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Lendas de todos os cantos

Conheça histórias e personagens folclóricos de diferentes regiões do Brasil e da América do Sul

Caroline Ropero
Do Diário do Grande ABC
18/08/2013 | 07:00
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Não é preciso morar no campo para saber que o travesso Saci não é confiável ou que é péssima ideia caçar animais na mata do Curupira. As histórias destes e de outros seres fantásticos, como Mula Sem Cabeça, Iara e Boitatá, representam a cultura popular dos antepassados e são transmitidas de uma geração para outra há centenas de anos.

É impossível saber como e onde as lendas surgiram. Muitas foram criadas na época em que a escrita ainda não existia. Há milhares de anos, o povo da Babilônia acreditava que ao caminhar pela noite era preciso acender uma tocha para espantar os fantasmas. Em 1549, os portugueses relataram que os índios brasileiros tinham a mesma crença. E, em 1963, várias populações ainda faziam o mesmo.

Há lendas parecidas em vários lugares do mundo, com pequenas diferenças, dependendo da região. Muitos países da América do Sul têm histórias semelhantes às contadas no Brasil. A do boto-cor-de-rosa, por exemplo, também é famosa na Venezuela.

Tem ainda contos e personagens conhecidos apenas em algumas áreas. A Irlanda é a terra do Leprechaun, tipo de duende de barba e cabelos ruivos. É o guardião de tesouros escondidos e está sempre vestido de verde.

Enquanto a Comadre Fulozinha é popular no Nordeste do Brasil, o Negrinho do Pastoreio é famoso no Sul e Sudeste. Apesar de diferentes, todos os contos brasileiros têm algo em comum: a mistura da cultura de muitos povos, entre eles índios, portugueses e africanos.


Conto de fadas também é lenda

Os contos de fadas também são considerados lendas folclóricas. Afinal, relatam histórias de seres fantásticos que não existem na vida real. Podem falar sobre bruxas, fadas, duendes e outros personagens populares que surgiram há centenas de anos.

Ao longo do tempo, chegaram às mãos de escritores como os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Os alemães ficaram famosos por, no século 19, reescreverem e publicarem histórias antigas, entre elas Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve.

No século 17, o francês Charles Perrault também escrevia versões de contos que ouvia da população, como Cinderela e O Pequeno Polegar. No Brasil, o folclore nacional foi parar nos livros graças ao escritor Monteiro Lobato. Os personagens do Sítio do Picapau Amarelo se aventuram junto do Saci, Mula Sem Cabeça, Curupira, entre outros.


Que tal aproveitar o Dia Internacional do Folclore, comemorado em 22 de agosto, para descobrir lendas que você não conhece? Veja algumas delas:

A flor do irupé é lenda muito conhecida no Paraguai. Conta-se que às margens do rio vivia Morati, uma linda índia que sempre falava sobre a própria beleza. Certa tarde, a garota viu Pitá, jovem guerreiro apaixonado por ela, na beira do riacho. Para se mostrar para as amigas, Morati jogou seu bracelete no rio. Ao mergulhar para recuperar o objeto, o rapaz desapareceu. A índia foi procurar ajuda e ouviu do pajé que Pitá estava preso na rede do espírito das águas. Arrependida e sentindo imensa tristeza, a garota amarrou pedras nas pernas e jogou-se na água para libertar o amado. No dia seguinte, os índios encontraram no meio do rio uma flor com pétalas brancas no centro e vermelhas nas bordas. O pajé explicou que a flor representava o casal que, com a força do amor, conseguiu se encontrar e ficar livre.

Boiuna é uma serpente gigante que vive no fundo dos rios da Amazônia. Segundo a lenda, é negra, com corpo pegajoso e coberto por escamas pontudas. Tem longas presas e pode chegar a 100 m de comprimento. Os olhos brilham no escuro e confundem os marinheiros. Os índios a chamam de mãe-d’água, pois acreditam que seja a guardiã dos rios. É violenta e não gosta de humanos. A história diz que há milhares de anos, quando a escuridão não existia e ninguém dormia, a boiuna guardava a noite dentro de dois caroços de tucumã (planta nativa da Amazônia). Certo dia, um homem abriu a semente, e o mundo viu a escuridão pela primeira vez. A cobra ficou tão zangada que condenou as pessoas a terem sono todas as noites.

