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Sílvio Lancellotti - Champanha para celebrar
Especial para o Diário
23/12/2006 | 19:07
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Um vinho providencial para todos os tipos de celebração, do nascimento ao casamento, do Natal e do Ano Novo ao batizado de um barco ou um triunfo em uma prova de Fórmula 1, só pode ostentar o termo Champagne, oficialmente, no seu rótulo, o produto que nasce das terras controladíssimas de uma região do norte da França, entre as cidades de Reims e Troyes – a região, claro, de Champagne, formalmente demarcada, por lei, desde 22 de julho de 1927.

A defesa da exclusividade do termo é tão radical que mesmo a comuna de Champagne, no cantão de Vaud, na Suíça, com 660 habitantes, também capaz de um vinho de boa qualidade, aceitou em 1998, depois de uma longa disputa, um acordo com a França e retirou a palavra das suas embalagens. Igualmente, o estilista Yves Saint-Laurent se obrigou a interromper o lançamento de um perfume chamado Champagne, enfim reapelidado de Yvresse. Valem, somente, designações assemelhadas, como espumante ou frizzante.

A história do vinho de Champagne, de todo modo, começa cerca de dois milênios antes da lei de 1927, quando os invasores romanos se encantaram com o líquido dourado e repleto de borbulhas que os agricultores da região já obtinham de uvas colhidas bem jovens e, assim, menos açucaradas. Depois, na Idade Média, quando os monarcas da França se acostumaram a receber as suas coroas em Reims, tal vinho passou a integrar os rituais da corte – e o hábito depressa se espraiou através dos palácios reais da Europa.

Ironicamente, se deveu à Inglaterra, nos meados do século XVI, uma descoberta que facilitou a proliferação das borbulhas: grandes importadores do branco da França, os britânicos decidiram reduzir a sua acidez com a adição de açúcar. Esse procedimento multiplicou a fermentação de tal modo que, muitas vezes, as garrafas explodiam pela pressão interna. Excelentes vidreiros, os britânicos logo contornaram o problema com garrafas mais resistentes.

Daí, em 1670, coube a dom Pierre Pérignon (1639-1715), um monge da abadia beneditina de Hautvilliers, desenvolver as bases da técnica que se usa na feitura do champanha até hoje. Ao realizar um vinho com várias espécies de uvas da região, Pérignon separou as claras das escuras antes de prensá-las e só posteriormente as combinou. Ciente de que a fermentação, dentro do vidro, poderia provocar o estouro das garrafas, pessoalmente selecionou exemplares das mais resistentes, da Inglaterra. Enfim, ao invés dos tradicionais pauzinhos de cânhamo, embebidos em azeite, que funcionavam como tampas, buscou, na Espanha, rolhas providenciais de madeira de cortiça. Consta que, ao degustar o seu produto, clamou: “Corram todos que eu estou bebendo estrelas...”

O procedimento utilizado por Pérignon ganhou o nome de método champenoise – e também é exclusivo da região de Champagne. Existe um outro sistema, de resultado equivalente, o método charmat, inclusive mais econômico, embora menos autêntico, no qual a fermentação origina as bolhas dentro de imensos tonéis de aço inoxidável. Um italiano, o enólogo Federico Martinotti, inventou esse sistema em 1895. Não se preocupou, todavia, em registrá-lo. E, em 1907, perdeu a patente para o francês Eugène Charmat.

No fim do século XX, entrou na moda, no planeta, o vinho prosecco, um outro espumante de denominação protegida e exclusiva, oficialmente, de uma uva do Vêneto, no norte da Itália, região de Conegliano-Valdobbiadene. Em inúmeros concursos universais, de experimentação às cegas, houve vezes em que o prosecco bateu o champanha. Aqui, no Brasil, aliás, já se conseguem amostras de vinho do tipo champanha e do tipo prosecco de admirável qualidade. Obviamente, não cito marcas. Que o leitor se oriente pelo preço – mais alto, evidentemente, melhor o vinho. De todo modo, prefira um produto nacional aparentemente caro do que um estrangeiro traiçoeiramente barato.

A seguir, indicações de como abrir as suas garrafas de espumante, além da maneira perfeita de servi-lo. Ainda, três drinques irresistíveis nesta época singularmente calorenta do ano, mais uma receita que, diz a lenda, o saudoso roqueiro Elvis Presley (1935-1977) idolatrava.

Como abrir - Ao abrir uma garrafa de champanha evite as farras que você presencia no pódio da Fórmula 1. Não desperdice um líquido tão maravilhoso. Remova a capinha que cobre o topo do gargalo e desfaça o nó da armação de metal que prende a rolha. Envolva a garrafa com um pano. Segure firmemente a rolha, ainda com a armação de metal ao redor. Gire a garrafa – isso mesmo, e não a rolha. Idealmente, a rolha deve se livrar do gargalo sem ruído. No máximo, um rumor delicado, um breve suspiro. Ao servir, primeiro derrame um pouco do líquido no fundo da taça – de modo a resfriar o vidro e impedir o excesso de espuma. Após alguns instantes, complete a taça, sem permitir que o vinho, nervoso, transborde.

Receitas

Camarões Elvis Presley
Ingredientes, para uma pessoa
Um abacaxi, de tamanho médio; 4 camarões já limpos, cortados nas suas juntas anatômicas; 1 camarão com casca, porém sem a cabeça; sal; pimenta-do-reino; 1 colher (sopa) cheia de manteiga; 1 colher (sopa) cheia de cebola picadinha; 1/2 xícara (chá) de espumante de qualidade; 2 colheres (sopa) de creme-de-leite; 1 colher (chá) de folhas de hortelã bem batidinhas; 1 belo raminho de manjericão para enfeitar.

Modo de fazer
Com uma faca bem afiada, tirar na horizontal uma tampa do abacaxi, sem ferir a sua coroa. Delicadamente, escavar a polpa, de modo que sobre uma camada de fundo de um dedo de espessura. Picar a polpa em dadinhos. Temperar os camarões cortados com o sal e a pimenta-do-reino. Em uma frigideira, derreter a manteiga e, mansamente, murchar a cebola e os dadinhos de abacaxi. Agregar os camarões cortados. Refogar dois minutos em fogo baixo. Despejar o espumante e o creme-de-leite. Manter até que todo o conjunto se aqueça. No último instante, incorporar a hortelã. Mexer e remexer. Preencher o vazio do abacaxi com essa combinação. Decorar com o raminho de manjericão e com o outro camarão, bem dourado em outra panela.

Kir Violet
Modo de fazer
Em taça adequada, colocar uma colher (sopa) de licor de violeta Parfait d’Amour. Cuidadosamente, completar com seu espumante predileto, champanha ou prosecco, bem geladinho.

Bellini
Modo de fazer
Em uma taça adequada, colocar suco de pêssego, resfriado, até a metade. Completar com o espumante igualmente bem geladinho.

Kir Royale
Modo de fazer
Na taça adequada, como na foto, colocar uma colher (sopa) de licor de cassis, ou de groselhas. Cuidadosamente, completar com seu espumante predileto, champanha ou prosecco, bem geladinho.



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