Refrescar-se do calor nas águas da Prainha do Riacho, localizada em frente à ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), em São Bernardo, não é uma boa ideia. Isso porque a condição da área está imprópria para banho, de acordo com relatório semanal de balneabilidade de mares e represas da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Porém, diferentemente do ano passado, não há fixada no local a bandeira vermelha que indica a situação e, com isso, centenas de banhistas divertiam-se tranquilamente na quente tarde de ontem.

A avaliação negativa é decorrente da presença da bactéria Escherichia coli. O critério utilizado é baseado nas normas estabelecidas pela Resolução Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 274/00. A água é considerada imprópria quando encontra-se quantidade superior a 800 UFC (Unidades Formadoras de Colônias) para cada 100 ml na maior parte do tempo. Para a classificação, são considerados os resultados obtidos pela análise de um conjunto de cinco amostras consecutivas, colhidas semanalmente no mesmo local.

Neste ano, em um total de 51 semanas (até o dia 23 deste mês, data do último boletim da Cetesb), somente em 16 a prainha mais popular da Represa Billings foi avaliada como própria para banho. A última vez que isso ocorreu foi em outubro.

“A Escherichia coli é uma bactéria abundante em fezes humanas e de animais, tendo somente sido encontrada em esgoto, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente. Então, significa que o local (a prainha) tem recebido recentemente grande carga de esgoto não tratado”, fala a bióloga e pesquisadora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Ângela Marcondes.

A especialista explica que a Escherichia coli, presente no intestino humano, não causa problema à saúde, mas, quando encontrada em outros locais, como a água utilizada para abastecimento ou mesmo para lazer, pode contaminar os que entram em contato com o líquido. “Essas bactérias podem causar doenças como a gastroenterite e infecção urinária, principalmente se em contato com o canal da uretra”, ressalta. “E se a pessoa estiver com o sistema imune debilitado, pode ser pior ainda, como é o caso de crianças, idosos, portadores de doenças autominunes como o HIV, pessoas operadas recentemente ou em tratamento de quimioterapia, entre outros fatores.”

Sem placas que indiquem a má qualidade de água, a informação só é passada se algum banhista indagar sobre a situação aos salva-vidas que circulam pela prainha. “A orientação do Corpo de Bombeiros é que, se alguém perguntar, a gente responde como está avaliada”, falou um deles, que preferiu não se identificar.

Banhistas reclamam de ausência de aviso

Quem se banhava ontem na Prainha do Riacho e ficava sabendo, por meio da equipe de reportagem do Diário, que a água não estava apropriada para o lazer reclamava da falta da bandeira vermelha alertando a situação. “Todo lugar tem problema, né? Mas se tivesse uma placa avisando que está imprópria, não entraria na água”, falou a dona de casa Nadia Jane, 28 anos, moradora de Santo André.

O marceneiro Elias Mariano da Silva, 46, morador da Capital, é visitante frequente da prainha juntamente com a família e afirmou que nunca teve nenhum problema por nadar no local. Mesmo assim, confessou que, se houvesse um aviso, “ficaria com receio.”
O ajudante geral Orlando Soares Costa, 58, começou a sentir coceira na pele ontem, logo após sair da água. “Fico com medo, mas a gente acaba entrando para se refrescar. Tomara que não aconteça nada”, disse ele, observando o filho de 10 anos, que se divertia nadando.

Dos cinco pontos de amostragem da represa avaliados pela Cetesb, somente a prainha da ETE Riacho Grande está imprópria. A área do Clube de Campo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a localizada próxima ao Zoológico do Parque Estoril, a do Clube Prainha Thaiti e a Prainha do Parque Estoril estão em condições próprias para banho.