Economia Titulo Cenário
Indústria está cautelosa
quanto ao próximo ano

Competitividade em queda em relação aos produtos
asiáticos e carga tributária são prejudiciais em 2014

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
26/12/2013 | 07:00
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Divulgação


 O cenário de 2014 para a indústria da região ainda está repleto de incertezas. Perto do encerramento de 2013, o setor avalia que o ano foi inferior às expectativas, tanto em relação aos resultados quanto aos aspectos econômicos que poderiam ter contribuído para um melhor resultado. E entende que o principal agente que pode proporcionar mudanças para uma melhora, em 2014, é a máquina pública.

Além disso, entidades do setor cobram, por parte do governo, principalmente, incentivos e fiscalizações, para que a concorrência com os importados não seja tão desleal.

“Estamos avaliando com mais cautela. Se de 2012 para 2013 havia um viés de otimismo moderado (em relação às condições para a indústria), para 2014 estamos com muito mais cautela”, disse o diretor titular do escritório regional de São Bernardo do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Hitoshi Hyodo.

<EM>Os analistas do mercado financeiro que contribuem para a formação do boletim Focus, do BC (Banco Central), por exemplo, estimavam no fim de 2012 que a produção industrial cresceria 3,5% neste ano. No relatório de 13 de dezembro, a previsão estava menor, com avanço de apenas 1,61%.

 

BARREIRAS - Um dos primeiros problemas enfrentados pelos empresários é a queda de competitividade que, segundo o professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo e coordenador do Observatório Econômico da instituição de ensino, Sandro Maskio, começou a ficar mais relevante no começo de 2011. Naquela época, as empresas estavam engrenando após a crise financeira mundial, iniciada em 2008. Por isso, começaram a busca por preços mais atraentes e justamente nessa lacuna os chineses ganharam força.

Como vem sendo amplamente criticada pelos agentes econômicos, a importação, principalmente dos países asiáticos, tem sido o golpe mais profundo para a indústria da região, ainda mais quando o assunto é a cadeia automotiva, com grande presença nas sete cidades.

Empresas do setor de autopeças têm enfrentado ampla concorrência com os produtos chineses, por exemplo. “As montadoras, mesmo sob o regime Inovar-Auto, que tem como objetivo nacionalizar a maioria da produção, estão comprando dos sistemistas, que por sua vez adquirem mercadorias importadas e aponta como produtos nacionais na hora da venda”, explicou o primeiro vice-presidente do escritório regional de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra do Ciesp, Norberto Luiz Perella.

Os sistemistas são os fornecedores comerciais mais próximos das montadoras de primeira e segunda cadeias. Essas empresas entregam partes dos carros prontas, sistemas completos para serem usados na linha de produção. O grande problema está em quem eles compram as pequenas peças.

O governo, inclusive, oferece benefícios às empresas que priorizarem a produção nacional. As companhias têm isenções fiscais. O programa Inovar-Auto prevê desconto de até 30 pontos percentuais no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis produzidos e vendidos no País, por exemplo.

No entanto, com experiência de causa, tendo em vista que também veste a camisa de presidente da Associação das Empresas Metal-Mecânicas do Grande ABC, Perella acrescenta que o governo ainda não atua efetivamente em um dos principais papéis para que o regime automotivo beneficie também o restante da cadeia automotiva, e não só as montadoras e os sistemistas. “O que nós temos pedido, e muito, é a melhor fiscalização. Portanto (sem isso) não vejo muitas mudanças para 2014”, avalia.

Essa grande concorrência com os produtos asiáticos também tem afetado as indústrias de usinagem de plástico em Diadema, tanto que várias delas acabaram fechando suas portas em 2013, destaca o diretor do escritório regional da cidade do Ciesp, Donizete Duarte da Silva. “Vamos fazer o melhor possível”, desabafou ele, lembrando que o Ciesp tem realizado trabalho de apoio para melhores práticas de gestão e apresentação para evitar que mais portas sejam fechadas.

NAS MÃOS DO GOVERNO - “O governo poderia chegar a conclusão definitiva de que diminuir imposto significa aumento de arrecadação”, critica Hyodo, do Ciesp de São Bernardo. Ele se refere à redução do IPI, tanto no setor automotivo quando à linha branca e materiais de construção, que elevou as vendas e não teve impacto negativo na receita governamental.

Hyodo acredita que uma redução na carga tributária para todas as indústrias, independentemente do porte, seria o passo inicial para aumentar a competitividade.

Perella vai além e exemplifica a situação. “O custo da mão de obra, por exemplo, acaba ficando muito alto. E eu não falo de salário. A cada R$ 1.000 que você paga para o trabalhador, a indústria tira do bolso R$ 2.200 por causa dos tributos.”

Além disso, há as questões do câmbio e dos créditos. No caso do dólar, dizem os especialistas, a valorização da moeda norte-americana não seria a solução por si só, tendo em vista que melhoraria a situação na exportação, mas o mercado interno continuaria com um bombardeio de importação mais barata.

Já no caso dos empréstimos, destaca Hyodo, as companhias menores dificilmente conseguem aprovações de projetos de investimentos com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). “Há muitas dificuldades. E para comprar uma máquina a fim de aumentar a produção, por exemplo, estamos falando em algo acima de milhões de reais”, diz o representante do Ciesp.




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