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Prazer da leitura é ensinado desde cedo

Alunos da Emeief Profª Evangelina Jordão Luppi aprendem a cuidar e apreciar livros da escola

Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
21/11/2011 | 07:00
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Há cerca de dois anos, as professoras da Emeief Profª. Evangelina Jordão Luppi, no bairro Santa Terezinha, em Santo André, carregavam diariamente pastas onde eram guardados mais de 30 livros infantis. Os títulos circulavam dentro da própria sala de aula. Os alunos os pegavam emprestados em sistema que lembrava uma biblioteca ambulante. Algumas atividades extrassala, como leitura de contos e teatro de fantoches, eram realizadas no pátio da escola.

Assim que a sala três ficou disponível começaram a ocorrer algumas mudanças, que alteraram todo o ambiente escolar. A janela ganhou cortinas em tom azul da cor do céu; nas laterais, estantes beges; ao centro, mesas em formatos de trevos coloridos e cadeiras azuis, amarelas e vermelhas. Ao lado esquerdo de quem entra, dois sofás azuis, com mesinha ao centro, imitam sala de visitas para adultos. Tudo no tamanho pequeno, para acomodar crianças entre 4 e 10 anos. A iluminação foi instalada de forma adequada aos olhos de quem lê. E, para arrematar, os livros. Estava inaugurada a biblioteca da escola. 

LOCAL ADEQUADO

O próximo passo era utilizar o espaço adequadamente. E da vontade surgiu o projeto Transformando a biblioteca num instrumento de prazer. "No começo as crianças chegaram aqui sem foco. Aos poucos fomos ensinando como se sentar, como manusear livro... Isso diminuiu a ansiedade para que pudessem se concentrar", detalha a assistente pedagógica Cynthia Travassos. O local foi apresentado aos pais na primeira reunião do ano, que o observaram como símbolo de qualidade da escola. Todos concordaram em assinar termo de responsabilidade para a devolução do livro, quando emprestados. "Em dois anos de projeto, só houve uma ocorrência de extravio. Tivemos de intervir e a família se responsabilizou", relata a coordenadora do projeto, Rute Nilza.

Outra orientação necessária que Nilza faz é para que o aluno não esconda se por acaso estragar algum objeto. "Eu peço para contar aos pais, ou para mim, caso rasguem o livro, e que não tentem consertá-lo. Colocam cola por todo o lado. Podem trazer que eu arrumo". A biblioteca tem atualmente quase 3.000 títulos. Alguns são definidos pelo Ministério da Educação, outros são comprados pela Prefeitura ou mesmo sugeridos pelos professores, pais e alunos. O hit do momento conta a vida de uma gata namoradeira. Irresponsável, deixava os sete filhos ao relento e só pensava em subir no telhado para paquerar um gatão. Na história, o cachorro não é um vilão, pelo contrário. É ele quem "se mete" na vida da bichana para cuidar, de longe, de seus filhotes. Um dia, a gata é atropelada e morre. O cachorro se dedica, então, a encontrar em seu meio uma outra gata que os adote.

Essa história, encontrada no livro Os Bichos que Tive, de Sylvia Orthof, pretende trabalhar especialmente as questões sobre o luto e a adoção com as crianças.

Publicações com temas de bichos são as preferidas

Os livros sobre bichos são os mais populares entre os alunos. Mas não há título que fique esquecido na estante. A menina Julia Rodrigues dos Reis, 7 anos, diz que está lendo As Fábulas Ferinas de Esopo, de Vivian French e Kork Paul; Lourenzo Mota Silva, mesma idade, está lendo Borba o Gato, de Ruth Rocha. E o pequeno Henrique de Souza, 6 anos, não consegue citar um nome de livro, mas diz que gosta dos que falam de comida. "De macarrão, de pizza, de legumes... Gosto de livros de comida".

