Esse material ganha exposição em duas etapas na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, batizada Momentos – Frames, Cosmococa. A abertura da mostra: 13 de março. Em caderno de anotações, Oiticica registra o dia 13 de março de 1973 como a data da criação de Cosmococa. Ainda neste semestre, a Pinacoteca do Estado, em São Paulo, recebe a montagem completa da obra, como o artista a idealizou.
Os traços de cocaína surgem na capa dos LPs War Heroes, de Jimi Hendrix, e Grapefruit, de Yoko Ono, e no rosto de Luis Buñuel impresso em capa da The New York Times Magazine. E também na foto de Marilyn Monroe colocada na capa do livro de Norman Mailer sobre ela e em Notations, publicação de John Cage. Cada tema tem um título: CC1 – Trashiscapes, CC2 – Onobject, CC3 – Maileryn, CC4 – Nocagions e CC5 – Hendrix-War.
As trilhas da droga subvertem a imagem das personalidades. Na época em que Cosmococa foi concebida, a cocaína não era associada ao poder econômico, nem os traficantes exibiam a força que atualmente demonstram – ela ainda mantinha laços com a contracultura. Para o artista plástico, a cocaína representava uma oposição à postura capitalista. Daí o teor transgressivo da obra, que pode ser lida também como uma discussão sobre ética e estética.
Completa, conforme Oiticica imaginou, Cosmococa compõe-se da projeção dos 163 slides em paredes, com ordem pré-determinada e sonoplastia específica. Redes para deitar, colchões, almofadas e piso coberto com areia também a formam. A idéia é favorecer a integração do espectador com a obra, tirá-lo de uma conduta passiva.
A arte experimental de Oiticica rendeu reputação internacional. Mostras na White Chapell Gallery (Londres), em 1969, e no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1970, catapultaram sua carreira. Graças a uma bolsa da Fundação Guggenheim, passou sete anos em Nova York, onde concebeu Cosmococa. As primeiras exposições de Cosmococa tiveram espaço em Roterdã, Paris e Barcelona, em 1992.
Criador dos parangolés (capas dançáveis), Oiticica vendeu poucas obras em vida – não foi um artista voltado ao mercado. Já que faltava dinheiro para realizar as obras, Oiticica deixou anotações, manuscritas e datilografadas, em que dá instruções minuciosas sobre como executá-las.
Oriundo do concretismo, o artista logo partiu para experiências multisensoriais e foi uma espécie de precursor do que hoje se chama de instalação. Uma de suas obras, Tropicália, forneceu o nome ao movimento liderado por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé.
Momentos – Frames, Cosmococa – Exposição. Imagens de Hélio Oiticica e de Neville D‘Almeida. Primeira etapa: de 13 de março a 17 de abril. Segunda etapa: de 25 de abril a 17 de maio. Terça a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 17h. Na Galeria Fortes Vilaça – r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo. Tel.: 3032-7066. Entrada franca.
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