Economia Titulo Em 14 anos
Combustíveis tiveram maiores altas desde 2001

Etanol subiu 33,7% em dezembro ante mesmo
período de 2014; gasolina ficou 19,5% mais cara

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
02/01/2016 | 07:15
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Celso Luiz/DGABC


Os preços dos combustíveis no Grande ABC tiveram em 2015 os maiores aumentos desde 2001, início da série histórica do SLP (Sistema de Levantamento de Preços) da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Em dezembro, o litro do etanol chegou à média de R$ 2,56 nos postos da região – alta de 33,75% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já a gasolina oscilou 19,51%, chegando ao patamar de R$ 3,45 nas bombas.

Até então, a maior subida de preços do etanol havia sido em 2004, quando o combustível derivado da cana-de-açúcar aumentou 31,47% ante 2003 (de R$ 0,96 para R$ 1,26 o litro). No mesmo período, a gasolina também tinha registrado a maior elevação antes de 2015, passando de R$ 1,88 para R$ 2,17 (alta de 15,78%). Ao longo de todo o ano passado, a média do etanol ficou em R$ 2,11, enquanto a da gasolina foi de R$ 3,16.

Para o consumidor, a situação ficou ainda pior no segundo semestre, quando os preços médios no Grande ABC atingiram R$ 2,19 (etanol) e R$ 3,24 (gasolina). Na primeira metade do ano, os valores na bomba eram de R$ 2,03 e R$ 3,08, respectivamente. O ápice, porém, ocorreu em dezembro, quando o etanol bateu R$ 2,56 e a gasolina passou a ser vendida a R$ 3,45 o litro. Nesse cenário, tornou-se mais vantajoso abastecer com o derivado de petróleo.

O empresário Eugênio Bianchi, dono de postos em Santo André e ex-diretor do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC) cita que os preços da gasolina no Brasil foram elevados ao longo do ano em razão do aumento da tributação. “Como o País está passando por um problema sério de corrupção e o governo está com dificuldade na arrecadação devido à crise econômica, a Petrobras está fazendo caixa”, avalia. Ele sustenta esse argumento com a afirmação de que o preço internacional do petróleo vem caindo nos últimos anos. Isso porque, em junho de 2008, o barril era comercializado na faixa de US$ 140. Seis anos depois, apresentou queda de 24,73%, mas ainda estava acima do patamar de US$ 100. O grande tombo ocorreu em 2015: no dia 28 de dezembro, a unidade era vendida a US$ 36,72. Ou seja, em pouco mais de sete anos, a cotação da commodity despencou 73,8%.

No Brasil, por outro lado, a presidente Dilma Rousseff (PT) assinou em janeiro decreto que eleva as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep (Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público), a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) incidentes sobre a comercialização de gasolina e óleo diesel, o que gerou impacto sobre o preço dos litros de R$ 0,22 e R$ 0,15, respectivamente. Ainda há expectativa de que, neste ano, o governo volte a aumentar a Cide de R$ 0,10 para R$ 0,50 por litro de gasolina. Nos últimos anos, as tarifas foram represadas para evitar aceleração da inflação.

Como consequência dos aumentos nos combustíveis derivados do petróleo, o etanol também tende a ficar mais caro. Isso porque os proprietários de veículos do tipo flex passam, então, a optar pelo álcool. O crescimento da demanda diminui a oferta e faz com que o biocombustível também encareça nas bombas.

Bianchi acrescenta que o dólar elevado também contribui para o aumento do etanol. “Para o usineiro, passa a ser mais vantajoso exportar o açúcar do que vender álcool no mercado interno.” Ele defende a criação de um estoque regulador de etanol, mecanismo que, na sua opinião, seria capaz de garantir a disponibilidade do combustível em momentos de alta procura ou baixa oferta, como na entressafra.

DIFICULDADES - Para o empresário, não são apenas os consumidores que sofrem com os aumentos. “Os donos de postos também são afetados. Eu estou neste ramo há 18 anos. A margem de lucro, que já foi de 17%, agora está abaixo dos 10%. Com isso, os postos que dependem somente da venda de combustíveis, ou seja, que não têm uma loja de conveniência forte, por exemplo, ficam com dificuldades financeiras. Já há diversos estabelecimentos fechando no Grande ABC.”


Álcool deixa de ser vantajoso nos postos da região

Desde novembro, o etanol deixou de ser vantajoso nos postos do Grande ABC. Isso porque o preço do litro do combustível derivado da cana-de-açúcar superou os 70% do que é cobrado pela gasolina. Em termos energéticos, os veículos costumam rodar com álcool percorreriam 70% do que se tivessem abastecido com gasolina.

Para saber qual compensa mais, o consumidor deve multiplicar o preço da gasolina por 0,7. Se o preço do etanol for superior ao resultado dessa operação, é mais vantajoso optar pelo derivado de petróleo.

Por exemplo: em dezembro, o preço médio da gasolina na região chegou a R$ 3,45 e o do etanol a R$ 2,56. Multiplicando a tarifa do litro da gasolina por 0,7, o resultado é R$ 2,41. Como o preço do álcool está acima disso, não é recomendável optar por esse biocombustível.

Em outubro, por outro lado, a gasolina era vendida na bomba a R$ 3,28 o litro e, o álcool, a R$ 2,27. O preço do etanol, na ocasião, era 69,2% do que era cobrado pela gasolina. Portanto, ainda era economicamente viável optar pelo combustível oriundo da cana-de-açúcar.

DIESEL - Entre 2001 e 2015, o preço do óleo diesel, combustível utilizado em ônibus e caminhões, teve variação de 231,96% nas bombas dos postos localizados no Grande ABC. O aumento provoca reflexo nos preços de mercadorias em geral, já que as elevações são repassadas ao custo do frete.

A subida é proporcionalmente superior à registrada pela gasolina e pelo etanol no período, de 103,35% e 187,43%.

Com exceção do etanol, os demais combustíveis subiram mais do que a inflação ao longo desses 12 anos. Entre dezembro de 2001 e novembro de 2015, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou 147,12%. Considerando a projeção do mercado financeiro, o total do período chegará a 148,12%. 




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