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São Caetano atinge o topo em uma década
Por Divanei Guazelli e Edélcio Cândido
Do Diário do Grande ABC
19/01/2001 | 00:20
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O futebol profissional do Grande ABC entra para a galeria da história do esporte regional “como o antes e o depois” da Associação Desportiva São Caetano, que nesta quinta-feira terminou a Copa João Havelange como vice-campeã. Nascido de uma fusão com o Jabaquara, da 1ªDivisão, o clube surgiu com o estigma de vencedor – no dia 4 de dezembro de 1989. De uma primeira assembléia com 177 representantes, a maioria de equipes amadoras, o São Caetano ganhou projeção e o simpático batismo de um pássaro, o Azulão, saudável e atrevido – sem medo de alçar vôos em busca de conquistas e reconhecimento de outras torcidas do Brasil inteiro.

São apenas 11 anos de vida e de conquistas de time grande. A AD São Caetano vem das raízes do futebol amador. Um grupo de esportistas, liderado por Jayme Tortorello, realizou as primeiras assembléias. A partir daí surgiu a AD que, 11 anos mais tarde, antes da virada do milênio, saltou da várzea para além de seus limites: a Libertadores da América.

Em pouco mais de uma década, notabilizou-se pela magia de seu futebol infernal, fluente e agressivo, sempre com muitos gols. Deixou lições pelos estádios do país e calou torcidas no Parque Antártica, Maracanã e Olímpico. Nos momentos mais difíceis, o técnico Jair Picerni, 55 anos, chegou ao clube para dar novo perfil ofensivo que calou torcidas maiores.

O Azulão ganhou simpatia e atingiu a glória nesta virada de milênio. Fez de Adhemar, 28 anos, vendido ao Stuttgart, da Alemanha, o artilheiro da Copa João Havelange. Fez de César, um ex-detento, um dos maiores laterais do país. Fez de Claudecir, 26 anos, agora no Palmeiras, um volante de arrancar elogios até do técnico Emerson Leão, da Seleção Brasileira. A marca registrada do clube, novo integrante do grupo de elite regional do Brasil, tem sido a contratação de jogadores consagrados e ascensões meteóricas. Assim, se o artilheiro Túlio foi na Série A-2, com 19 gols, o jogador que simbolizou o grupo, o primeiro acesso, em 1990, foi marcado pela presença do ex-zagueiro e selecionável Luiz Pereira, e de uma das primeiras revelações do São Caetano, o meia Paulinho Kobayashi.

Mais alegrias – Os dois acessos seguintes, em 1991 e 1992, tiveram, além de Luiz Pereira, o lateral-esquerdo Wladimir e o atacante Agnaldo (no primeiro) a irreverência e os gols de Serginho Chulapa. Em 1998, na subida para o Grupo A-2 paulista e para a Série C do Campeonato Brasileiro, os principais jogadores não eram tão famosos. O São Caetano herdou o futebol profissional na cidade do Saad, clube fundado pelo empresário Felício Saad e que levava o nome de sua família e de sua empresa.

Em 1973, a equipe conquistou uma competição chamada Torneio dos Dez e que valeu o acesso, mesmo que de forma precária, para a então Primeira Divisão. O acesso, da forma como é conhecido desde o final dos anos 40, estava suspenso desde 1972 e só retornaria em 1976. Nas duas temporadas em que disputou a divisão principal, o Saad ganhou até do Santos com Pelé, na Vila Belmiro, do São Paulo, no Morumbi, e empatou com o Palmeiras, que teve seis jogadores convocados para a Seleção Brasileira de 1974, no Parque Antártica. Mas no final de 1975, com a mudança na presidência da Federação Paulista de Futebol – o empresário Alfredo Metidieri, apoiado pelos pequenos, foi eleito – o Saad foi afastado do campeonato e voltou a disputar o acesso, da qual não conseguiu sair até acabar com o futebol profissional, no início dos anos 90.

Sem o Saad, surgiu a Associação Desportiva São Caetano, fundada em 4 de dezembro de 1989. Já no primeiro ano, na quarta divisão do futebol paulista, onde se encontram atualmente Palestra e Grêmio Mauaense, o São Caetano foi um dos destaques e alcançou o acesso.

Em 1991, na terceira divisão, o São Caetano teve como adversários times acostumados às disputas do acesso e, na ocasião, em fase favorável, casos do União Suzano e do Oeste, de Itápolis. O time da região foi para a final, garantiu o acesso e, além da subida, tornou-se campeão ao empatar em Rio Claro, com o Velo Clube, que também garantiu vaga. Na temporada seguinte, o São Caetano pegava, na Divisão Intermediária, times ainda mais qualificados, como Nacional, São Bento, Taubaté e Taquaritinga, todos com passagens pela divisão principal.

