Mas isso terminou: pela primeira vez, um empresário de peso pregou o fim da paridade. É o insider Roberto Rocca, presidente do poderoso Grupo Techint, que categorizou: "a paridade um a um nao é para sempre".
A afirmaçao, realizada em Córdoba, durante o encontro anual da Uniao Industrial Argentina (UIA) causou o maior reboliço do ano dentro do setor econômico. Rocca está respaldado pelo faturamento de US$ 4,5 bilhoes de suas empresas que possuem 30 mil empregados.
Rocca afirmou que "desvalorizar é um problema psicológico", mas que "todos percebem que o tipo de câmbio fixo é um problema. A Argentina nao possui uma economia como a de Hong Kong, que faz intermediaçao de serviços financeiros e comerciais". No entanto, ressaltou que "este nao é o momento para mudar o tipo de câmbio". E sustentou que isso deverá ser feito pelo próximo governo, "assim que estiver consolidado", para só entao "anunciar um regime de flutuaçao cambial".
Rocca citou o Brasil como modelo de desvalorizaçao: "eles nao tiveram este problema psicológico da Argentina, que em algum momento será superado". Ele criticou os candidatos presidenciais, que afirma, agem com a máxima "quieta non movere" (em latim, "o que está quieto, melhor nao movê-lo").
Imediatamente às declaraçoes de Rocca, o candidato do governo à presidência do país, Eduardo Duhalde, afirmou que a desvalorizaçao seria trágica, já que "milhoes de pessoas estao endividadas em dólares". Segundo Duhalde, "existem setores que poderiam estar interessados em uma desvalorizaçao". Mais de 80% dos argentinos que possuem hipotecas, créditos e aluguéis, está endividada em dólares.
O vice-presidente da Uniao Industrial Argentina (UIA), Alberto Alvarez Gaiani, concordou com Duhalde: "é impossível sair da conversibilidade".
O presidente da FIAT argentina, Vicenzo Barello, também foi contra: "com a desvalorizaçao nao se ganha nada. As empresas e o Estado estao endividados em dólares e o prejuízo seria descomunal". Barello também citou o fator psicológico, presente nos argentinos pela lembrança da hiper-inflaçao: "uma desvalorizaçao teria um impacto imediato sobre os preços".
"Temos que abandonar a paridade" afirmou sozinho durante os últimos oito anos o economista Eduardo Curia. Chamado de louco ou visionário (seus rivais costumam aplicar o primeiro adjetivo) o ex-vice-ministro da Economia do primeiro ano do governo Menem defende a idéia de que a paridade foi um erro desde o começo. Até as declaraçoes de Rooca, era um solitário outsider, e o único economista de renome que ousava tocar no tema. Curia disse ao Estado que partilha plenamente de seu enfoque, mas discorda sobre os prazos: "o fim da paridade tem que ser agora.
Temos que deixar de fazer corpo mole, e devemos sem perder mais tempo, pegar o touro pelos chifres".
Segundo Curia, o próximo governo teria que começar com a paridade terminada. "Tem que haver uma saída ordenada antes que a conjuntura provoque uma saída descalabrada. Coitado do governo que vier, se nao terminar com a paridade, e ficar colocando remendos. Esses consertos improvisados serao uma salada indigesta".
O economista considera que o impacto do fim da paridade no Brasil "seria que a Argentina conseguiria de novo competitividade relativa. Mas pelo menos haveria uma sinceridade entre os dois países, para realizar uma convergência macroeconômica".
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.