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José Ramos Tinhorão lança 'Cultura Popular'
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/11/2001 | 18:16
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José Ramos Tinhorão, 73 anos, tenta cada vez mais se afastar do posto de ranzinza da música brasileira e se aproximar da classe de historiador da cultura nacional. Deixou de publicar críticas na imprensa em 1980, quando colecionava inimigos – na mídia, por ter arrasado ícones da música nacional, como a bossa nova, chamando-a de “americanizada”, e Tom Jobim, de “plagiário”; e na universidade, por não ter títulos acadêmicos. Jornalista por profissão, e agora mestre em História pela USP, segue como pesquisador.

No ano passado, lançou dois volumes de A Música Popular no Romance Brasileiro, fruto de uma pesquisa de 15 anos e leitura de 5 mil livros. O terceiro está no prelo. Este mês, uma coletânea reúne suas idéias: Cultura Popular – Temas e Questões (Editora 34, 192 págs., R$ 22). São 11 ensaios publicados entre 1970 e 2000.

Recuperação da memória e questões de gosto são os motes dos textos. Tinhorão fala de música sertaneja, de cordel, de circo, de gosto musical. Cita o tempo todo a luta de classes, pois sua formação é marxista, com fluência suficiente para se livrar das amarras acadêmicas, mesmo com rigorosa pesquisa.

Ele apresenta criadores populares esquecidos, como o palhaço negro Benjamim de Oliveira, que fazia sucesso com suas peças populares, considerado o introdutor do teatro no circo brasileiro; ou lembra Dionísio Oliveira, fundador do bloco Barra Funda em 1914, hoje a escola de samba Camisa Verde e Branco, em São Paulo.

Mas é a música seu assunto preferido. Sobre os conceitos entre música popular e cultura de elite, Tinhorão puxa as luzes para si. No capítulo Definição para Música Popular, avisa que desde 1966 tem procurado estabelecer essa “diferença de campos”. E explica essa “dualidade” de produção artística em dois universos culturais: o rural e o moderno mundo urbano, fruto das relações de produção capitalista. Eis o historiador.

O crítico aparece em outro capítulo: “De fato, enquanto os compradores de música sertaneja aplaudem duplas vestidas de cowboys americanos, que cantam toadas breganejas à base de sons de guitarras (porque esse é o ‘moderno’ a que pretendem chegar), as camadas de classe média cometem equívoco semelhante”.

Seu acervo de 7 mil livros e 5 mil discos, garimpados ao longo de 40 anos em sebos, estão desde o ano passado à disposição do público no Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br).




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