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Criador e treinador de aves de rapina vive na Vila Curuçá

Farmacêutico Diego Bitener tem em sua casa um gavião asa-de-telha e um falcão quiri-quiri; adestramento é feito em uma praça do bairro

Por Yago Delbuoni
Especial para o Diário
09/05/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Se você acha que em grandes cidades como Santo André animais de estimação são apenas cães e gatos, precisa conhecer o morador da Rua Bartira, na Vila Curuçá, Diego Daniel Alves Bitener, 33 anos. Sua profissão oficial é farmacêutico, mas, nas horas vagas, ele treina sua paixão: a falcoaria.

Em sua residência, Bitener cria um gavião asa-de-telha e um falcão quiri-quiri. O gosto pelos animais exóticos vem desde criança. “Sou nascido em Santo André, mas fui criado em Recife (Pernambuco) e nunca gostei de cachorro e gato. Quando era menor, tive répteis como lagarto e serpentes, todos com autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Minha mãe não entrava no meu quarto, tinha muito medo.”

Bitener começou a aprofundar os conhecimentos sobre aves de rapina após sofrer lesão na coluna. “Nessa época em que fiquei de ‘molho’ comecei a ler artigos em espanhol e em inglês sobre o manejo e lançamento. A partir daí, adquiri aves e gostei muito”, disse.

O farmacêutico garante que, para criar os animais, é necessário ter mais cuidados que com pássaros como o tradicional canário. “É importante prestar atenção na nutrição, no psicológico, que deve estar equilibrado, e no peso. Um animal muito pesado não consegue voar”, explicou.

O investimento médio de Bitener é de R$ 50 mensais em alimentação. A dieta das aves é composta por codornas, pintinhos e ratos. “Tem criadores específicos para consumo dessas aves. O alimento vem em lotes. Armazenamos a comida excedente em freezer separado do nosso. Na dieta não tem carne moída, frango, porque não dá os nutrientes necessários.”

Segundo Bitener, a alimentação e a rotina das aves precisam ser bem regradas para que não fiquem doentes. “Elas têm um tratamento específico para manter a saúde, porque é difícil encontrar veterinário especializado.”

Segundo o falcoeiro, o que o fez mudar dos répteis para as aves de rapina foi a interação. “Com os pássaros consigo notar evolução. No começo, são ariscos e depois vão amansando até virar grandes parceiros.”

Bitener já planeja adquirir mais aves de rapina. “Em breve terei dois filhotes de corujas para cuidar.”

Para treinar os animais, Bitener vai seis vezes por semana à Praça Itatiba, em frente à sua casa, onde se torna a atração do bairro. Porém, acredita que a cidade grande reserva várias ameaças para as aves de rapina. “Tem linhas com cerol, que podem ferir as asas ou as patas, e os rojões. Em dias de jogos, altero a rotina de voo para não correr o risco de que elas sofram alguma lesão.”

Um lugar no qual o farmacêutico gosta de lançar as aves para que tenham mais liberdade é a cidade de Catanduva, no interior paulista. “Lá há menos perigos e, mesmo assim, temos uma adrenalina ao soltar as aves porque não é 100% de certeza que voltem, já que podem se tornar presas de outros animais”, explicou.

No futuro, Bitener tem a intenção de ter uma chácara para montar um centro de reabilitação para bichinhos feridos. “Quero deixar legado para a falcoaria e alerta para que as pessoas prestem atenção nos animais silvestres.”

Clube é opção de lazer para idosos

O ponto de encontro dos idosos da Vila Curuçá é o Clube Francisco de Paula Peruche, na Praça Florindo Galhardo. Fundado há 27 anos, o espaço recebe, em média, 50 associados por dia, mas, quando há competição de bocha, o número pode chegar a 400 pessoas. Para fazer parte, não é necessário pagar mensalidade.

Com a atual estrutura, é possível jogar bocha, dominó e baralho. Há ainda pista de malha e futebol de areia que precisam de reparos, como explica o presidente do Peruche, Armando Evangelista Prado, 54 anos. “Como não cobramos mensalidade e precisamos fazer algumas reformas para reativar a cancha de malha, pedimos ajuda da Prefeitura e estamos aguardando.”

Prado é presidente do clube há sete anos e trabalha na lanchonete da agremiação como forma de angariar fundos para fazer a manutenção e a limpeza do local. Mesmo em dificuldades financeiras, para ele o trabalho é gratificante. “Os frequentadores gostam de mim e eu deles.”

Um dos visitantes assíduos é o aposentado João Burgueira, 73. Ele mora na Vila Curuçá desde 1962 e brincou: “Por ficar nesse bairro há tanto tempo, acho que gostei, e muito, daqui.”

O interiorano de Monte Azul Paulista, cidade próxima a Catanduva, a 420 quilômetros de Santo André, disse que o clube é boa opção de lazer. “Aproveito que o Peruche é perto da minha casa e jogo baralho, dominó, além de apreciar os jogos de bocha.”

A história do espaço se confunde com a do seu João. A Prefeitura de Santo André forneceu os materiais e a própria vizinhança, incluindo ele, construiu o local. “Tudo começou com o campo de futebol. Peguei muita areia da praia para colocar aqui e ajudei na enxada”, contou.

Floricultura fez arranjos até para o rei

Imagine trabalhar 35 anos em frente ao cemitério. Este é o cotidiano do casal Heidy Edmundo Antônio Lima, 57 anos, e Deisy de Jesus, 65, que até flores para o Rei Roberto Carlos já entregou.

Heidy é músico, mas foi na floricultura, localizada no boxe 3, em frente ao Cemitério Curuçá, que conseguiu o sustento. “É o meu ganha-pão. Gravei cinco discos, mas não ganhei nada.”

Segundo Lima, o casal é pioneiro na região. “Cheguei aqui há 35 anos, mas a Deisy trabalha neste ramo há 44. Ensinamos até os nossos concorrentes. Antes as flores eram entregues de forma simples. Ninguém fazia arranjo para presente ou coroas de túmulos.”

O trabalho dos floristas rendeu popularidade em Santo André. Para divulgá-lo, eles apostaram em ímã de geladeira da marca. “Mandei fazer tanto boneco de geladeira, que falava: ‘Em toda casa de Santo André tem três coisas: disco do Roberto Carlos, carnê do Silvio Santos e um boneco da floricultura.’”

Questionado sobre o segredo para fazer um buquê, o florista foi enfático. “Deve-se ter bom gosto.”

A flor mais requisitada é a rosa. “Posso ter orquídea e qualquer outra, se não tiver rosas, é como se a loja estivesse fechada”, falou.

Além de ser pioneiro, outro fato que causa orgulho a Lima é mostrar o trabalho para artistas como Cézar e Paulinho, Fábio Júnior, Chitãozinho e Xororó e Roberto Carlos. “Quando fizeram shows em Santo André, forneci as flores. O Roberto Carlos é o meu ídolo, a primeira música que aprendi a tocar no violão foi Detalhes. No show dele, pediram 200 rosas, e eu fiz uma linda cesta com laço azul e branco. O Roberto se vestiu das mesmas cores e levou o arranjo para o palco. Me senti ‘o cara’”, brincou.




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