Nas atividades desenvolvidas na biblioteca, os alunos são estimulados a ler em voz alta, mas também há ênfase pelo silêncio. "Não dá para refletir se há barulho e não dá para ser bom ouvinte se não houver silêncio", pontua Nilza. Cynthia defende que o aluno tenha cuidado com os livros. "O aluno tem de saber que está lidando com objeto público e que outras pessoas vão utilizar."

Pegar um animal para cuidar é coisa séria

Situada em área menos privilegiada no bairro Jardim Santo André, onde há grande concentração de animais soltos pelas ruas, a Emeief Cora Coralina desenvolveu o projeto pedagógico Posse Responsável, Cuidando e Respeitando.

Idealizado pela professora Maria Luiza Sigiani Soares Pontes, o projeto foi inspirado na cadelinha Ludmylla, que circulava na escola nos horários da merenda, pela manhã e à tarde. Preocupada com os maus-tratos e o alto número de abandono desses animais, que assim como Ludmylla foram simplesmente largados à própria sorte, a educadora achou que poderia aprofundar a discussão sobre a responsabilidade de criar cachorros, gatos, passarinhos ou qualquer outro animal.

"As pessoas pegam quando são filhotes, mas depois que crescem simplesmente os descartam, porque passam a dar mais trabalho, a ocupar mais espaço e a exigir mais atenção e cuidados", diz.

O projeto foi dirigido para os alunos das turmas de 4 a 5 anos e de 9 e 10 anos. "Trabalhamos com eles de formas diferentes, mas em ambas procuramos sensibilizar as crianças para a importância do cuidado e do respeito pelos seres vivos e pelo meio ambiente de forma geral", afirma Maria Luiza.

RESPONSABILIDADE

As atividades que envolveram disciplinas como Matemática e Português abordaram também discussões sobre higiene, limpeza, saúde, nutrição, alimentação, entre outras. "Esse projeto é muito importante principalmente por trabalhar a questão da responsabilidade de quem tem a posse de animais", afirma a diretora Lisabethe Hentschel, também envolvida no projeto. Isso porque a história da cadelinha Ludmylla não foi das mais felizes.

Depois de abandonada, ela teve 11 filhotes no meio do lixo, que foram jogados em buraco por alguém que não queria os cachorrinhos por perto. A professora Maria Luiza e a diretora, que já tinham tomado a cadelinha como mascote da escola e referência para discussão do projeto, não aguentaram vê-la naquela situação e fizeram de tudo para salvá-la, sem sucessso. Tanto ela quanto oito filhotes morreram, mesmo depois de assistidos por veterinários. Hoje, os que viveram são cuidados por Maria Luiza, que ficou com um, e por Lisabethe, que ficou com outros dois. O fato muito triste serviu para ilustrar como é importante cuidar dos animais de forma responsável.

Além de discussões em sala de aula e pesquisas, foram exibidos filmes relacionados a animais e produção de cartazes. "O projeto também contou com o apoio dos pais, que relataram que as crianças melhoraram muito o tratamento e o cuidado com os animais domésticos", conta a professora, salientando para a melhora das crianças menores em disciplinas como português. "Os pais nos contaram que os alunos passaram a dar mais detalhes das atividades escolares, relatando a presença do cachorrinho na escola e o que tinham conversado na sala sobre ele." (Mirela Tavares)

Vïra-lata Vãovão é nova mascote da turma da unidade

Hoje, na escola, apesar do vazio deixado por Ludmylla, os alunos passaram a contar com a presença constante do vira-lata Vãovão. Visivelmente muito maltrado por quem o abandonou, tendo como sequelas uma perna manca e uma cicatriz enorme no pescoço, ele demonstra alegria quando é acarinhado por alunos e professores da escola.

Os próximos passos do projeto são uma visita à Sabina Escola Parque do Conhecimento, que também tem projeto de posse responsável, e a mobilização por campanha pela castração dos animais do bairro, para a qual Maria Luiza espera contar com o apoio de alguma instituição. "Temos de cuidar dos animais", afirma Carlos Gustavo da Silva, 5 anos, que garante cuidar dos quatro cachorros que ele diz ter em casa. (Mirela Tavares)




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