Economia Titulo Cenário
Crédito em bancos privados cai 16,9%

Retração na atividade industrial e queda na
confiança explicam diminuição das concessões

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
02/08/2015 | 07:48
Compartilhar notícia
Divulgação


Os bancos privados diminuíram em 16,93% o volume de operações de crédito no Grande ABC entre 2014 e 2015, chegando a R$ 6,174 bilhões em abril. O levantamento foi feito pelo Diário com base na Estban (Estatística Bancária por Município), do Banco Central. Se considerada a inflação do período, de 8,17%, o decréscimo é ainda maior, chegando a 23,2%. A retração na atividade industrial e a queda no nível de confiança na economia brasileira explicam a redução na quantidade de recursos liberada para os clientes.

O total de empréstimos e financiamentos concedidos pelas sete maiores instituições financeiras privadas do País na região em abril – dado mais recente –, demonstra maior seletividade dos bancos pelo terceiro ano seguido. A última alta, de 21,95%, ocorreu de 2011 para 2012. De lá para cá, as liberações caíram 2,94% em 2013 e 1,71% em 2014. Portanto, as instituições intensificaram o ritmo de restrições a partir do ano passado, conforme a crise foi se agravando.

Por outro lado, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal “abriram as torneiras” e aumentaram em 59,66% o montante liberado para os clientes da região, chegando a R$ 20,811 bilhões em abril. Ao contrário do que ocorreu com as empresas privadas, os bancos públicos elevaram o volume de crédito aprovado nos últimos anos.

O desempenho das estatais puxou para cima o total das operações no Grande ABC, que aumentaram em 31,84% de 2014 para cá.

O professor Sérgio Cerqueira, do curso de Administração da FEI (Fundação Educacional Inaciana), destaca que a queda no crédito disponibilizado pelos bancos privados entre o ano passado e este foi influenciada pelos cortes do Safra (60,3%), Santander (4,91%) e Mercantil do Brasil (4,38%). “Há um ajuste na carteira de clientes relacionado ao perfil de negócios. O Safra é banco de atacado, que atua fortemente com pessoa jurídica. Neste momento de recessão, provavelmente deve ter reduzido o volume de crédito disponível, e as empresas frearam a demanda em razão da retração nos investimentos”, comenta o especialista, que é mestre em Economia. Já o Mercantil, acrescenta, tem forte atuação no financiamento de veículos. “Como há um encolhimento nas vendas desse segmento, é natural a redução.”

O HSBC retraiu em 0,61% a oferta de crédito na região. Os demais bancos privados de grande porte elevaram os aportes nas sete cidades. Proporcionalmente, a maior alta foi do Citibank (1,86%), seguido por Itaú Unibanco (0,94%) e Bradesco (0,21%).

“Os bancos privados preferem emprestar para menos clientes e a juros maiores. Isso porque, com a desaceleração da economia, aumenta o risco de inadimplência”, explica Erivaldo Costa Vieira, coordenador do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).


Instituições públicas aumentaram oferta em 59,66%

Na contramão das instituições privadas, que elevaram as restrições para empréstimos e financiamentos nos últimos anos em razão da desaceleração da economia nacional, os bancos públicos aumentaram a liberação de crédito para os clientes do Grande ABC em 59,66% entre abril de 2014 e o mesmo período de 2015, chegando ao total de R$ 20,811 bilhões. São R$ 7,776 bilhões a mais na comparação com o ano passado.

De 2011 para cá, o crescimento é de 231,19%. Especialistas ouvidos pelo Diário salientam que esse movimento, que surgiu com a recessão na economia mundial em 2008, vem ocorrendo em todo o Brasil, e não apenas no Grande ABC. “Houve uma ação deliberada do governo federal de capitalizar os bancos públicos, aumentando a participação no crédito total, para estimular a economia”, justifica o professor Sérgio Cerqueira, do curso de Administração da FEI (Fundação Educacional Inaciana).

Outra explicação é que, diante da negativa por parte da concessão de crédito pelas instituições privadas, os bancos estatais cumprem essa lacuna de mercado.

Entretanto, Cerqueira considera que o aumento de 59,66% é atípico, por ser acima da média. São Bernardo foi a cidade responsável por esse crescimento, onde os recursos quase dobraram neste ano. “Pode ser algum financiamento público ou alguma das grandes montadoras do município que contraiu crédito elevado.”

TENDÊNCIA - O coordenador do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Erivaldo Costa Vieira, avalia que os números devem cair nos próximos meses. Isso porque parte dos créditos liberados agora é oriunda de contratos assinados no passado, especialmente no setor imobiliário, já que as construtoras recebem verba de custeio de acordo com o andamento das obras, que seguem num ritmo mais lento.

Considerando que o PIB (Produto Interno Bruto) da região é de aproximadamente R$ 87 bilhões, o volume de crédito concedido no Grande ABC em abril deste ano equivale a cerca de um terço de toda a riqueza produzida nos sete municípios. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;