Economia Titulo
Pochman: esta foi a 2ª década perdida para emprego
Por Do Diário do Grande ABC
02/01/1999 | 14:13
Compartilhar notícia


O fantasma do desemprego assustou os trabalhadores brasileiros durante todo o ano de 1998, com taxas oficiais ultrapassando os 8% e, pelo menos, seis milhoes de pessoas na rua. E nao há indícios de que a situaçao será revertida no curto prazo. Técnicos e economistas especializados em mercado de trabalho apontam, em suas análises, para um índice na casa dos dois dígitos em 1999. Nem mesmo um desempenho estupendo da economia este ano será capaz de impulsionar as contrataçoes, avaliam os mesmos especialistas.

A gravidade da face mais cruel das crises asiática e russa pode ser medida pelas palavras de Márcio Pochmann, professor da Unicamp. "Em termos de emprego, assistimos ao fim da segunda década perdida. E ainda é nossa pior taxa de desemprego em 100 anos", aponta o pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Mercado de Trabalho (Cesit). "Chegaremos a dezembro com uma renda per capita igual a de 1980."

Em sua avaliaçao, Pochmann enxerga nos números de 1998 novo perfil tanto do desemprego como dos desempregados. "O desemprego nao é apenas da crise, ele é derivado do modelo econômico, que nao é gerador de empregos. E o processo de reestruturaçoes, fusoes e entrada de estrangeiros está atingindo um setor protegido até entao, a classe média de boa qualificaçao profissional", acentua. É a classe média, identifica Pochmann, o segmento da sociedade que ficará com a corda no pescoço no ano que acaba de começar.

O desemprego acumulado em 1998, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve ficar em 7,5% - dois pontos percentuais acima do ano anterior, ou mais 345 mil trabalhadores nas seis maiores regioes metropolitanas do país. Cerca de 10% das vagas da indústria foram cortadas só entre janeiro e outubro. De acordo com os especialistas, ao mesmo tempo em que a crise enxugava postos de trabalho crescia o número de pessoas à procura de uma vaga (engrossando a Populaçao Economicamente Ativa) - um choque que só fez aumentar as filas de emprego.

Diante desse quadro, Shyrlene Ramos de Souza, responsável pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, acha que o primeiro trimestre pode registrar taxa histórica de desemprego. "Se chegamos a novembro (7,04%), quando o desemprego sempre diminui, no mesmo patamar do pior mês, janeiro (7,25%), é sinal de que a situaçao está crítica e a taxa pode dar novamente um salto na passagem de ano. De 97 para 98, o desemprego cresceu 50% em um mês."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;