Cultura & Lazer Titulo Cinema Novo
Glauber 70 anos

TV presta homenagem ao cineasta, um dos principais nomes do Cinema Novo, através de documentário

Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
14/03/2009 | 07:00
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Revolucionário, messiânico, eloquente e carismático. Esses e outros tantos adjetivos já foram utilizados para descrever a personalidade exuberante de Glauber Rocha (1939-1981), que completaria 70 anos hoje. A extensa série de tributos ao principal ideólogo do Cinema Novo - movimento que redefiniu a linguagem cinematográfica brasileira nos anos 1960 - inclui programas especiais de TV e a estreia, no dia 27, do documentário Anabazys, produzido pela filha do diretor, Paloma Rocha, em parceria com Joel Pizzini. O longa, que atualmente integra a programação do Los Angeles Brazilian Film Festival, nos Estados Unidos, esmiuça o processo de produção de A Idade da Terra (1980), polêmico filme-testamento do legendário cineasta baiano.

Em apenas 42 anos de vida, Glauber (que costumava profetizar a própria morte com essa idade), deixou um legado que reflete os questionamentos de sua geração e permanece relevante após quatro décadas. A inquietação do artista que, segundo o poeta Ferreira Gullar "consumiu-se em seu próprio fogo", começou bem antes da consagração no País e no Exterior.

Ainda criança, o criador de Deus e o Diabo na Terra do Sol, (1964) já dava sinais do vulcão criativo que guardava dentro de si. Enquanto os garotos dedicavam-se às partidas de futebol, escrevia e lia compulsivamente. "Aos 9 anos, escreveu uma peça em espanhol, idioma que aprendeu com os espanhóis que moravam em nossa rua na época. A peça chamava-se O Menino de Ouro. O diretor do Instituto 2 de Julho, onde ele estudava, me chamou e disse: ‘Descobri que a senhora tem um gênio em casa'", relembra dona Lúcia Rocha, mãe do cineasta, que, aos 90 anos, ainda dispõe de forças para coordenar o espaço cultural Tempo Glauber, no Rio, dedicado à preservação da memória do filho.

Em casa, os pendores artísticos não eram incentivados pelo pai. "Meu marido Adamastor era engenheiro e queria que Glauber também fosse. Ele dizia que poesia não se botava à mesa. Meu filho respondia que, se fosse engenheiro, não saberia construir uma ponte. A ponte dele era a cultura."

VISIONÁRIO - Para o diretor de novelas da TV Globo, roteirista e idealizador do Festival de Cinema de Ribeirão Pires, que deverá ser realizado em novembro, Emerson Muzeli, as ideias visionárias do ídolo o diferenciaram de seus contemporâneos. "Era um cara que tinha uma visão de futuro e, em 1977, já falava que o cinema não iria adiante se não interagisse com a televisão. Hoje, você vê a convergência dessas mídias. A Globo e a Record estão cada vez mais investindo em produtos com linguagem cinematográfica", explica Muzeli.

Para os que não conhecem a obra do mito, ele recomenda a obra-prima Terra em Transe (1967), clássico que influenciou o movimento tropicalista com suas metáforas sobre a ditadura militar, a igreja e a identidade nacional. "É um filme fantástico, que questiona valores como poucas produções audiovisuais fazem hoje".

ZOOM - A TV Cultura exibe hoje, às 22h30, uma edição especial do programa Zoom em homenagem ao ícone do Cinema Novo. Além dos depoimentos de colaboradores e familiares, a atração brindará os espectadores com uma raridade: o primeiro curta-metragem de Glauber, Pátio, filme experimental rodado na Bahia em 1959. Até 1º de abril, o Canal Brasil (Net) apresentará especiais e filmes dentro da programação Glauber 70, exibida de segunda a quarta-feira, sempre à meia-noite.




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