Política Titulo Política na região
Articuladores fracassam em tornar diálogo eficaz

Homens-fortes dos quatro prefeitos eleitos estão longe de conseguir êxito na interface com legislativos

Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
05/07/2009 | 07:30
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Os quatro prefeitos eleitos em outubro no Grande ABC não conseguiram acertar na escolha dos articuladores. Os indicados para desempenhar o papel de homens-fortes dos governos têm deixado a desejar e ainda não mostraram a capacidade de tornar eficaz o diálogo entre os poderes. Em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá, é unânime que os articuladores não conquistaram as câmaras, o que tem emperrado a pauta de votações e impedido a aprovação de projetos do Executivo.

A possível justificativa de inexperiência no cargo aliada ao fato de os escolhidos serem homens ligados aos partidos é apenas um dos problemas que tem dificultado a vida dos chefes do Executivo.

Para o cientista político Rui Tavares Maluf os homens-fortes são mais do que simples "escudos" dos prefeitos. "Há uma certa complexidade nesta relação. Se o prefeito quiser cuidar da articulação, a energia será drenada e ele perde coisas importantes, ele não pode focar no operacional. Mas é claro que ele precisa ter confiança no interlocutor político e tem de fazer uma escolha criteriosa, senão ele terá problemas."

Mauá - Em Mauá, a escolha do secretário de governo José Luiz Cassimiro era óbvia. Além de militar ao lado do atual prefeito desde que ingressou nas fileiras petistas, Cassimiro foi secretário de Oswaldo Dias (PT) em todos os mandatos.

Durante a transição de governo era Cassimiro quem participava das reuniões e guardava os números de saldos e dívidas que seriam assumidas pela administração. "Temos homens e mulheres fortes no governo. Cada um tem sua tarefa e ajudo a articular", avalia Cassimiro, que nega ser o preferido de Oswaldo. Mas nem mesmo o discurso e a escolha cravada do prefeito ajudaram o ex-vereador - que perdeu a eleição por apenas um voto - a conquistar a confiança da Câmara. A falta de diálogo fez com que até mesmo os vereadores da situação reclamassem de sua postura.

O presidente da Câmara, Rogério Santana (PT), justifica que a Casa encontrou um caminho diferente para resolver o impasse. "O líder da situação (Rômulo Fernandes-PT) tem defendido a função, quando a ação do articulador se torna mais complicada." Apesar do mal-estar, Oswaldo não deve nomear outra pessoa para a função.

Reeleitos têm boa relação com câmaras

Longe das complicações enfrentadas na troca de gestão, os três prefeitos reeleitos da região têm convivência tranquila com os Legislativos.

Sem usar articuladores, Clóvis Volpi (PV-Ribeirão Pires) e Adler Kiko Teixeira (PSDB-Rio Grande da Serra) justificam que não há segredos para a boa relação. "O mais importante é existir respeito entre Legislativo e o Executivo. Às vezes uma decisão extemporânea, uma explanação mal-feita, traz riscos. Para isso, eu tenho a liderança que faz um bom trabalho", avalia Volpi.

Kiko reitera o discurso. "O vereador foi escolhido pela cidade, independente do partido que ocupa, procuro respeitar as reivindicações pertinentes. Eles têm segurança de saber que só assumo compromissos possíveis. Com isso, temos conseguido manter o respeito e a sinceridade."

São Caetano - Em São Caetano, o secretário de Governo, Tite Campanella, é o melhor exemplo de boa articulação. Mesmo sem aparecer na Câmara, os parlamentares elogiam o trabalho do homem-forte da gestão do prefeito José Auricchio Júnior (PTB). O fato de ele já ter sido vereador é considerado um fator positivo na Casa.

Mesmo assim, em uma das poucas discussões acirradas na Câmara, sua ausência causou irritação nos vereadores.

O mal-estar ocorreu em sessão extraordinária para votação do projeto de lei que alterou a LOM (Lei Orgânica do Município) para postergar o prazo de envio da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e do PPA (Plano Plurianual) pelo prefeito - passando de 15 de abril para 31 de agosto -, na qual faltaram explicações. (Colaborou Cristiane Bomfim)

Em Diadema, ex-vereador foi o escolhido

Em Diadema, o escolhido do prefeito Mário Reali (PT) para fazer a ponte entre o Executivo e o Legislativo foi o advogado João Pedro Merenda, que disputou o último pleito pelo PV e não foi eleito para assumir seu quarto mandato no Legislativo.

Na Prefeitura, o verde assumiu o posto como assessor de Relações Institucionais, cargo diretamente ligado ao gabinete do prefeito petista. Mas, na prática, é quem defende os projetos do Executivo na Câmara.

Procurado na sexta-feira, Merenda garantiu retornar a ligação, o que não ocorreu. Vários recados também foram deixados em seu celular, mas não houve retorno.

A Prefeitura foi comunicada sobre o pedido de entrevista com o articulador do prefeito, mas também não deu retorno à população.

O presidente da Câmara, Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT), avaliou como "bom" o trabalho realizado pelo ex-colega de Câmara. O petista acredita que Merenda, marinheiro de primeira viagem na função, ainda vai deslanchar.

E um desempenho eficaz pode implicar em bons frutos. Como foi o caso do advogado Airton Germano, que exerceu a mesma função no último mandato do governo de José de Filippi Júnior (PT).

"O Germano foi extremamente participativo e buscava soluções", disse Maninho, referindo-se ao atual secretário de Assuntos Jurídicos na administração Reali.

Líder do Governo no Legislativo, Laércio Soares (PCdoB), que também estreia na função como representante do chefe do Executivo, após quebrar a hegemonia petista, avaliou como relativo o resultado alcançado pelo ex-vereador. "A autonomia não é total", explicou.

Nesse caso, a figura do chefe de Gabinete, Antonio Fidelis, também presidente do PT municipal, acaba sendo preponderantes em algumas decisões.

Sem falar no próprio prefeito, que tem mantido uma relação de mais proximidade com o Legislativo. Dias atrás, organizou um tour de ônibus com os vereadores pelas obras em execução na cidade. (Elaine Granconato)




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