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Quanto vale formar um campeão olímpico?

A Olimpíada do Rio de Janeiro foi sucesso de crítica e público. A última atualização do comitê organizador aponta gastos de R$ 38,258 bilhões, sendo 43% de dinheiro público (R$ 16,426 bilhões) e 57% privados (R$ 21,831 bilhões)

Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
25/08/2016 | 07:00
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A Olimpíada do Rio de Janeiro foi sucesso de crítica e público. A última atualização do comitê organizador aponta gastos de R$ 38,258 bilhões, sendo 43% de dinheiro público (R$ 16,426 bilhões) e 57% privados (R$ 21,831 bilhões).

Estudo de economistas norte-americanos do College of the Holy Cross, de Worcester, mostra que nos últimos 30 anos não houve legado econômico para as cidades-sede. Os especialistas constatam ainda que “o custo-benefício é pior para cidades em países em desenvolvimento”, caso do Brasil. Os principais fatores são os custos elevados para as instalações esportivas, os pagamentos que precisam ser feitos ao COI (Comitê Olímpico Internacional), administração de má qualidade, corrupção e as expectativas “irreais” de ganhos futuros.

Mas e nas quadras, pistas, piscinas, ginásios e campos? Os atletas brasileiros conquistaram 19 medalhas (sete de ouro, seis de prata e seis de bronze). O País ficou na 13ª colocação geral e não atingiu a meta do COB (Comitê Olímpico do Brasil), de fechar os Jogos entre os dez primeiros. Foram muitas histórias de superação, milhares de famílias empolgadas com os esportes e inúmeras crianças se interessando por atividade física. Muito bom! Talvez esteja aí o legado.

O poder público está preparado para dar continuidade a esse despertar olímpico? Está interessado em investir em Esporte? Analisemos os números deste ano (veja tabela abaixo). No Grande ABC, as sete prefeituras juntas esperam arrecadar R$ 12,693 bilhões em 2016. Estão separados para as o desenvolvimento do setor R$ 148,979 milhões. É ínfimo 1,17% do total. Ou R$ 55 por ano, por habitante da região. Ou ainda R$ 4,60 por mês para cada morador local. Uma vergonha! O Estado separou 0,10% do Orçamento e o governo federal, 0,05%. Muito pouco para uma Nação como o Brasil, que gosta de Esporte e reverencia seus ídolos.

Isso porque ingressamos no chamado ‘projeto olímpico’ ainda em 2007, quando sediamos os Jogos Pan-Americanos. Em 2009, fomos escolhidos como sede da Olimpíada. Na época do Pan, a nadadora norte-americana Katie Ledecky tinha 10 anos. No Rio, aos 19 anos, ganhou quatro ouros e uma prata, enquanto toda a delegação do Brasil não conquistou uma medalha sequer na modalidade. Tivemos os mesmos nove anos de preparação. Os Estados Unidos formaram uma multicampeã. Já nós... E terra do Tio San sequer possui um Ministério dos Esportes.

O investimento no projeto olímpico deles foi de R$ 600 milhões. Isso mesmo, caro leitor, nem metade do R$ 1,573 bilhão que o governo federal separou para a Pasta do desporto neste ano. Num País de 207 milhões de pessoas ainda temos de contratar técnicos estrangeiros para esportes tradicionais, como handebol e basquete. Essa diferença entre nós e eles ocorre porque os norte-americanos aplicam a verba na lapidação dos talentos. O trabalho de formação, de base, é feito nas escolas e universidades, onde são investidos bilhões de dólares. Muitos estudantes vão se espelhar e se inspirar em Katie Ledecky e, assim, girar o ciclo virtuoso de medalhistas olímpicos da piscinas. Da quantidade se faz a qualidade. Se não forem formados atletas, saem das instituições cidadãos de bem, preparados para ajudar no desenvolvimento de uma sociedade já estruturada.

E no Brasil? Bom, por aqui as confederações que recebem os recursos para incentivar as modalidades são alvo de investigação. As de Tiro e Taekwondo receberam ontem agentes da Polícia Federal em operação de busca e apreensão de provas de desvios. Sem legado econômico, está difícil enxergar legado esportivo da Olimpíada do Rio, por mais otimistas que sejamos. 




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