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Museu da Língua Portuguesa é programa para toda a família
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
25/03/2006 | 08:37
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O idioma nacional nunca teve tanto prestígio. Desde a última segunda-feira, quando foi inaugurado o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, ele se transformou no verdadeiro senhor de um espaço único no Brasil, que é mais que um museu, é quase um parque de diversões calcado no nosso idioma e nossa cultura. O novo equipamento paulistano fica aberto de terça a domingo e, aos sábados, a entrada é franca.

Para quem tem em mente aquela idéia de museu como um espaço sisudo recheado de documentos antigos, a visitação ao novo espaço é um verdadeiro choque. Ali não há nada que se aproxime do conceito de conservação do passado. Tudo é vivo e dinâmico, como o próprio idioma em sua utilização cotidiana. As instalações são de encher os olhos e deixar qualquer um maravilhado.

A viagem pelo Museu começa no elevador panorâmico, cujo som ambiente é uma espécie de mantra composto e falado por Arnaldo Antunes, que brinca com as palavras “língua” e “palavra” dita em vários idiomas. Só isso serve como um rito de passagem, que faz o visitante esquecer da balbúrdia que rodeia a estação para mergulhar nesse oceano lingüístico.

O Museu sugere que se percorra do terceiro ao primeiro andar, mas o contrário pode ser até mais interessante. O visitante pode ir direto ao primeiro piso, onde está a mostra temporária que celebra os 50 anos de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, concebida por Bia Lessa. Assim que as portas do elevador são abertas, o visitante se depara com um território árido e tomado pelos sons do sertão. Pelo chão de cimento há terra, tijolos, pedaços de telha e madeiras, que servem como suporte para a criativa exibição de trechos da obra. Tudo pede para ser tocado, visto e apreciado – dos monóculos colocados sobre o mapa do sertão, na parede, aos latões com água, cujas mensagens só podem ser lidas com a ajuda de espelhos.

Sem intimidação – O texto pode até ser difícil para boa parte dos que ali passam, mas isso não intimida ninguém. A professora Josefa Meire Santos da Costa, 39 anos, estava maravilhada com o espaço. “O Museu resgata nossas origens e o gosto pela leitura”, diz. Ela levou ao passeio os filhos Marcos Vinicius, 5 anos; Guilherme Henrique, 9, e Thaís Gabrielle, 12, além da amiga desta, Bruna Rodrigues Santos da Silva, 10. O pequeno não se intimidava com nada e investia no território da descoberta, seja puxando os painéis que ficavam no alto ou subindo na escada rústica que dava ângulo perfeito para a leitura de determinadas instalações.

O segundo piso já tem todo o jeitão tecnológico que caracteriza o espaço. De um lado, um painel de 106 metros – que é quase toda a extensão da plataforma de trem localizada bem abaixo do museu, na Estação – exibe 11 diferentes filmes com duração média de cinco minutos cada. São produções extremamente caprichadas, que revelam traços da cultura brasileira e nos lembram quantas palavras estão associadas a cada um desses universos – Carnaval, futebol, culinária, relações humanas etc. O visitante pode até ficar sentado e, onde encontrar uma seta no chão, é ali que o áudio é melhor.

Bem ao lado, há a curiosa Galeria das Influências, com oito totens eletrônicos nos quais é possível selecionar palavras e descobrir sua origem, significado e pronúncia. Todos correspondem a idiomas e povos que influenciaram na criação do português falado no Brasil. Na parede, há a Linha do Tempo, um painel formado por três linhas paralelas: a linha da língua portuguesa, das línguas africanas e das ameríndias que, juntas, desembocam no nosso idioma. A história começa a ser contada pelo ano 4000 a.C e vai até os dias de hoje. Telas interativas e vídeos ajudam a compreender melhor esse processo histórico.

Mas é o Beco das Palavras que faz a delícia principalmente dos mais jovens. Três grandes “mesas” em alturas diferentes exibem um jogo por meio do qual o visitante “caça” pedaços de palavras e as une, formando uma só palavra. Em seguida, aparece seu significado e imagens correspondentes. O jogo é muito divertido.

Reino das palavras – O terceiro piso reserva outra grata surpresa. A cada 30 minutos é aberta uma nova sessão do filme de dez minutos de duração que fala sobre a origem da linguagem, em especial da língua portuguesa. Ao final, o telão se move para dar passagem, ao público, para a Praça da Língua. “Penetre surdamente no reino das palavras” (de Carlos Drummond de Andrade), repete uma voz em tom de um convite quase hipnótico ao público. O espaço lembra um planetário, com imagens projetadas no teto e refletidas no chão, que é feito com um vidro escuro. Lá, são declamados poemas e trechos de livros. É uma viagem deliciosa.

Quando é declamada a famosa Quadrilha, também de Drummond, círculos são projetados aqui e ali, simbolizando os personagens da história de amores que nunca dão certo. A surpresa de um quadrado que surge “do nada” na história dos círculos arranca risos dos visitantes. Na hora de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, uma linda “revoada” de pássaros virtuais é projetada no teto. O final é com uma animada música de Caju e Castanha, que põe os mais animados para dançar.

Na saída do Museu, a baiana Maria helena Varjão, 63 anos – que estava acompanhada da irmã e de uma amiga –, se dizia “embevecida com a criatividade do ser humano”. “Sabe o que eu gostaria de fazer agora? Trazer toda a juventude pra cá!”. A imagem que intercala os filmes do grande painel no segundo piso sintetiza bem o que é o museu: um trem chega à Estação da Luz mas, na hora de partir, não é ele que sai, mas as pessoas. No Museu, elas embarcam em uma verdadeira viagem pelo universo da língua portuguesa. Só que para aprender mesmo, é bom continuar a viagem depois de deixar a Estação.

Museu da Língua Portuguesa. Na Estação da Luz – praça da Luz, s/nº. Tel.: 3221-1820. De terça a domingo, das 10h às 18h (entrada permitida até as 17h). Ingr.: R$ 4 e R$ 2 (meia entrada). Entrada franca aos sábados e nos demais dias para crianças com até 10 anos e pessoas com 60 anos ou mais. Site: www.museudalinguaportuguesa.org.br




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