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Cirurgia plástica transforma vidas
Por Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
20/02/2005 | 16:46
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No futuro, a cirurgia plástica estará tão evoluída que será possível redesenhar o próprio rosto e pedir para o cirurgião lhe deixar parecido com Tom Cruise, Brad Pitt e outros bonitões do cinema. As mulheres ficarão com a cara e o corpo de Gisele Bündchen ou Juliana Paes. É a sedução das estrelas ao alcance do cidadão comum.

Essa cirurgia, que muda radicalmente o rosto das pessoas, parece assunto de ficção científica, ou daquela série de TV Extreme Makeover, mas já acontece de forma rotineira nos principais centros de cirurgia do país.

Não se trata de virar Tom Cruise ou Gisele Bündchen. A mudança ocorre por motivos funcionais e estéticos. Oito por cento da população brasileira têm algum tipo de deformidade no rosto, passível de tratamento cirúrgico.

Os mais comuns referem-se a pacientes que têm (ou tinham) o queixo muito proeminente. Outros, quando sorriem, vêem as gengivas saltar para fora dos lábios. Às vezes, a deformidade causa dificuldade para respirar e até falar. A cirurgia corrige a deficiência e o paciente ganha um novo rosto e uma nova vida social.

“Depois da plástica, a pessoa se transforma. Fica mais extrovertida, mais otimista em relação à vida”, afirma o médico Luiz Carlos Manganello Souza, 56 anos, titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, autor dos livros Cirurgia Ortognática e Traumatismo Bucomaxilofacial.

O problema anatômico chamado prognatismo (queixo muito grande, em desarmonia com o rosto) geralmente é detectado pelos pais ou pelo dentista quando a criança completa sete anos. São colocados aparelhos corretivos que devem fazer efeito até a criança completar 15 anos. Em 50% dos casos, o problema é corrigido. Se a correção não for bem-sucedida com o uso de aparelhos, é necessário que o adolescente seja submetido a uma operação plástica.

Operação – A cirurgia ortognática (do grego orto – acertar; gnática – mastigação) de redução de queixo demora cerca de 3h. Manganello Souza explica que o cirurgião abre o maxilar por dentro, serrando e cortando o osso respectivo. Isso é feito para liberar a arcada dentária de forma que ela venha para frente. O maxilar é fixado com uma miniplaca, presa à mandíbula com uma espécie de parafuso e que deixa o osso na posição ideal.

“A maioria das pessoas acha que o queixo é cortado. Não é isso que ocorre. Na realidade, o que se faz é corrigir a posição da mandíbula e do maxilar”, observa o especialista em cirurgia plástica.

Como o dentista é o primeiro profissional a verificar a existência da deformidade, cabe a ele encaminhar o paciente a um médico especializado. O problema é que não são todos que têm informação. “Há casos em que o dentista até assusta o paciente e diz coisas como: ‘É muito grande a sua deformidade, você pode morrer durante a operação’”, diz o cirurgião plástico.

Por esse motivo, Manganello Souza vem ministrando cursos que alertam os cirurgiões-dentistas para a possibilidade da correção. As atividades são realizadas mensalmente no hospital Igesp (telefone 3849-0900), em São Paulo.

Renascimento – A professora Janaina Aparecida Soares de Lima, 27 anos, de Mauá, tem duas vidas: uma antes e outra depois da cirurgia plástica. Até maio de 2004, Janaina mal se olhava no espelho. Raramente, usava batom ou realçava os olhos e o rosto com maquiagem. Na realidade, ela fugia do espelho. A imagem refletida era um inimigo a ser evitado. Janaina tinha a deformidade denominada prognatismo, que deixava seu queixo muito grande e tirava a harmonia do rosto. Até fazer a operação que mudou radicalmente seu rosto, Janaina enfrentou 12 anos de idas e vindas a consultórios de especialistas. “Essa cirurgia era a meta da minha vida”, revela.

A principal dificuldade foi descobrir que havia jeito de “consertar” o problema. Ela relembra: “Quando finalmente soube que era possível fazer uma operação, coloquei isso como objetivo e fui em frente. Demorou mais de uma década, mas eu consegui”.

Janaina disse que o tamanho desigual do queixo causava situações constrangedoras. “O pior foi na adolescência. A deformidade me incomodava. Vinha alguém e me pegava pelo queixo e dizia: ‘Olha o queixinho dela’. É uma ironia que chateia.”

A professora aconselha quem tiver um problema parecido com o seu a procurar ajuda. “Vale a pena. Hoje passei a usar rímel, sombra e até batom. Parece que tudo fica mais fácil na vida da gente.”

Sorridente, grisalho, trajando uma indefectível túnica verde de médico de série de TV, Manganello Souza, responsável pela mudança radical em Janaina, não quer nem pensar na hipótese de no futuro todo mundo ficar com a cara do Tom Cruise ou da Juliana Paes. “Vai ficar uma mesmice. Melhor nesse caso é ser feio”, diz, dando risada.



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