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Região atende 23 mil usuários em serviços de saúde mental

Na Semana da Luta Antimanicomial, cidades ampliam diálogo sobre preconceito e desafios

Joyce Cunha
Da Redação
17/05/2022 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


O Paço de Santo André reuniu ontem trabalhadores da saúde, usuários da Raps (Rede de Atenção Psicossocial) e seus familiares para dar voz à importante causa. O encontro marcou a abertura da Semana da Luta Antimanicomial na cidade. No Grande ABC, as prefeituras mantêm serviços de referência para pacientes com transtornos mentais. Neste ano, cerca de 23 mil usuários passaram pelas unidades psicossociais. Os dados não incluem Rio Grande da Serra, que não informou número de usuários atendidos.

Rodas de conversa, exibição de filmes e desfile de moda com peças confeccionadas por pacientes da saúde mental fazem parte da programação promovida pelos municípios ao longo do mês. 

Santo André elegeu, coletivamente, o tema Resistir para Existir. “É preciso ter coragem para fazer o que a gente faz, da forma como a gente faz, para encarar a luta antimanicomial como uma política pública real. Essa luta transforma a vida de muita gente. Esse é um ato de resistência. Um direito e, sem dúvida alguma, um grande recado que a sociedade e a cidade de Santo André dão contra o preconceito”, declarou o prefeito Paulo Serra (PSDB), durante evento de abertura da programação.

Mário Alexandre Moro, 57 anos, é paciente de um dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) de Santo André há 20 anos, desde a implantação dos serviços. Antes da reforma psiquiátrica, garantida por lei federal de 2001, ficou internado em duas instituições hospitalares. “Já sofri na pele essa questão do preconceito, a discriminação. No período em que estive internado, sofri com a tortura, com maus-tratos”, recordou.

Além de paciente, Moro se tornou militante na luta antimanicomial e na defesa das Raps. “A partir do momento que saí do hospital, comecei a ter tratamento humanizado em um Centro de Atenção Psicossocial. E acompanhado por uma equipe multidisciplinar de saúde. A minha vida se transformou completamente, porque eu pude, com o passar do tempo, ter processo de inclusão e de inserção social.”

PROGRAMAÇÃO

A Secretaria de Saúde de Santo André realiza hoje, das 9h às 17h, série de atividades no Parque Antônio Pezzolo (Chácara Pignatari). Entre os destaques, o espaço sediará o desfile Mental Fashion Day, às 15h, com trajes confeccionados pelos usuários das oficinas de artesanato dos Caps. 

Em São Caetano, os Caps AD e Geral promoverão palestras, rodas de conversa, atividades manuais e apresentação de artistas com transtornos mentais. A Prefeitura de São Bernardo ampliará os debates sobre desinstitucionalização do tratamento e liberdade em rodas de conversa, por meio de saraus e sessões de cinema.

Amanhã, Dia Nacional da Luta Antimanicomial, o Parque Oriental de Rïbeirão Pires receberá roda de conversa. A Prefeitura de Mauá realizará, no dia 23, encontro formativo para trabalhadores da saúde. Diadema terá rodas de conversa sobre desafios da luta antimanicomial. Rio Grande da Serra informou que destacou o assunto em abril, durante a Plenária Municipal de Saúde Mental. 

Luta antimanicomial coleciona desafios

Pouco mais de 21 anos depois da aprovação da reforma psiquiátrica no Brasil, profissionais, usuários da saúde e militantes da luta antimanicomial seguem empenhados em combater modelos considerados inapropriados para o tratamento de pessoas com transtornos psicossociais. 

“Há décadas estamos na luta em defesa do cuidado humanizado com as pessoas em sofrimento psíquico, com serviços que contemplem a individualidade, a subjetividade e não sejam realizados de forma massificada, como são os serviços manicomiais, que muitas vezes tratam as pessoas de forma desumana, com violação de direitos. Essas pessoas têm sido confinadas em espaços análogos a manicômios, com outros nomes, mas que reproduzem o mesmo tipo de prática”, avaliou Annie Louise Saboya, psicóloga e conselheira do CRP-SP (Conselho Regional de Psicologia).

Além de problemas antigos, novos desafios foram impostos à luta no contexto pós-pandemia do coronavírus. Depois de quase dois anos de medidas de isolamento físico, a saúde mental ganhou maior espaço nos debates e publicações em canais de comunicação.

“Observamos maior procura por serviços de saúde mental. Ouvimos muito mais nas mídias falarem dos prejuízos que o isolamento trouxe para crianças fora da escola, por exemplo. Em todas as faixas etárias houve prejuízos. Existe essa discussão de que os serviços ganharam mais visibilidade. Mas, ainda assim, não ganharam mais recursos, infelizmente. Essa é uma das pautas da luta antimanicomial, por mais recursos no SUS (Sistema Único de Saúde) e no Suas (Sistema Único de Assistência Social) e em outras políticas que atendam a população”, observou a especialista.

O combate ao preconceito também se mantém em evidência na luta antimanicomial. “Ainda há muitos preconceitos relacionados ao tema, principalmente em torno dos usuários de drogas, que são vistos como doentes ou criminosos, sem considerar que são pessoas que podem ter tido problemas na vida. A ideia é irmos transformando como vemos as questões e fortalecendo o que já sabemos que dá certo em outros lugares do mundo, como a redução de danos”, destacou. 




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