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Quem não deve é que teme

Quem deve, que pague. Mas é dura a vida de quem não deve: sofre os mesmos constrangimentos de quem deve

Carlos Brickmann
08/04/2009 | 00:00
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Quem deve, que pague. Mas é dura a vida de quem não deve: sofre os mesmos constrangimentos de quem deve, e sem ter aproveitado antes.

Um exemplo: Manuela Rampazzo, arquiteta, teve a vida xeretada pela equipe do delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha (seu nome está no computador do delegado, apreendido por ordem judicial). Manuela é filha de jornalistas, Eliane Cantanhede, da Folha de S.Paulo, e Gilney Rampazzo, diretor de uma grande e prestigiada produtora, a GW. Mas não foi bisbilhotada por causa dos pais: meteram-se na sua vida porque levou um projeto arquitetônico ao jornalista aposentado Fernando César Mesquita, que estava sendo monitorado - e estava sendo monitorado sem qualquer ordem judicial.

Dois grandes grupos, os fascistas e os ingênuos, têm apoiado a bisbilhotagem da vida de qualquer um. Os fascistas, porque faz parte de sua ideologia: no Estado que querem, pensar diferente é crime grave, que deve ser detectado e punido. Os ingênuos, porque acham que quem não deve não teme, e se orgulham de dizer que se alguém os monitorar não vai encontrar nada. Mas vai: vai encontrar um namoro escondido, uma fofoca contra o chefe, os segredos dos filhos. E há as interpretações policiais: aquele buquê de flores, dirão os relatórios, pode ser código para ecstasy. E dizer que o filme é bom pode se referir à qualidade da cocaína.

Temam, pois. Como diria um dos maiores líderes da História, cuja Ressurreição festejamos agora, quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.

BOMBA OU TRAQUE?

Está marcado para hoje o depoimento do delegado Protógenes Queiroz na CPI das Escutas Telefônicas da Câmara dos Deputados. A data original era 1º de abril, mas foi mudada pela CPI. Protógenes depõe sob a proteção de um habeas-corpus obtido no Supremo Tribunal Federal, que lhe dá o direito de permanecer calado e de não ser preso. É uma grande chance: Protógenes poderá, sem risco pessoal, cumprir a promessa de contar tudo sobre o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, e a conduta daqueles que considera seus aliados.

CRUZ, CREDO

O secretário da Fazenda de São Paulo, Mauro Costa, aquele que propôs que os sonegadores de impostos sejam crucificados (e, com raro senso de oportunidade, ainda por cima falou nas proximidades da Páscoa), poderia também tratar de outro assunto: o que fazer com as autoridades que se recusam a pagar dívidas já transitadas em julgado. São os precatórios: a Justiça manda pagar, as autoridades devem reservar a verba no Orçamento seguinte, e pronto. Na prática, só pagam quando querem. O governo paulista deve R$ 16,3 bilhões: já esgotou todas as instâncias judiciais e tem de pagar. Mas não pagou. Qual a pena proposta pelo secretário crucificador? Aliás, o governador tucano Serra ainda não o demitiu?

MORTE AOS INIMIGOS

Ninguém entendeu direito a presença de Roberto Mangabeira Unger, ministro do Futuro, ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim, no seminário Estratégia de Defesa Nacional e Indústria Brasileira, ontem na Câmara. É simples: os dois ministros agem em sólida parceria. Primeiro, Mangabeira Unger enfraquece o inimigo, cansando-o com seus discursos naquela estranha língua que utiliza. Em seguida, entra Nelson Jobim, com o roliço corpanzil recheando um uniforme de camuflagem para a guerra na selva, e faz o inimigo morrer de rir.

ESCÂNDALO

Na Assembleia de São Paulo, um novo prédio que deveria custar R$ 12 milhões já usou a verba toda e está parado há alguns anos. Os excelentes móveis para decorá-lo foram comprados e estão ocupando espaço na Assembleia. Os ex-presidentes e demais componentes da Mesa têm direito a gabinetes especiais, com todo o pessoal e infraestrutura, mas usam ainda os gabinetes comuns, também equipados com o devido suporte e pessoal, multiplicando os gastos. Mas o escândalo, revelado pela Rede Bandeirantes, não é este: escândalo é o presidente da Assembleia, deputado Barros Munhoz, PSDB, dizer que não vai fazer nada. Reconhece que há "excessos", mas diz que não são "prioridade em sua gestão". E não quis explicar-se, alegando que "não é pautado pela imprensa". Então, tá.ckman




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