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Ópera Olga
Por Gislaine Gutierre
Do Diario do Grande ABC
13/10/2006 | 20:04
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Quando criança, o compositor Jorge Antunes ouvira várias vezes, de sua mãe, a história de uma mulher corajosa que, grávida, lançara-se na frente de seu marido, o líder comunista Luís Carlos Prestes, para evitar que o matassem. Aquela trágica cena e toda a saga da revolucionária Olga Benário Prestes agora transpõe os limites da memória afetiva de Antunes e, calcada na história, ganha os palcos como Olga, ópera criada pelo carioca, que tem sua estréia mundial neste sábado, às 20h30, no Theatro Municipal de São Paulo. Até o dia 22, serão cinco récitas.

Antunes levou dez anos para compor a ópera. Quando começou a fazê-la, em 1987, havia muitos motivos além das lembranças da infância. Na juventude, o autor foi dirigente no movimento estudantil carioca; participou da luta contra a ditadura e, quando o governo militar baixou o AI-5, o físico e músico foi sumariamente demitido do conservatório onde lecionava, junto com colegas como Edino Krieger e Guerra Peixe.

Depois disso, foram cinco anos sobrevivendo no exterior (Argentina, Holanda e França) graças a bolsas de estudo em música cedidas pelos respectivos governos. Na volta ao Brasil, continuou sua luta. E foi dele a criação da Sinfonia das Diretas executada por 173 buzinas de carro em Brasília.

“Não passei 3.650 dias escrevendo a ópera. Sou professor (na UnB) e precisava dar aulas. Também não sabia quando ela seria realizada”, conta. Para a missão, teve a companhia do libretista Gerson Valle, seu ex-aluno.

A principal referência bibliográfica foi Olga, da alemã Ruth Werner. O livro de Fernando Morais só saiu em 1986, quando a dupla tinha meio caminho andado. Ainda assim, faltavam informações. “Os dois livros são cheios de lacunas com relação aos sete últimos anos de sua vida, a partir de 1936, quando foi deportada do Brasil para a Alemanha”, diz.

Graças a uma bolsa da CNPq, Antunes pôde viajar à Alemanha, onde descobriu muito mais sobre a heroína. “A Ruth Werner falava sobre algumas canções revolucionárias e de ninar, que Olga cantava na prisão. Eu as encontrei”, diz o autor, que inseriu o material na ópera. Entre outras coisas, descobriu que Olga fora submetida a um “exame de raça” e considerada “meio ariana”, por seus cabelos louros e olhos azuis. Os nazistas ofereceram-lhe a possibilidade de ser transferida do grupo das judias para o das presas políticas. Mas, solidária às companheiras. não aceitou.

Antunes também revela que Olga trabalhou como operária em uma fábrica da Siemens tomada pelos nazistas no campo de concentração de Ravensbrück, “Ali, foi acusada de sabotagem”, diz. “Olga em nenhum momento esmoreceu”.




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