Outra vez, no entanto, a equipe do Grande ABC contava com elenco poderoso e embora tenha utilizado vários treinadores, conseguiu a classificação para o quadrangular final com São Bento, Taubaté e Taquaritinga. Atuavam, entre outros, Serginho Chulapa, o lateral-esquerdo Aírton e o quarto-zagueiro Carlão, ex-Palmeiras. Na rodada de encerramento, o São Caetano esteve a ponto de ficar sem o acesso. O Taquaritinga vencia por 2 a 0 no Anacleto Campanella, mas o São Caetano chegou à igualdade e pôde fazer a festa.

No entanto, em 1993, o time não conseguiu classificação entre os quatro primeiros colocados da então Série Amarela, aqueles que estariam garantidos no Paulistão de 1994. Outra mudança foi feita pela Federação. Em 1995 e 1996, a equipe viveu um período negativo. Depois de cair para o A-3 em 1994, nas duas temporadas seguintes, em 1995 e 1996, correu o risco de nova queda para o B-1.

Nova Era – Mas no final de 1996, começou o processo que mudaria de vez a vida do clube. O futebol do São Caetano foi assumido pela empresa Datha Representações, do dirigente José Carlos Molina, ex-goleiro no amadorismo e profissionalismo do Grande ABC. Era o começo da formação da base para a A-3 em 1997, com a finalidade de voltar ao A-2. Na temporada inicial de trabalho da empresa, o propósito esteve perto de ser alcançado, já que o São Caetano se classificou para a fase decisiva, mas perdeu o acesso para Mirassol e União Barbarense.

Em agosto do mesmo ano, com o encerramento do A-3, o clube começou a montar a nova equipe, a seis meses do começo do novo campeonato. O técnico Luiz Carlos Ferreira, um especialista em acesso, entre os quais o da Matonense para o A-1, em 1997, chegava para comandar o São Caetano.

Com a preparação feita com antecedência, o que não ocorre na maioria dos times, o São Caetano iniciou a montagem de uma base, parte dela mantida até hoje, com jogadores como o goleiro Sílvio Luiz e os zagueiros Daniel e Dininho. Assim, nos novos tempos, já em agosto de 1998, o torcedor do Azulão comemorava o primeiro acesso, do A-3 para o A-2 paulista. O grupo continuou na Série C do Brasileiro e, de novo, outra subida, desta vez para a Série B nacional, ao lado do Avaí, de Santa Catarina.

Quase lá – Depois do início instável em 1999, com a mudança de técnico – Vica por Luiz Carlos Martins –, o São Caetano ficou próximo de superar a façanha do começo da década, a dos três primeiros acessos consecutivos. Mas o sonho de subir esbarrou numa derrota por 1 a 0 para o rival Santo André, na última rodada do campeonato. O Santo André, então, poderia ter subido, mas a vaga ficou para o América de São José do Rio Preto, que conquistou-a ao empatar com o Botafogo. Na Série B do Brasileiro, o time foi o melhor em toda a fase classificatória, porém foi eliminado na semifinal pelo Santa Cruz, que subiu com o Goiás.

Mas o ano vitorioso de 2000 estava no caminho do Azulão. Com o experiente técnico Jair Picerni, vieram a conquista do título da Série A-2 paulista e a invejável performance na campanha do vice-campeonato da Copa João Havelange, resultados fantásticos e grandes destaques como César, Claudecir, Esquerdinha, Serginho, Adãozinho e o goleador maior, Adhemar. O conjunto de virtudes permitiu, enfim, que o jovem São Caetano fizesse história no futebol brasileiro.

Futuro – Se consolidou espaço no cenário nacional, o São Caetano, ao mesmo tempo, vive a expectativa de um futuro essencialmente favorável. Mesmo com as negociações de Claudecir e de Adhemar, além da possibilidade de o lateral-esquerdo César, hoje considerado o melhor da posição no Brasil, deixar o clube, as reposições têm sido criteriosas e com manutenção de qualidade. O volante Simão, o meia Marlon e os atacantes Magrão e Sinval já foram contratados para que a consistência que encantou os brasileiros em menos dois meses seja mantida. Outros reforços devem vir nos próximos dias.

Afinal, o São Caetano deixou de ser um coadjuvante de competições para se tornar concorrente a títulos. A nova demonstração de força poderá ser dada a partir de domingo em Matão, contra a Matonense, na abertura do Campeonato Paulista.




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