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A doença da violência

Raro é o dia em que uma cidade de porte médio no Interior Paulista não registre um caso de violência

Por Wilson Marini
14/07/2011 | 00:00
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Raro é o dia em que uma cidade de porte médio no Interior Paulista não registre um caso de violência. Tanto é assim que a imprensa faz checagem de rotina junto às fontes policiais para apurar os principais acontecimentos da área. Fatalidades no trânsito misturam-se às mortes estúpidas, assaltos com detalhes de crueldade e situações que denotam a insegurança a que são expostos os cidadãos.

Os ciclos diários marcados pela repetição escancaram a fragilidade da natureza humana sob as duas faces da mesma moeda - os sujeitos ativos e passivos da violência. Os agentes criminosos e as suas vítimas quase sempre indefesas.

A violência não é novidade para ninguém. Talvez por isso o desfile de crimes parece às vezes produzir insensibilidade numa sociedade anestesiada pela sucessão de tragédias.

Mas há momentos em que os jornais sobem o tom. É quando os fatos surpreendem com a sua crueza os profissionais acostumados a lidar com a criminalidade em seu ofício, como os policiais e os jornalistas encarregados da cobertura. Em conseqüência, repercutem mais entre os próprios leitores. Anteontem foi um desses dias.

Painel do crime

Dos 15 veículos que compõem a Rede APJ - Associação Paulista de Jornais, que cobre cerca de 80% do território paulista, seis publicaram assuntos de violência em manchete de primeira página. Significa que a segurança pública foi o tema mais importante de suas respectivas edições. E outros também destacaram fatos policiais em suas capas.

Ao eleger notícias de violência como destaque nas primeiras páginas, todos eles expressam a perplexidade, a dor e o medo que permeiam a vida em nossas cidades. E passam a mensagem: é preciso agir sobre isso.

Este colunista, que faz a leitura sistemática dos jornais da Rede APJ há quase dois anos, também se surpreendeu com a sincronicidade da violência estampada num único dia. A coincidência merece reflexão de políticos, educadores e lideranças comunitárias pelo que pode estar sinalizando. É possível que confirme a cristalização prevista por muitos cientistas sociais de um quadro globalizante de degradação em que a violência se transforma numa doença social em tendência de expansão e de difícil reversão.

Os fatos resumidos abaixo formam um painel do clima que toma conta das populações de boa parte das cidades do Interior Paulista. Prevenir enquanto há tempo é um dever da sociedade como um todo, não apenas da polícia e da Justiça, que isoladamente não podem dar conta do problema. Somente assim dias como 12 de julho de 2011 poderão no futuro ser considerados atípicos, e não uma constante.

Manchetes

São estas as principais notícias de violência publicadas na terça-feira por jornais da Rede APJ.

Em Jundiaí, tradicional comerciante do centro da cidade foi assassinado com tiro no peito durante assalto à sua loja de brinquedos. "Dia de horror", destaca o Jornal de Jundiaí na primeira página.

Em Sorocaba, duas meninas, de 9 e 10 anos de idade, foram mortas com requintes de crueldade. Os corpos franzinos foram golpeados com diversas facadas da parte da cintura para cima, com parte dos ferimentos concentrados na cabeça. "O crime chocou até mesmo policiais acostumados com a brutalidade do submundo do crime", informa o Cruzeiro do Sul/CF, acrescentando que em 12 horas a cidade teve cinco assassinatos.

Com a manchete "Flagrante de violência em pleno coração de São José", O Vale, de S. José dos Campos, publica imagem de câmera que mostra agressão a rapaz no centro da cidade. No chão, ele foi agredido a chutes e pauladas mesmo após ter desmaiado. Foram pelo menos três ataques em série. "Violência chocou até a polícia", publicou o jornal.




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