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Na região, 54 postos de combustível estão fechados

Boa parte deles está abandonada e com solo contaminado, o que impõe riscos à saúde

Por Vagner Aquino
Flavia Kurotori
22/10/2017 | 07:10
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Celso Luiz/DGABC


A Rua dos Vianas (São Bernardo) e as avenidas Prestes Maia (Santo André), dos Estados (São Caetano) e Castelo Branco (Mauá) sequer estão na mesma cidade, porém, têm algo em comum: abrigam postos de combustíveis abandonados. Além de deixarem a paisagem feia e, algumas vezes, servir de abrigo para moradores de rua ou mesmo tráfico de drogas, esses locais escondem também o risco de contaminação do solo.

Segundo o estudo Brasil Empresas, realizado pela IPC Marketing Editora, o número de postos de combustíveis no Grande ABC passou de 644 unidades em 2015, para 590 em 2017 – redução de quase 9% ou 54 estabelecimentos, sendo que boa parte deles encontra-se abandonada, conforme estima Wagner de Souza, presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC). “Porém, ainda não foi feito levantamento para saber, de fato, quais os motivos de tais fechamentos e abandono”, comenta.

Cabe salientar que nem sempre posto abandonado é sinônimo de contaminação do solo, embora isso ocorra com certa frequência. “Temos de ter mais cuidado ao conceder o alvará (cedido pelas prefeituras). É necessário ver quem, de fato, serão os proprietários, seus históricos, até mesmo para que as nossas cidades não virem este cemitério de postos”, enfatiza o presidente do Regran.

Os motivos, no entanto, são vários. “Há desde os casos que estão sub júdice (judicialmente impedido de praticar atividade), ou que fecham as portas devido a abalo financeiro e concorrência desleal”, exemplifica Souza. Tal competição é provocada, geralmente, por estabelecimentos que adulteram combustíveis ou não o adquirem em refinarias legalizadas, praticando, assim, preços bem menores do que a média. Postos de redes supermercadistas também costumam oferecer valores mais baixos. E, na crise, o consumidor acaba sendo atraído para esses estabelecimentos.

“A maior parte dos fechamentos (de postos) ocorre por causa de fiscalização mais intensa”, avalia Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing Editora. Ele não acredita que a crise motive os encerramentos, uma vez que a frota de veículos das sete cidades registra crescimentos anuais – de 1,78 milhão em 2015 para 1,8 milhão em 2016, aumento em torno de 1%.

Em três postos visitados pela equipe do Diário, desativados e dados como abandonados, passaram a ser utilizados para outras atividades. Um deles, na Avenida Pereira Barreto, em Santo André, era conhecido como Jaguar e encerrou as atividades há mais de 15 anos por motivos desconhecidos. Atualmente, borracharia continua no local, porém, seu funcionamento sempre foi independente do posto.

Na Rua dos Vianas, em São Bernardo, antiga unidade da bandeira Shell fechou há mais de dez anos também sem motivos claros. Com a saída do locatário, o proprietário do terreno optou por cercar o local, que hoje funciona como estacionamento. Já em São Caetano, na Avenida dos Estados, um de bandeira branca está fechado há cerca de sete meses, após a morte do dono, conforme explicaram comerciantes do entorno, que utilizam o espaço para estacionar os próprios carros. Ocasionalmente, o local atrai pessoas em situação de rua que dormem na área coberta, além de vândalos já terem quebrado um dos vidros da antiga loja de conveniência.


Reparo de área contaminada é dever do proprietário

Muitos destes postos de combustíveis abandonados no Grande ABC têm como motivo do fechamento a contaminação do solo e, por determinação da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), são interditados. A relação de áreas impróprias abrange postos com suspeita de infecção, em investigação da impureza, com contaminação confirmada e em processo de remediação e reabilitados, informa a companhia, conforme dados atualizados em dezembro.

O órgão afirma que “os riscos oferecidos por essas áreas contaminadas variam conforme a situação, dependendo do grau de contaminação, podendo atingir as águas subterrâneas ou exalar vapores pelos sistemas de drenagem, devendo passar por ações de controle para minimizar os riscos”.

Nestes casos, o último dono do posto (ou inquilino, no caso de espaço locado) é obrigado a providenciar a recuperação do mesmo. “É justamente por isso que vemos tantos postos abandonados por aí, afinal, quando a contaminação acontece, o terreno fica impróprio para utilização”, explica Wagner de Souza, presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC).

PROBLEMAS DE SAÚDE - Embora desde o início dos anos 2000 os postos de combustíveis contem com os tanques (que ficam abaixo do piso do postos) jaquetados (espécie de dupla face, como se fosse um tanque dentro do outro), a infiltração de combustível no solo não fica totalmente descartada.

Mesmo porque, no caso dos estabelecimentos abandonados, pode haver corrosão, que por sua vez contamina o lençol freático, prejudicando a população que habita os arredores destes locais. “Se atingir as redes pluviais, a população que consumir essa água pode ter graves problemas de saúde, principalmente no sistema digestivo”, explica o médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).

“Até mesmo inalar esses gases que se mantêm no ar (mesmo depois do fechamento dos postos) pode provocar redução de imunidade, ocasionando doenças respiratórias (como rinite e bronquite). Nos casos mais extremos, há comprometimento sistêmico, acarretando até mesmo em enfermidades como câncer”, alerta o especialista.


Estabelecimentos de supermercados dizem cobrar em torno de 4% menos

Apesar de contarem com preços menores, devido ao maior poder de barganha, e vantagens para o consumidor – como o ganho de bônus em programas de fidelidade –, redes de supermercados, como Carrefour, Extra e Assaí, que apostam em suas próprias bandeiras de combustíveis, não prejudicam a procura pelos postos de gasolina de rua, avalia o diretor da IPC Marketing Editora, Marcos Pazzini. “Hoje atrai mais clientes pela comodidade que já estão na loja do que pelos demais benefícios.”

O Grupo Pão de Açúcar, que administra os cinco postos presentes no Grande ABC do Extra e Assaí, informa que os combustíveis da rede são, em média, 4% mais baratos do que nos demais estabelecimentos, e destaca que o diferencial é a “conveniência e segurança das instalações”. Já o Carrefour, com sete postos na região, afirmou fazer pesquisas diárias com o objetivo de manter o melhor valor nas bombas, entretanto, não divulgou números.

De acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) referentes à última semana, a gasolina na região custa, em média, R$ 3,66 e, o etanol, R$ 2,51. Considerando que nos mercados o preço seja 4% menor, o litro sairia por R$ 3,51 e R$ 2,40, respectivamente.

CLIENTELA - Com o objetivo de reter clientes, os postos de bandeira investem em lojas de conveniência e serviços adicionais, como troca de óleo ou pneus. “O comércio varejista atrai pessoas para o ponto de venda do produto principal do estabelecimento”, afirma Pazzini. Por este motivo, é comum a abertura de redes de fast-food ou minimercados nos postos de combustíveis.
Pazzini aponta que o atendimento deve ser um diferencial na hora de conquistar a clientela. “As grandes redes também vendem atendimento e fidelizam não apenas pelo combustível”, comenta.  




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