Foram pouco mais de quatro meses no ar até o SBT perceber que Os Ricos Também Choram não comove o público. A trama entrou no ar em 18 de julho com a missão de, pelo menos, manter os 14 pontos de média e o segundo lugar no horário das 21h, que a emissora tinha com a antecessora Esmeralda. A trama, adaptada por Marcos Lazarini, no entanto, teve desempenho aquém do esperado, mantendo média de oito pontos e dividindo o segundo lugar com os enlatados exibidos pela Record. A emissora não gosta de falar no assunto mas, na prática, o resultado é que a novela será encurtada em cerca de 30 capítulos e, em vez de ficar no ar até janeiro, como previsto, sai de cena no começo de dezembro. "Desde o início estava previsto que a novela teria entre 120 e 150 capítulos escritos, de maneira que ela acabará dentro da primeira opção", despista o autor. A emissora ainda não tem confirmação do que vai exibir no horário mas, de qualquer forma, a previsão de estréia da substituta Cristal, outra trama mexicana da Televisa, foi mantida para março.

Para Lazarini, nem o fato de a novela ter sido encurtada significa que o projeto tenha fracassado. "Artística e comercialmente, pelo que sei, o resultado foi bastante satisfatório", afirma. É certo, porém, que foi pedido a Calixto de Inhamuns, que vai adaptar Cristal, que antecipasse a confecção dos capítulos. A idéia é aproveitar a liberação antecipada dos estúdios da Anhanguera para poder iniciar os trabalhos da nova novela do SBT com mais tempo. Escrita originalmente pela cubana Delia Fiallo, a primeira versão de Cristal foi ao ar na Venezuela, em 1985. Sobre esses originais, Calixto fará adaptações para contextualizar a trama para o Brasil dos dias de hoje. "As mudanças serão na ambientação e na atualização da história. As discussões da década de 80 estão distantes da realidade de hoje", antecipa.

Basicamente, no entanto, Cristal mantém a fórmula dramalhão típica dos folhetins hispânicos. A trama central conta a história de uma menina pobre, criada em um orfanato, que passa por toda sorte de adversidades. Mais tarde, numa dessas coincidência inacreditáveis, a menina acaba se empregando na empresa comandada pela mãe biológica, que foi obrigada a abandonar Cristal por ela ser fruto de uma relação proibida. Mesmo conservando a essência da trama, que em geral agrada ao público da emissora, Calixto adianta que a novela terá novos ingredientes. "As dificuldades dos jovens no mercado de trabalho, a educação no Brasil e a violência dos dias atuais, além de toda uma cultura característica nossa", afirma.

Pela necessidade de antecipar os capítulos para o início da produção de Cristal, Calixto acabou ganhando três colaboradores: José Alexandre, Marcela Arantes e Andréa Simão, os vencedores da última Oficina de Roteiristas da emissora, coordenada pelo próprio autor. Eles enfrentaram 360 inscritos, reduzidos a 22 finalistas que fizeram a Oficina. E todos os três já traziam experiências anteriores. José Alexandre no teatro, Marcela Arantes em cinema e Andréa Simão em roteiros para audiovisual. Segundo Andréa, a adaptação será sutil, mais focada em trazer a trama para uma linguagem próxima do público brasileiro. "A gente vai adaptar alguns diálogos, especialmente as gírias. O texto é um pouco antigo, é de 1985. Além disso, os brasileiros são menos conservadores", diz.

A pressa em relação aos capítulos não se reflete na escalação do elenco: a emissora não tem ainda nenhum nome confirmado para a novela. Se limita a dizer que os testes para a escolha dos atores estão previstos para acontecer entre os dias 21 e 25 deste mês e que as gravações devem ter início na primeira semana de janeiro.