Economia Titulo Inflação
Etanol dispara e chega a R$ 2,89 nas bombas

Oferta reduzida e aumento na demanda provocaram
a subida no preço do combustível no Grande ABC

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
14/11/2015 | 07:00
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Anderson Silva/DGABC


O preço do etanol nos postos da região disparou novamente e chegou nesta semana a R$ 2,89 o litro. É o mais alto valor cobrado em novembro pelo combustível desde 2001, quando a ANP (Agência Nacional do Petróleo) iniciou a divulgação de pesquisa semanal sobre os preços praticados nos maiores municípios do País.

A equipe do Diário percorreu diversos postos da região durante a semana e constatou que a rede BR Distribuidora é a que está vendendo o etanol mais caro. Em Diadema, revendedor localizado no km 15 da Rodovia dos Imigrantes comercializava o litro do combustível derivado da cana-de-açúcar a R$ 2,89. No bairro Oswaldo Cruz, em São Caetano, a mesma quantidade saía por R$ 2,79.

Na média, o etanol no Grande ABC foi vendido durante a semana a R$ 2,55 – R$ 0,28 a mais que 15 dias atrás (R$ 2,27), e R$ 0,59 superior ao fim de setembro (R$ 1,96). A gasolina estava em torno de R$ 3,45 – R$ 0,18 maior que no início do mês. Em todos os postos pesquisados, o combustível derivado do petróleo era mais vantajoso para o motorista. Isso porque o álcool tem rendimento 70% menor do que a gasolina. Para saber qual tipo apresenta melhor relação custo x benefício, é preciso dividir o preço do etanol pelo da gasolina. Se o resultado for superior a 0,7%, é mais viável optar pela gasolina.

O custo do etanol vem subindo desde agosto, mas as elevações mais acentuadas ocorreram em outubro. O consultor Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência (Agência de Fomento de Energia de Biomassa) explica que essa subida está diretamente ligada ao reajuste de 6% na gasolina, anunciado no fim de setembro pelo governo. “Quando houve esse aumento, os consumidores passaram a dar preferência ao etanol. E, quanto maior a demanda e menor a oferta, mais alto é o preço”, comenta.

Rodrigues cita que a disponibilidade da cana-de-açúcar para produção de álcool é menor do que a procura. “Desde abril, quando teve início a safra da cana, o preço do etanol estava em 62% em relação ao da gasolina em São Paulo. Na mesma época, teve o aumento da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico), o que elevou o preço da gasolina. Isso trouxe uma demanda muito forte de etanol. E a safra é limitada, ou seja, não dá para aumentá-la em um curto espaço de tempo.”

Ele acrescenta que a safra atual da cana foi plantada há um ano, quando o mercado de álcool não era tão competitivo para os produtores. Sendo assim, o plantio foi menor do que seria em épocas favoráveis para o setor sucroalcooleiro.

Para 2016, o consultor não espera que os preços sejam menores do que os atuais na entressafra, já que o plantio da safra foi feito neste ano, quando os empresários do segmento não estavam animados. A oferta só deve aumentar em 2017.


Álcool ficou 156,4% mais caro entre 2001 e 2015

Entre 2001 e 2015, o preço do etanol no Grande ABC teve elevação de 156,4%, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo). O aumento está oito pontos percentuais acima da inflação do período, de 148,4% segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Na mesma base de comparação temporal, a gasolina subiu 93,5% nos postos da região.

O consultor Tarcilo Rodrigues, da Bioagência (Agência de Fomento de Energia de Biomassa) afirma que a subida da gasolina em ritmo inferior ao do etanol tem a ver com a política de represamento de preços adotada pelo governo da presidente Dilma Rousseff (PT) que, em 2012, zerou a Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) desse combustível com objetivo de segurar aumentos e, assim, evitar a aceleração da inflação. “Se essa medida não tivesse sido adotada, era para o litro da gasolina estar pelo menos R$ 0,28 mais caro”, comenta. Ele acrescenta que, para segurar os aumentos com o intuito de não perder tanto a competitividade em relação ao petróleo, diversas usinas quebraram no Brasil.

O presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Grande ABC), Wagner de Souza, sugere a criação de estoque regulador de etanol, que, segundo ele, seria capaz de manter os preços em períodos de entressafra. Rodrigues, entretanto, questiona: “De onde viria o recurso? A usina tem de produzir e vender. Hoje, se tem seis meses de produção e 12 para comercializar, ou seja, tem que carregar isso para a entressafra toda. Essa não é uma obrigação do produtor, mas do governo.” Souza também aponta que, com a alta do dólar, os usineiros preferem apostar no açúcar, que tem 2/3 de sua produção exportada, do que no etanol, o que reduz mais a oferta.   




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