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Hábitos do dono influenciam cão
Por Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
29/01/2006 | 09:23
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O que fazer quando aquele que era para ser o seu melhor amigo o ataca? Desde o início do mês, quatro pessoas foram mordidas por pit bulls no Grande ABC. Uma delas, um garoto de 8 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu. A série de casos reacendeu a polêmica em torno dos cães tidos como agressivos. E essa lista não se encerra apenas com os pit bulls. Inclui ainda raças como doberman, rottweiler, fila brasileiro, mastine napoletano. Nem mesmo o pastor alemão escapa do rótulo. Apesar da má fama desses cachorros, especialistas são unânimes: o problema da agressividade não está nas raças, mas sim nos hábitos, mesmo que involuntários, dos donos.

Gestos simples, que muitas vezes passam desapercebidos no dia-a-dia, podem despertar instintos violentos nos cães. “Aquele cachorro que fica largado no fundo do quintal, preso o dia inteiro, tende a ter um acúmulo de energia. Se essa energia não for dissipada, ela se transforma em estresse e o cachorro passa a ter reações incomuns”, diz Marcos Vergueiro, que há 15 anos trabalha com adestramento de cães e é especialista em sinofilia, ciência que estuda a árvore genealógica das raças com enfoque nos hábitos e comportamentos de cada linhagem. Essas “reações incomuns” foram sentidas na pele por uma funcionária pública de Mauá, no início desta semana.

A mulher, que pediu para ter a identidade preservada, foi atacada por seu cachorro de estimação, um vira-latas fruto do cruzamento entre um cocker e um rotweiller. “Eu estava deitada no sofá da sala. Enquanto via TV, fazia carinho no Huck (nome do seu cão). Quando parei com o cafuné, ele pulou em cima de mim e começou a me morder. Só parou quando meu irmão o cobriu com um cobertor e o tirou de cima de mim”, afirma a funcionária pública. Ela teve ferimentos nas mãos e nos seios. Antes disso, Huck – que tem apenas 11 meses – havia atacado quase toda família da mulher. “Nunca demos motivo para que ele fizesse isso. Era sempre do nada que acontecia”, diz.

Após o ataque no sofá, Huck foi levado para o canil do Centro de Zoonoses de Mauá, onde permanecerá em observação por 10 dias. Nesse período, ele terá seu comportamento analisado. Se for constatado que Huck é realmente um cão feroz, ele será sacrificado com uma injeção letal. Hoje, no Grande ABC, outros 13 cães estão nessa mesma situação, após atacarem pessoas dentro de suas casas ou mesmo na rua. O quadro pode ser preocupante se considerado o número de cães no Estado. Na capital, a estimativa é de que a relação seja de um animal para cada sete pessoas. No interior e no litoral, a média é de um cão para cada quatro pessoas, segundo estudo recém-concluído pela Secretaria de Estado da Saúde.

“É um número que impressiona. Mesmo porque não tínhamos a mínima idéia de quantos cachorros existiam nessas regiões. Outro dado interessante é o de que 52,5% das residências (no litoral e no interior) possuem pelo menos um cão de estimação”, afirma a diretora do Instituto Pasteur, referência no tratamento da raiva, Neide Takaoka. Os dados foram coletados em 41 cidades do Estado em 2002. Nos quatro anos seguintes, os dados foram tabulados pelo governo. Os resultados finais foram conhecidos apenas nesta semana. Agora, o Estado pretende utilizá-los para definir políticas de saúde pública. “Poderemos saber, por exemplo, se uma cidade conseguiu vacinar todos seus cães”, diz Takaoka.

Dicas – Outro aspecto fundamental ao adquirir um cão, segundo o adestrador Marcos Vergueiro, é procurar conhecer a função do animal. Cães como pit bull, doberman e rottweiler são considerados de guarda. Delimitam território e se tornam agressivos quando essa área é invadida. É assim que muitos ataques ocorrem. Ainda há cães de caça, pastoreio e domésticos – esses já bastante adaptados ao convívio com o homem e que reúnem algumas raças populares, como poodle, yorkshire e maltes.

Outra dica fundamental para evitar agressividade do animal é não deixar que ele se sinta o líder da casa. Isso ocorre quando o cão tem todas suas vontades atendidas. “Pode parecer estranho, mas ele encara as pessoas da família como outros cachorros da matilha. Quando se considera líder, ele se sente na obrigação de manter o local em ordem, mesmo que seja preciso morder alguém”, afirma o veterinário Paulo Sérgio Salzo, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Metodista.

Aprenda

Os sete mandamentos para fazer do seu cão um animal dócil

1º) Não ceda a todas as vontades do cão, para que ele não se sinta o líder da casa. Quando isso ocorre, ele se sente no direito de organizar ao modo dele o ambiente em que vive, mesmo que seja por meio da agressividade.

2º) Nunca bata no seu cachorro para tentar educá-lo. A agressividade poderá fazer dele um animal medroso e, quando ele se sentir acuado, poderá usar a força para se defender.

3º) Tente manter um clima de harmonia dentro de casa. O cachorro pode desenvolver um comportamento agressivo ao conviver em uma residência onde há brigas constantes.

4º) Na rua, evite se aproximar de grupos de cachorros que estão procriando. Nesse período, o temperamento do animal é alterado e ele pode ter atitudes incomuns. Também evite aproximação durante a alimentação.

5º) Ao adquirir um animal, procure se informar sobre sua função. Alguns animais são destinados à guarda, outros ao pastoreio e ainda há aqueles que são apenas para criação doméstica. Isso auxiliará na compreensão do comportamento do animal.

6º) Quando há possibilidade de escolher um cão entre um grupo de filhotes, opte sempre pelo animal mais calmo. Cães agitados quando filhotes manterão o mesmo comportamento quando adultos.

7º) Evite deixar o animal preso em canis ou amarrado em correntes; o confinamento aumentará o nível de energia do cachorro e isso poderá estressá-lo, tornando-o agressivo.

Conheça as raças

Cães de guarda
Função: trabalham com a demarcação de território, por isso dificilmente são sociáveis com outros cães e pessoas desconhecidas. Raças: pastor alemão, mastino napoletano, fila brasileiro, doberman, rottweiler, pit bull, schnauzer.

Cães pastores
Função: originalmente, auxiliam no manejo de animais de grande porte, como bois. São dóceis e não têm problemas de sociabilização. Raças: australian cattle dog, border collie.

Cães de caça
Função: utilizados para apontar ou trazer animais abatidos durante a caçada. São ativos e convivem bem em grupo. Raças: retriever, labrador, pointer, cocker.

Cães domésticos
Função : totalmente adaptados ao convívio com o homem. Esse grupo reune as raças mais populares de cães. Raças: yorkshire, poodle, pinscher, lhasa apso, maltes.

Fonte: UIPA, Centros de Zoonoses e veterinários.




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