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Aplicar rende mais que comprar carro, diz Fecomercio
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
13/07/2009 | 07:03
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Com a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) para veículos, em vigor desde o início do ano, torna-se ainda maior a tentação de trocar de carro ou comprar o primeiro automóvel. Como geralmente essas compras são feitas por impulso, ou mesmo por necessidade, dificilmente se tem o valor parcial ou total do preço do veículo.

Como já é sabido, mesmo os juros estando em torno de 1,5% ao mês, o prazo do financiamento é cada vez mais longo. O resultado é que se acaba pagando quase duas vezes o valor do automóvel à vista.

Estudo da Fecomercio apontou que para um carro de R$ 50 mil parcelado em cinco anos os juros somam R$ 20 mil. Se o consumidor aplicar na poupança, com rentabilidade de 0,3% já descontada a inflação, a entrada - cerca de R$ 10 mil - e o valor das parcelas pagas durante 60 meses - em torno de R$ 1.106 - , seria gerado saldo de R$ 78 mil ao final do período.

"Se um jovem de 20 anos poupar por cinco anos, ao final do período, além de comprar um carro de R$ 50 mil à vista, teria adicional de R$ 28 mil que poderiam continuar aplicados. Repetindo essa fórmula até os 65 anos, o adicional seria de R$ 592 mil", afirmou o economista da Fecomercio, Fábio Pina.

Na hipótese desse jovem continuar aplicando dessa maneira, aos 65 anos ele teria adquirido nove automóveis por R$ 450 mil (um carro de R$ 50 mil a cada cinco anos) e somado R$ 592 mil.

CULTURAL - No entanto, é difícil encontrar quem consiga juntar dinheiro para comprar um carro à vista, seja por falta de paciência em poupar ou por dificuldades financeiras. "Muitas vezes começa-se a poupar, mas surge alguma dificuldade que força a pessoa a sacar o dinheiro da poupança", afirmou o professor de teoria econômica da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marcos Antonio Biffi.

Para ele, isso também deve-se à questão cultural. "Em alguns países da Europa, não se compra um carro zero sem ter a casa própria. Aqui, há muita gente com carro novo e pagando aluguel", opinou.

Para Biffi, um automóvel é objeto de desejo que geralmente as pessoas querem ‘consumir no ato', sendo muitas das compras feitas por impulso. Prova disso foi o recorde de vendas de veículos em junho, quando ainda não havia sido anunciada a prorrogação do benefício do IPI.

Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), em plena crise econômica foram vendidas 300 mil unidades, montante 17,2% superior ao ano passado, quando a economia estava à pleno vapor.

Na avaliação de João Eloi Olenke, diretor técnico do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a redução proporcionada pelo benefício do IPI é pequena. "Atinge, no máximo R$ 1.500 para veículos populares. As pessoas compram mais por conta da forte propaganda."

Como aliado, há o financiamento facilitado. "Dificilmente a classe média compra algo à vista. Nem uma geladeira de R$ 2 mil. São poucos os que têm condições, caso das classes A e parte da B. A cada 10 pessoas, somente uma consegue pagar à vista", afirmou Olenke.

O parcelamento de bens muitas vezes é necessário, mas deve-se entender o lado negativo. "Em cinco anos, um veículo é bastante depreciado. Com uma inflação média de 5% ao ano, ao final do período a descapitalização será de 25%." Ou seja. se o valor do automóvel for R$ 20 mil à vista, em 60 meses o comprador à prazo terá pago cerca de R$ 30 mil e o veículo valerá em torno de R$ 15 mil.

VALE ESPERAR - O jornalista Marcelo Galli, de 28 anos, comprou em abril de 2008 seu primeiro carro. No entanto, desde novembro de 2006 ele aplicava R$ 500 por mês. "Juntei R$ 4.500 em um ano e meio. Aproveitei também que tinha saído do emprego e somando tudo obtive R$ 10 mil."

Galli comprou um Ford Ka ano 1998 por R$ 13,5 mil. Para isso, pediu emprestado ao pai R$ 2,5 mil e negociou desconto de R$ 1.000.




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