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Região registra sete queixas por dia contra convênios

Dados do Procon somam 1.189 reclamações de beneficiários
no 1º semestre; levantamento não inclui Ribeirão e Rio Grande

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
29/07/2012 | 07:00
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As consequências da crise no setor privado de Saúde e da falência de convênios médicos nos últimos anos vão além da sobrecarga no SUS (Sistema Único de Saúde). A alternativa, para muitos, foi a aquisição de convênios médicos mais baratos e de baixa qualidade. Assim, as reclamações dispararam.

Números divulgados pelos Procons da região ao Diário apontam que, de janeiro a junho deste ano, 1.189 reclamações foram registradas contra operadoras de Saúde na região. A média é de sete queixas por dia. O levantamento não inclui Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não enviaram dados. As principais reclamações são referentes às negativas de cobertura, reajustes abusivos de mensalidades e descredenciamentos de hospitais e laboratórios. Do total de denúncias, 516 foram feitas em Santo André.

Outro levantamento ilustra a insatisfação dos beneficiários da região. De acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), entre maio do ano passado e maio deste ano, 2.067 pessoas formalizaram reclamações no órgão que fiscaliza e regulamenta convênios médicos no Brasil.

Na opinião da diretora do Procon de Santo André, Ana Paula Satcheki, faltam coerência e responsabilidade na comercialização dos planos. “Vende-se mais do que a capacidade de atender. O resultado é a fila de espera, o não agendamento de cirurgias, consultas etc. Não é um sanduíche. É um plano de Saúde. Vidas estão em jogo. Enquanto isso, o consumidor fica à deriva. A ANS está tentando impedir um colapso, mas ele já está ocorrendo”, explica.

No início do mês, o órgão suspendeu a venda de 268 planos de saúde de 37 operadoras por não terem cumprido os prazos mínimos de atendimento. Se os planos insistirem na venda, poderão ser multados em R$ 250 mil.

Para a diretora do Procon, a falta de monitoramento dos abusos protagonizados pelas operadoras prolonga o caos no sistema. A interferência da ANS de maneira corretiva é fundamental para brecar o índice de reclamações. “A agência deveria fiscalizar com mais presteza. Se tivessem o raio X da real situação da Saúde suplementar brasileira, verificariam em que condições essas pessoas estão sendo tratadas. Antes de buscar resolver, tem de ver a origem do problema para evitar reincidência.”

MIGRAÇÃO - Outra consequência do despreparo de algumas empresas é a debandada de médicos que, insatisfeitos com os baixos valores pagos por consultas, optam por atender apenas pacientes particulares. Operadoras pagam em torno de R$ 35 por procedimento, valor considerado aquém do ideal pela classe. Em outros casos a oferta chega a ser de R$ 10.

Hospital Brasil busca ter 40% dos leitos em UTI

A Rede D’Or, grupo carioca que comprou o Hospital e Maternidade Brasil, em Santo André, e o Hospital Assunção, em São Bernardo, investiu R$ 38 milhões na rede desde as aquisições, em 2010.

Entre as melhorias, estão inauguração de leitos. No Hospital Brasil, o foco é alcançar 40% do total apenas em vagas na UTI. O objetivo é cobrir procedimentos cardiológicos e neurológicos. Atualmente, o hospital conta com 80, sendo 295 no total. A previsão é que outros 24 sejam entregues em setembro. Juntos, os equipamentos somam 430 vagas entre internação e UTI.

Mesmo com melhorias, alguns usuários avaliam que o atendimento da rede, considerado de referência na região, ainda está aquém do serviço ofertado em hospitais particulares da Capital. A demora no atendimento do PS continua entre reclamações. Para tentar resolver o problema, o sistema Smart Track, que será implantado em outubro, promete diminuir o tempo de espera nos PSs para até 15 minutos. O sistema já é utilizado no Hospital São Luiz, que também pertence à rede e fica em São Paulo.

Os dois PSs da região acumulam 30 mil atendimentos por mês. Com o recente fechamento de hospitais privados no Grande ABC, o aumento no movimento na rede de urgência e no setor ambulatorial atinge 30%.

Usuário reclama de demora em PS e marcação de consulta

A equipe do Diário percorreu os prontos-socorros dos principais hospitais particulares do Grande ABC e constatou que as críticas dos usuários são, na maioria, em relação à demora na marcação de consultas e no atendimento nas portas de urgência.

Mesmo com investimentos recentes que visam a recuperação do setor privado de Saúde, a situação está longe do ideal. A supervisora de telemarketing Vanessa da Silva, 29 anos, diz que a mãe espera por consulta com neurologista pela Intermédica Sistema de Saúde é de até dois meses. Ela sofreu acidente de ônibus e precisa de acompanhamento rigoroso. “Se você tenta consulta particular, informam que tem vaga para a semana seguinte. É capaz de conseguir até antes em algum posto de Saúde da rede pública”, reclama.

O descredenciamento de hospitais junto às operadoras também deixa os beneficiários perdidos. De repente, o tratamento que teve início com determinado especialista é transferido – sem aviso – para hospitais de outras cidades. “É muita irresponsabilidade. Tiram a opção e não colocam nada no lugar. Tive de mudar de plano para dar sequência ao tratamento ortopédico do meu filho no hospital da minha preferência”, conta a desempregada Cláudia dos Santos, 28. A operadora em questão, a Ômega Saúde, foi procurada mas não se manifestou.

Já no pronto-socorro do Santa Helena Saúde, unidade de Santo André, a reclamação da pensionista Leci Pereira, 78, é pela demora no atendimento. Com gripe forte, afirmou ter esperado por três horas até concluir atendimento. “E teve gente que esperou mais”, completa. A direção do hospital informou que apenas 3% dos pacientes são atendidos depois de uma hora no PS. A rede conta com 800 médicos em dez unidades espalhadas pelo Grande ABC.

Sobre a demora na marcação de consultas, a Intermédica esclareceu que não identificou dificuldades nos agendamentos de consultas de pacientes em São Bernardo.




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