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Etna, o verdadeiro chefão
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
29/07/2010 | 07:07
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Ele sim é o verdadeiro chefão da Sicília. Admirado por alguns e temido por muitos, quando resolve meter fogo, não há quem sobreviva para contar a história... Al Capone? Que nada! O nome dele é bem menos viril e muito mais assustador. Trata-se do Etna, o maior vulcão da Europa (com 3.323 metros) e único realmente capaz de riscar cidades inteiras do mapa em poucos instantes. Enquanto os mafiosos mantêm aquele charuto no canto boca, o Etna passa dia e noite a fumegar para deixar claro de que está na ativa e pode, a qualquer momento, fazer todos literalmente queimarem o chão. Ao mesmo tempo em que submete a população ao sabor de seus mandos e desmandos, no entanto, o vulcão também a fascina com sua imponência, que pode ser facilmente contemplada a centenas de quilômetros de distância, a partir de alguma das 30 cidades erguidas ao seu redor.

Desde 1979, quando o Etna resolveu lançar pelos ares enormes pedaços de lava de até uma tonelada e quase 1.000ºC de temperatura, matando nove pessoas e ferindo outras 23, o parque passou a proibir o acesso de turistas além dos 2.900 metros - nessa altitude, os visitantes têm tempo suficiente para abandonar a área de risco caso ocorra uma erupção.

Afinal, nunca se sabe quando será a próxima cuspida de fogo do Etna. No passado, ele aprontou poucas e boas: só na era cristã, entrou em erupção mais de 130 vezes e soterrou cidades inteiras. Entre elas a popular Catânia, a 40 quilômetros, que em 1699 teve suas construções medievais totalmente destruídas e, hoje, contenta-se em exibir templos barrocos erguidos após sua reconstrução.

Linguaglossa - assim nomeada depois de ter sido atingida pelas enormes línguas de lava incandescente em 1634 - é outro exemplo do poder de fogo desse poderoso chefão da crosta.

Tragédias à parte, quem vive ou cultiva plantações aos pés do Etna não parece se abalar pelos dramas da história. O convívio é tão harmônico que muitas famílias chegam a estender suas toalhas sobre as lavas secas do vulcão para um divertido piquenique aos fins de semana - as mesmas lavas que serviram para revestir casas, calçadas e até para a confecção do enorme elefante que enfeita a Piazza del Duomo, na Catânia, simbolizando a cidade.

Outros, por sua vez, preferem os ares gelados de Linguaglossa para praticar o esqui durante o inverno. Gelados? É isso mesmo. Enquanto no interior do vulcão pulsam toneladas de magma tão quentes que derreteriam até os próprios termômetros, do lado de fora do seu cume o que se vê são encostas nevadas e frio capaz de fazer qualquer um pensar na tentadora hipótese de mergulhar nas labaredas...

Pensando bem, essa experiência não seria nada agradável. O jeito é contentar-se com alguns goles do chamado fuoco dell'Etna - drinque cujo teor alcoólico não deixa nada a perder para as lavas - e descer à base o quanto antes.

Terremoto - Parece que os deuses do Olimpo estavam mesmo dispostos a testar seus poderes sobre as forças da natureza quando aportaram na Sicília. Além das erupções do vulcão Etna, de tempos em tempos alguma divindade fica furiosa e faz o chão tremer na ilha. A última grande catástrofe aconteceu em 1908, quando um terremoto destruiu Messina e matou mais de 60 mil pessoas.

Hoje, porém, a tremedeira mais freqüente é a das pernas dos turistas pisando nas lavas do soberano Etna. Tremor tão incontrolável quanto o próprio humor das forças naturais.




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