a bordo de um helicóptero, no episódio Celso Daniel, Podval qualificou essa evidência como um enredo de “filme ruim”. “Se eu estivesse no cinema, sairia na metade.”

Diário – O sr. já teve agora acesso completo aos autos, a todos os 49 volumes do processo. Qual é a análise que faria?
Roberto Podval – Lendo os autos, não tem nada, nem uma indicação concreta, expressa, plausível da participação do Sérgio (Gomes da Silva) nesse evento todo. Não tem. Mesmo os acusados que confessaram no DHPP, na Polícia Federal, no Deic, eles nunca falaram no Sérgio. Pela experiência que se tem, o que me parece verídico é a primeira versão apresentada por eles, que exclui totalmente o Sérgio desse caso. Essa investigação foi conferida por departamentos sérios, especializados, por pessoas idôneas, delegados que não têm o que se dizer deles. A defesa estranha que o chefe de polícia, o secretário de Segurança, não defenda o posicionamento de seus comandados, de seus delegados. Por que razão o Ministério Público coloca em choque tudo aquilo que foi feito pela polícia, como se tudo aquilo fosse uma mentira, e ninguém fala nada sobre isso?

Diário – Mas os promotores apontam uma série de contradições que o Sérgio teria caído em seu depoimento à polícia.
Adriano Vanni – A maior contradição desse processo foi cometida contra o nosso cliente. Ele teria contratado uma quadrilha de dez elementos para o seqüestro e assassinato do prefeito, todos foram capturados e estão presos, e nenhum – nem um deles – apontou o Sérgio como mandante. Essa é sem dúvida alguma a maior contradição desse processo. Ter de engolir essa história, aliás, é maior do que qualquer contradição.

Diário – O preso Ailton Feitosa, que fugiu de helicóptero com o Dionisio de Aquino Severo, afirma em juízo que viu o Dionísio tramando o seqüestro do prefeito.
Podval – O Feitosa é um presidiário jurado de morte, ele busca se aproveitar de um contexto. O mais fácil é procurar proteção, benefício – a gente não sabe quais são –, o caminho mais simples para ele. Não me parece crível dar ao depoimento do Feitosa o crédito que tem se dado. O Sérgio não tem antecedentes, e a palavra do preso é mais valorizada que a dele. Por que vale mais a palavra do preso do que a do Sérgio?

Vanni – A principal prova obtida pelos promotores é o depoimento de um presidiário, uma testemunha que precisa ser aceita, no mínimo, com reserva.

Diário – Há um cartão encontrado na casa de traficantes que indica que Feitosa estaria falando a verdade.
Podval – A história do cartão é nebulosa. É muito estranho esse cartão.

Diário – Testemunhas do local do arrebatamento disseram à promotoria que o Sérgio teria colaborado com os seqüestradores.
Podval – Surgiram meia dúzia de pessoas, cada uma falando uma coisa. Aí é a imaginação de cada qual, é difícil explicar, nós acompanhamos todas as versões. Fomos atrás, checamos as histórias, acompanhamos o trabalho do Greenhalgh e de concreto, de fato e efetivo, não tem nada. As histórias não se encaixam, não têm lógica, o que fizeram foi pinçar o que interessava para chegar a uma conclusão.

Vanni – As pessoas podem ter visto o Sérgio desesperado, ligando para a polícia, mas colaborando com os seqüestradores isso não é verdade. É outra afirmação ridícula.

Diário – Qual é a diferença entre a investigação feita pela polícia e a que foi promovida pelos promotores?
Podval – A polícia partiu de um fato – que foi a morte do prefeito Celso Daniel – e foi buscar os autores. O Ministério Público parte do autor – Sérgio – e vai buscar o fato, montando a história de acordo com o interesse de cada qual.

Diário – Como os senhores vêem a fuga do preso usando um helicóptero, no mesmo dia tramando um seqüestro, uma quadrilha de dez pessoas contratada às pressas...

Podval – Nem em filme a gente acreditaria. Se eu fosse no cinema para ver essa história, sairia na metade, porque é um mau filme, não tem pé nem cabeça. É óbvio que não faz sentido: o sujeito sai de helicóptero para contratar mais dez pessoas de uma favela. Tem uma mulher no orelhão que ouve o seqüestro sendo tramado. Só dá credibilidade quem quer buscar um objetivo que a gente ainda não sabe qual é.

Diário – Para provar que existe um elo entre o empresário Gomes da Silva e o seqüestrador Dionísio, os promotores recorreram a depoimentos de duas pessoas que viram o Dionísio na Prefeitura de Santo André. O que os srs. têm a dizer a respeito?
Podval – Não existe ligação do Sérgio com o Dionísio. Foram dizer que o Dionísio tinha namorado a mulher do Sérgio. Então, ela está casada com o Sérgio, namora o Dionísio e depois o Sérgio vai contratar o sujeito que namorou com a mulher dele para matar o melhor amigo dele. Isso não tem lógica, não tem pé nem cabeça, a gente lamenta que fatos tão sem lógica, sem racionalidade, mantenham o Sérgio preso.

Vanni – Se você pegar o pessoal que trabalhou no gabinete do Celso, o pessoal da Segurança, qualquer pessoa, ninguém viu o Dionísio andando por lá. A única pessoa que viu era inimiga do Celso (o advogado refere-se ao então vice-prefeito José Cicote) e mesmo assim ele já voltou atrás. Disse para um jornal de São Paulo que não se lembrava do Dionísio. Em resumo: o Dionísio nunca namorou a mulher do Sérgio, o Sérgio nunca viu, nunca falou e nem sabe quem é o Dionísio. Isso é ridículo.

Diário – Qual é a situação de Gomes da Silva hoje?
Podval – Ele está aguardando o julgamento do mérito do habeas-corpus.

Vanni – Não há motivo para prender o Sérgio. Ele se apresentou espontaneamente, mesmo sabendo que é inocente, o que é uma grande demonstração de respeito à Justiça. Ele compareceu sempre que foi chamado à polícia. Não há portanto por que mantê-lo preso.

Diário – Por que foi decretada a prisão preventiva de seu cliente?
Podval – Nós vivemos um momento político muito complicado, muito difícil, próximo de momentos nebulosos da história desse país. Hoje, todo mundo é suspeito até que se prove o contrário. Cabe a você provar sua inocência e não o contrário. O respeito à pessoa não existe. Os limites se perderam. É preciso voltar à legalidade. As pessoas estão sendo humilhadas, achincalhadas e pisadas. A imprensa deveria se preocupar com esse momento que nós estamos passando. Precisamos voltar à legalidade.

Diário – Os promotores dizem que Gomes da Silva era o encarregado de recolher o dinheiro da propina. Eles dizem ter documentos que comprovam os depósitos que foram feitos na conta do empresário.
Podval – Nós vamos nos manifestar no momento oportuno. Não temos cabeça para nos preocupar com isso agora. A nossa preocupação é tirar o Sérgio do cárcere. Ele está bem, esperançoso, aguardando.

Diário – A Justiça decretou sigilo em relação ao processo, mesmo contra a vontade da família. O que o sr. acha dessa decisão?
Podval – O juiz negou a quebra do sigilo. A gente tem de respeitar o juízo. Mas nós não entendemos muito a quem interessa o sigilo nas investigações desse caso. A família da vítima pede que o processo se torne público, o PT também, a defesa pediu expressamente, então, ou o processo se torna público ou de fato se torna sob segredo de Justiça.




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