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Retrato pintado por Pablo Picasso será leiloado em Nova York
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
08/03/2006 | 16:01
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Dora Maar (1909-1997) ficou reclusa por décadas até sua morte, graças às seqüelas de um relacionamento sufocante com o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973). Agora, pode se tornar a mulher de R$ 100 milhões. A casa Sotheby’s espera arrecadar mais de US$ 50 milhões com o leilão dia 3 de maio em Nova York da tela Dora Maar com Gato (1941), de Picasso. A obra, exposta atualmente em Paris, ficou por 40 anos longe dos olhos do público. Pertencia a uma família que preferiu se manter no anonimato. Dora Maar foi musa e amante de Picasso, e ele a retratou em uma série. Em 1999, foi leiloada a última destas telas que apareceram em público, Dora Maar Sentada no Jardim (1938), que arrecadou US$ 49 milhões.

Dora Maar foi criada em Buenos Aires, filha de mãe francesa e pai croata. Tinha 28 anos quando foi apresentada a Picasso pelo amigo do pintor, o poeta Paul Eluard em 1937. A fotógrafa, então intelectual brilhante ligada aos surrealistas franceses, tinha cabelos negros e unhas sempre bem feitas e pintadas. Encantou o artista, que contava com 56 anos, e os dois tiveram um relacionamento intenso, mas a personalidade forte de Picasso oprimiu Dora, que se tornou temperamental e depressiva. O pintor ainda mantinha relacionamento com Marie Therese, mãe de Maia, e alternava visitas a ela e à filha com viagens que fazia com Dora Maar. São da fotógrafa os únicos registros do processo criativo de Picasso em Guernica (1937), pintada no auge da Guerra Civil Espanhola.

Picasso e Dora Maar ficaram juntos até 1943, quando ele conheceu outra mulher. Nos momentos felizes, seus retratos de Dora Maar ressaltam seus cabelos morenos e unhas, realçados nos tons vermelhos e pretos, e destacava perfil e face em seu estilo marcante. A tela que a Sotheby’s vai leiloar foi produzida durante o clímax do relacionamento do casal – e durante a ocupação de Paris pelo exército nazista, em 1941, o que aumentou as tensões entre eles. Para abstrair essas tensões, Picasso pintaria sua musa em lágrimas, que ficaria conhecida como "mulher que chora". A tela da Sotheby’s representa o início desta fase em que Picasso desconstruiu a musa. O gato em seu ombro direito é uma referência ao apelido que Picasso lhe dera, "gato afegão", por seu temperamento.

O valor da obra não deve chegar ao pés de outra tela de Picasso, Rapaz com Cachimbo (1905), leiloada também pela Sotheby’s por US$ 104 milhões em 2004. Comprada em 1950 por US$ 30 mil, fazia parte de uma coleção particular e a renda foi doada para a Fundação Greentree, criada pela milionária Betsey Hay Whitney (1908-1998), dona da coleção. Até 2004, a obra leiloada mais cara do mundo era Retrato do Doutor Gachet (1890) de Vincent Van Gogh (1853-1890), vendida pela Christie’s em 1990 por US$ 82,5 milhões.




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