João-do-mato é o responsável por fazer a vegetação nascer no solo. À noite, sai com seu pote de barro ou saquinho de couro cheio de sementes de todas as variedades de plantas. Costuma agir em grupo e plantar em lugares onde o homem acabou de desmatar. No entanto, a devastação das florestas está a cada dia maior. Fica difícil para os Joões-do-mato fazerem todo o trabalho sozinhos. Segundo a lenda, são pequenos e com corpo totalmente coberto por folhas. Têm pés grandes e fazem longas caminhadas em busca de clareiras (onde não há árvores) e áreas desmatadas. Não sabem falar, mas fazem seu trabalho com perfeição. Agricultores ficam bravos porque, às vezes, os seres fazem o mato crescer em volta das plantações. Mas também ajudam a manter o pasto com bastante capim para bois e vacas se alimentarem.

Fadas estão em todas as partes do mundo, até no Brasil. Na Amazônia há três delas, todas de cabelos pretos e lisos. A mãe dos sonhos é uma. Aparece quando estamos dormindo e nos presenteia com imagens que nos causam boas sensações. Canta em nosso ouvido durante o sono e cuida para que ele seja tranquilo. Acredita-se que quando o bebê sorri enquanto dorme a fada está lhe contando uma história divertida. Não possui pés, costuma flutuar e está sempre de vestido.
A mãe das seringueiras é outra fada, protetora da árvore da qual se extrai o látex (borracha natural). Usa roupas de fibras de vegetais na cor verde e mora dentro do tronco da seringueira.
A mãe das pedras verdes é protetora das amazonas (mulheres guerreiras). Todo ano, a fada as presenteia com um tipo de barro esverdeado, usado para moldar amuletos, chamados muiraquitãs. Tem olhos verdes e uma coroa de ouro e pedras preciosas.

Comadre Florzinha ou Comadre Fulozinha é uma mulher que vive na Zona da Mata de Pernambuco. Tem pele morena, olhos e longos cabelos escuros, que servem para atacar seus inimigos. A personagem do folclore nordestino protege a natureza de caçadores, fazendo com que fiquem perdidos na floresta. É esperta e brincalhona, porém, pode ser muito má. Adora fazer tranças e nós na crina dos cavalos (como faz o Saci-Pererê), sussurrar para os cães e perseguir crianças malcriadas. Dizem que pode se transformar em animais, moça e menino magro. Esconde-se no mato e desaparece sem deixar rastros. Gosta de ganhar mingau, mas fica furiosa quando colocam pimenta nele.

A lenda da mandioca é muito conhecida na região da Amazônia, principalmente no Norte do Brasil e na Guiana Francesa. Conta-se que Iraci, filha do cacique, engravidou e teve uma menina bem diferente de seu povo, com pele muito clara e cabelo castanho. A menina recebeu o nome de Mani. Era inteligente e alegre. Certo dia, sua mãe foi acordá-la e encontrou a indiazinha morta. Desesperada, abraçou Mani e pediu que a enterrassem ao lado de sua oca (casa dos índios). Todos os dias, Iraci chorava muito em cima da cova da filha, até perceber que uma planta nascia no local. Os índios, então, arrancaram o vegetal do solo e descobriram que as raízes tinham casca marrom, mas seu interior era branco, como a pele da menina. Assim, a planta recebeu o nome de manioca, que significa casa de Mani.

Consultoria de Silvana Salerno, especialista em folclore e autora do livro Histórias da América Latina (Planeta Jovem). Fonte: Curupiras, Sacis e Outras Criaturas Fantásticas das Florestas – Um Guia de Observação (Fábio Sombra, Rocco Jovens Leitores).
 




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