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Temperatura na região deve subir até 10ºC em 100 anos
Por Bruno Ribeiro
Vanessa Selicani
Especial para o Diário
11/02/2007 | 21:34
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Em 100 anos, a temperatura média do Grande ABC deve ficar de 6 graus Celsius a 10 graus Celsius mais quente. A elevação vale para toda a Região Metropolitana de São Paulo e é classificada como alarmante por especialistas, que prevêem aumento médio de apenas 4ºC na temperatura mundial neste mesmo período. A explicação para elevação, segundo eles, é o aumento da frota de veículos e desmatamento sem compensação ambiental, principalmente.

A região vem registrando aumentos gradativos de temperatura na última década e sofrendo com secas prolongadas e tempestades mais fortes do que registrado em décadas passadas.

A previsão é que as estações do ano fiquem mais parecidas umas das outras; a qualidade do ar, que hoje vem sendo classificada como regular, deve piorar; as chuvas serão mais violentas e as enchentes mais constantes. Todos esses fenômenos já têm sido registrados pelos institutos de meteorologia, sempre em pequena escala e gradativamente. A responsabilidade por essa mudança é o CO² (dióxido de carbono) lançado no ar durante a queima de combustíveis dos veículos.

Na semana passada, o ICCP (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática) divulgou em Paris, na França, estudo realizado por 350 cientistas do mundo todo informando que o efeito estufa é um fenômeno concreto, causado pelo homem e, muito provavelmente, irreversível. De acordo com o estudo, não importa o que nossa civilização faça, o aumento da temperatura deve continuar pelas próximas décadas, causando mudanças climáticas por todo o globo. O estudo avaliou que, em 100 anos, a temperatura média do planeta deve subir entre 1,8ºC e 6ºC. A média de aumento deve ficar entre 4ºC.

“Esse relatório é uma tendência global. Em cada região do planeta, a temperatura pode ser diferente. Subir em uma área, manter-se em outra, até cair, dependendo do lugar. O relatório fala da média para o mundo todo”. explica a meteorologista Luciele Dias, do Inmet. A meteorologista afirma que ainda não há estudo tão profundo quanto o divulgado em Paris, tratando especificamente sobre a Grande São Paulo. “Por aqui, temos observado que nos últimos dois anos houve aumento de dois graus na temperatura média. São dois graus em dois anos”, alerta a meteorologista.

Isso não significa que a cada dois anos a região ficará dois graus mais quente. “Mas se continuarmos com a queima de combustíveis, o desmatamento e a urbanização nos mesmos níveis, a tendência é que a Região Metropolitana e o Grande ABC tenham aumento bem maior que os 4ºC previstos no ICCP. Pode chegar na casa dos 6ºC, até 10ºC”, diz

o médico pesquisador do laboratório de poluição da USP (Universidade de São Paulo), Paulo Saudiva, explica que o aumento da temperatura não significa uma maior concentração de gases poluentes na atmosfera. Os gases ficam acumulados porque são constantemente emitidos.

Principalmente por carros, grande vilão na emissão de CO². “O aumento anual da frota de carros na Região Metropolitana de São Paulo equivale à construção de três usinas termoelétricas (que obtêm energia por meio da queima de óleo diesel) por ano.” Em 100 anos, seria como se respirássemos ar ao lado de 300 usinas termoelétricas, se mantida a média de aumento da frota de carros.

Segundo o Inmet, o efeito imediato notado pelo aumento na temperatura da Grande São Paulo será a seca. “Quando se aquece muito uma região como a Grande São Paulo, observamos que as frentes frias têm dificuldades para entrar. Então, diminuem-se as chuvas. Se as frentes frias conseguem entrar, a umidade provoca precipitação muito forte. São dois extremos: ar seco e temperaturas muito altas ou chuvas torrenciais. O problema são esses extremos”, explica Luciele. Uma região como o Grande ABC fica prejudicada com as duas situações. Ar seco e quente aumenta, por exemplo, as doenças respiratórias. Chuvas fortes e rápidas causam enchentes.

Outra conseqüência será no bolso do cidadão. O interior do Estado também sofrerá com climas extremos. “As sementes não se adaptam facilmente a essas mudanças. As chuvas fortes destruirão plantações e a irrigação se prejudicará com a seca”, de acordo com o Inmet. A previsão é que o preço dos alimentos suba.

Como a elevação da temperatura é causada por poluentes ao redor do mundo todo, o único item desse futuro negro que pode sofrer alteração é a qualidade do ar. A poluição é favorecida, mas não é determinada pelo calor, segundo o médico Paulo Saudiva. Para tornar o ar menos sufocante, a solução é diminuir a emissão de CO² e plantar mais árvores. A vegetação retira o gás da atmosfera e devolve oxigênio enquanto faz a fotossíntese.



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