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Capela centenária é tombada

Localizada na Rodovia Antônio Adib Chammas, em Sto.André, edificação datada de 1913 tem mau estado de conservação e é alvo de vândalos

Nelson Donato
Especial para o Diário
10/11/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 A Capela São José da Boa Viagem, localizada no km 47 da Rodovia Deputado Antônio Adib Chammas, será tombada como patrimônio histórico pela Prefeitura de Santo André. Inaugurado no dia 18 de abril de 1913, o monumento religioso guarda histórias de fé dos moradores do entorno, que até hoje lutam por sua restauração.

A decisão foi homologada no Diário Oficial no sábado, foi feita com base nos termos do artigo 22 da Lei 9.071 com base na resolução do Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André), órgão responsável pelo acompanhamento e fiscalização do PPPC (Plano de Preservação do Patrimônio Cultural). O processo era o que faltava para definir o tombamento iniciado em 2011.

Para notar o local onde a capela está situada é preciso olhar com bastante atenção. No topo de um pequeno morro e rodeada por árvores, a única parte visível da construção é a imagem de São José. Situada próxima ao principal acesso da parte baixa de Paranapiacaba, a capela só foi possível graças ao esforço da padre Luiz Capra, que pediu esmolas e investiu seu próprio dinheiro para viabilizar a edificação.

Depois de 103 anos, o esforço do sacerdote parece ter sido em vão. As paredes e portas da paróquia estão pichadas e cobertas de mofo. As telhas estão cobertas por pequenas vegetações e no entorno da edificação são encontrados até preservativos usados. As grades das janelas estão corroídas pela ferrugem e a imagem do santo que dá nome para a paróquia está sem uma das mãos.

Por estar em um ponto isolado, com poucas residências e comércios no entorno, em muitos momentos da história centenária o monumento viu os fiéis deixarem de frequentar o espaço por motivos variados. Há mais de 40 anos, por exemplo, circulou um boato na comunidade de que havia uma cobra dentro do local, que atacava quem quisesse entrar para orar.

Foi graças ao recém-chegado Antônio Vito da Costa, mais conhecido como seu Vito, que a capela voltou a ser frequentada. Contrariando os pedidos de que não se aproximasse, Vito, que atualmente tem 77 anos, entrou na paróquia e após rápida verificação acalmou os vizinhos. “Lá não tinha cobra nenhuma. Não sei por que espalharam esse boato. Só para confirmar, eu carpi todo o terreno para mostrar que ali não tinha nenhuma serpente”, conta o aposentado.

Depois desse episódio e por morar a cerca de 30 metros da capela, ele virou frequentador assíduo. Junto com os outros moradores organizou movimentos para restaurar o monumento. “Me juntei com alguns vizinhos e trabalhamos duro para pintar e arrumar a capela. Mas infelizmente, agora está pior do que antes”, lamenta.

Ao saber do tombamento da Capela de São José da Boa Viagem, seu Vito não escondeu a alegria. “É muito bom saber disso (do tombamento). É um pedaço da nossa história e que merece ser preservado. Apesar de ser perto, não consigo mais ir até lá por conta de problemas nas minhas pernas. Há algumas semanas vi um pessoal da Prefeitura por aqui. Espero que eles deixem tudo muito lindo.”

 

Paço diz que ainda não há projeto de restauro

 

A Prefeitura de Santo André informou ontem que até o momento “não houve nenhum projeto de restauro encaminhado para análise e aprovação do Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André).” O órgão é responsável pelo acompanhamento e fiscalização do PPPC (Plano de Preservação do Patrimônio Cultural).

Ainda segundo a administração municipal, “a capela é de propriedade da Curia Diocesana de Santo André, portanto não cabe à Prefeitura a responsabilidade direta de restaurá-la”, disse em nota. Em 2013, o Diário publicou matéria sobre a Capela São José da Boa Viagem relatando as dificuldades de voluntários da Paróquia de São Sebastião, de Rio Grande da Serra, responsável pela manutenção do espaço.

 

AVANÇO

A Prefeitura de Santo André reabriu em setembro os estudos de tombamentos para quatro locais da cidade. O Paço Municipal, o Conjunto Residencial Comendador Mansueto Cecchi na Vila Assunção, a Rhodia Industrial e o Moinho São Jorge na Avenida dos Estados estão prestes a entrar de forma oficial na história.

O processo mais adiantado é o do Paço, que já é tombado pelo Estado e teve processo aberto em 1993 no município. Em reunião ordinária realizada no mês passado, o Comdephaapasa analisou o estudo que compõe a instrução técnica deste processo e decidiu por unanimidade pelo tombamento do bem.  




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