Sem apoio da Prefeitura e motivadas pelo alto custo do aluguel, que gira em torno de R$ 600 para moradias de dois cômodos, famílias de Diadema abandonaram a cidade e, em São Paulo, se arriscam em ocupação no morro dos Macacos, extremo Sul da Capital, para ter garantia de teto. Apesar de o local ter sofrido em 2012 deslizamento de terra que deixou dois mortos e 11 soterrados, ex-moradores do município do Grande ABC alegam que a área foi a única saída encontrada após as famílias carentes não receberem suporte do prefeito Lauro Michels (PV).

“Ninguém deseja morar nessas condições. Infelizmente, muitos não tinham como pagar o valor alto do aluguel em Diadema e, sem retorno da Prefeitura, que não ofereceu programas sociais, morar aqui foi a solução”, desabafou o ajudante geral Alessandro Vieira Santos da Silva, 32 anos, um dos mais engajados no assentamento para ajudar outras famílias que buscam abrigo na área irregular.

Assim como Silva, a porteira Aline Magno Sales, 28, também encontrou no morro dos Macacos a única alternativa de moradia. Há sete meses, junto com marido e três filhas, a jovem abandonou a casa, onde pagava aluguel de R$ 500 no Jardim Gazuza, em Diadema, e se mudou para a área de risco. “Não tínhamos outra solução. Meu marido perdeu o emprego e estávamos sem dinheiro para custear a residência. Aproveitamos a primeira parcela do seguro-desemprego e compramos os materiais para construir o barraco”, relata a moradora, que desabafa sobre o sofrimento. “Ninguém deseja viver nessas condições. Estamos completamente esquecidos. Pode estar frio, caindo chuva, a Prefeitura não aparece de jeito nenhum.”

Ao todo, aproximadamente 500 pessoas vivem na área. Entre elas está a ajudante de cozinha Rosângela Leite dos Santos, 54. Em seu barraco de dois cômodos moram, ao todo, oito famílias. “Aqui é como colo de mãe, sempre cabe mais um”, afirma a senhora, que retrata a rotina de cada morador da casa improvisada. “Na hora de dormir, cada família tem o espaço de uma cama de casal, que às vezes chega a abrigar quatro pessoas. Hoje vivemos melhor por conta das doações que conseguimos ao longo do tempo, mas não está fácil. Já tentei procurar o Lauro (Michels), mas ele só virá aqui ano que vem, quando terá eleição.”

Conforme relatos dos moradores, técnicos da prefeitura paulistana já estiveram no local, mas não apareceram mais depois de constatar que as famílias são da cidade vizinha.

ORGANIZAÇÃO

Sem respaldo da administração municipal de Diadema e da Capital, moradores do morro dos Macacos realizaram na sexta-feira a primeira reunião da comunidade em busca de melhorias para o terreno. De acordo com líderes do grupo, o encontro teve como foco a organização de mutirão para melhorar a conservação do local. “Hoje existem alguns pontos que estão necessitando de limpeza. Por isso, decidimos nos unir para padronizar nosso esgoto e tirar alguns materiais que estão espalhados pelas vias. Além disso, precisamos nos prevenir contra a dengue, já que não recebemos nenhum profissional da Prefeitura para verificar possíveis focos (do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença)”, relatou Silva.

Com alto número de crianças na região, os cuidados com locais que tenham água parada precisam ser redobrados. “Aqui já teve diversos casos de diarreia. Por isso, precisamos fazer essas mobilizações para não termos problemas futuros”, comenta a desempregada Genilda Rodrigues de Oliveira, 54. Procuradas, as prefeituras de Diadema e da Capital não se manifestaram até o fechamento desta edição.