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Poluição compromete o rio Tamanduateí
Por Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
18/01/2009 | 07:00
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Um rio navegável e harmonioso. Adjetivos contraditórios quando se descobre que é assim que os órgãos governamentais classificam oficialmente o Tamanduateí. A partir de hoje, o rio será tema de uma série de reportagens do Diário.

Tentamos percorrer o rio em um barco do Corpo de Bombeiros e uma das constatações é a de que o Tamanduateí angariaria o exótico título de rio sólido, se a qualificação existisse.

A lâmina d'água não passa de 40 centímetros, impossibilitando seu uso como hidrovia. Quase toda sua água é escoada junto com o esgoto e não há mais margens suficientes para reter a chuva e devolvê-la ao rio pelo lençol freático.

No Brasil, todas as águas doces, salobras e salinas são definidas conforme seu uso preponderante. Ao rio que cumpriu importante papel na formação das cidades do Grande ABC e da Capital restaram os usos que o Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) define como os menos exigentes que as águas fluviais podem ter.

O Tamanduateí, que na região passa por Santo André, São Caetano e Mauá, pertence à chamada classe 4, que é a mais baixa classificação das águas doces, que podem cumprir tarefas nobres como abastecimento domésticos, recreação, irrigação de plantações e preservação da fauna e flora aquática.

O rio de muitas curvas, como era chamado o Tamanduateí pelos índios, está tão distante dos usos mais notáveis quanto o de cumprir o papel de ser navegável e harmonizar a paisagem urbana.

Muito trabalho terá de ser feito para que suas águas possam de fato ser percorridas.

Apesar de sua classificação, o Tamanduateí tornou-se o maior canal de esgoto a céu aberto do Grande ABC. Hoje, pelo menos 75% da água que se vê correr é de puro dejeto.

Mesmo assim, a definição das águas não pode ser alterada para um nível inferior, conforme regulamentação da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) e só o Comitê de Bacia do Alto Tietê pode mudá-lo de posição.

"O rio é navegável? Vai se navegar no esgoto?", questiona o presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida), o ambientalista Virgílio de Farias. "Adequa-se a classe da água ao interesse político."

A maneira como o rio é hoje utilizado era manifestada de forma escancarada no passado. Na década de 1950, existia a classe 5, quando a legislação considerava a possibilidade de existir escoadouros naturais de esgoto. Era essa, justamente, a função do rio. A mesma que, 58 anos depois, continua a prestar.

Com o passar dos anos e o sem número de leis que regulam a atuação da sociedade sobre os meios naturais, a definição, que hoje seria considerada anti-ética, caiu por terra, apesar de a própria realidade do rio estar fora de qualquer princípio de preservação.




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