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Pimenta: FHC deve usar 'lealdade política'
Do Diário do Grande ABC
07/04/1999 | 09:35
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A coletiva de imprensa convocada terça-feira pelo ministro das Comunicaçoes, Pimenta da Veiga, pode ser interpretada como um indicador de que a crise política na base parlamentar de apoio do Governo se agravará na hipótese de que o PMDB insista na trajetória de choque aberta pela moratória de Itamar Franco e ampliada pela CPI do sistema financeiro pedida pelo partido. Com um discurso propositadamente cifrado, o articulador político oficial do Palácio do Planalto anunciou ter sugerido ao presidente Fernando Henrique Cardoso que adote novas regras de convivência com seus aliados tendo, como paradigma, o conceito de lealdade política.

O ministro evitou referência a fatos concretos e até admitiu que a repactuaçao política por ele sugerida "nao tem efeito retroativo", o que excluiria de avaliaçao a CPI dos bancos criada pelo líder e presidente do PMDB, senador Jader Barbalho (PA).

Mas observou que ao levantar suspeitas sobre os dirigentes do Banco Central na conduçao da mudança de regime cambial, em janeiro, o Governo a que o PMDB pertence será naturalmente prejudicado. "É necessário definir se os partidos da base parlamentar estao liberados para propor investigaçoes ou atos contra o Governo que eles apóiam", defendeu Pimenta.

Ele nao confirmou, nem negou, que tenha sugerido o rompimento com o PMDB numa conversa com Fernando Henrique durante o café da manha no Palácio da Alvorada, na semana passada. Ele confirmou a participaçao no encontro do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), presidente nacional do PFL. "Nao mencionei nomes, nem siglas", limitou-se a dizer.

A iniciativa do Ministro das Comunicaçoes sugere que, ao contrário do que tem propagado, o governo está muito preocupado com os possíveis desdobramentos da investigaçao defendida pelo PMDB. As reiteradas declaraçoes de dirigentes do PMDB, de que nao os move o propósito de encurralar o governo ou acuar o presidente, nao comovem a mais ninguém no Palácio do Planalto.

A versao segundo a qual o comando do partido, com a participaçao dos ministros dos Transportes, Eliseu Padilha, e da Justiça, Renan Calheiros, comemorou a abertura da CPI dos bancos em um jantar com jornalistas, em Brasília, causou profundo mal-estar na presidência.

A reaçao do governo a esta altura dos acontecimentos parece insuficiente para evitar que o processo de investigaçao parlamentar tenha curso. As explicaçoes dadas aos jornais pelo ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, e pelo ex-diretor de Fiscalizaçao, Cláudio Mauch, sobre o socorro aos bancos Marka e FonteCindam despertaram mais dúvidas do que certezas no Congresso, segundo as declaraçoes de Jader e do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhaes (PFL-BA).

Com elas, os estrategistas do Governo provavelmente anteciparam manchetes, mas só será possível avaliar se a CPI se esvaziará depois que o Banco Central divulgar seus relatórios sobre o assunto. Além de fé no efeito da versao que Banco Central deverá apresentar, resta ao Governo trabalhar na esfera política p ara que a CPI do sistema financeira nao se transforme em uma "inquisiçao sensacionalista".

Cenário positivo - A estratégia insinuada pelo Ministro das Comunicaçoes, Pimenta da Veiga, é evidente. Todas as variáveis relevantes da economia desenham um cenário mais positivo do que o próprio Governo esperava para este início de abril, delimitando o impacto da mudança cambial. A inflaçao, o câmbio e os juros estao em queda, apontando para dias melhores.

Nas palavras do Ministro, o país "está pronto para o desenvolvimento", logo produzir turbulência política agora é o mesmo que agir contra os próprios interesses.

A ameaça de exclusao dos desleais, que obviamente se dirige ao PMDB, é também uma aposta em que os dirigentes do partido nao serao insensatos. Ora, sabe-se que o PMDB se tornou um partido basicamente parlamentar, que perdeu posiçoes regionais importantes nos estados do Sul, em Sao Paulo, no Pará, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, em Goiás, nao tem expressao na Bahia, decaiu no Rio e é uma incógnita em Minas Gerais.

Em compensaçao, nomeou três ministros de Estado e ocupa centenas de cargos federais. Com apenas 90 dias do segundo mandato de Fernando Henrique, ao PMDB é indiferente estar ou nao no governo? O governo pensa que nao e que ainda há tempo de revisar posiçoes.




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