Cultura & Lazer Titulo
A escalada dos negros na TV
Márcio Maio
Da TV Press
11/10/2007 | 07:02
Compartilhar notícia


Os personagens negros viraram o jogo nas novelas. Isso depois de anos exercendo a função de meros coadjuvantes ou com espaço apenas em histórias de época, relacionadas ao período da escravidão. Desde famílias de classe média, mocinhas e até anjos, atores como Taís Araújo, Aílton Graça, Thalma de Freitas e Lázaro Ramos começam a assumir papéis de importância nas tramas.

A explicação para essa mudança, segundo os autores, é a função da teledramaturgia em retratar cada vez mais realisticamente a sociedade. “Os negros estão em um momento de grandes conquistas, nada mais natural que isso se reflita na televisão também”, opina Walcyr Carrasco, que escreve Sete Pecados, na Globo.

A história de Walcyr é um bom exemplo. Na trama, Thalma de Freitas e Aílton Graça desempenham funções que, anos atrás, pareceriam impossíveis para os atores. Ele, na pele do Barão, um estiloso vilão. E ela, encarnando uma mensageira de Deus. “Não acredito na imagem de todos os anjos louros e com cabelos encaracolados. Prefiro a diversidade”, reflete Walcyr.

Mas nem sempre essas intervenções partem por iniciativa apenas dos autores. Gilberto Braga não tinha a intenção de colocar um negro circulando pelos edifícios requintados de sua Paraíso Tropical, da Globo, mas resolveu atender a um pedido do ator Jonathan Haagensen. “Ele sonhava com um papel que não fosse de marginal, por causa do estigma de Cidade de Deus. Criei o Cláudio para ele”, revela Gilberto.

Quando criança, Aílton Graça costumava folhear as fotonovelas de sua mãe E sempre se perguntava porque não havia personagens negros nas histórias. Anos depois, começou a sentir na pele a resposta. E só em 2005, aos 40 anos, estreou na TV, como o boa-praça Feitosa de América. “Parecia que as novelas não eram gravadas no Brasil. Não havia negros, índios, nordestinos ou outras minorias”, critica.

DIREITOS IGUAIS

Velhos conhecidos da televisão, Milton Gonçalves e Léa Garcia já perderam a conta de quantas vezes discutiram com autores e brigaram por direitos iguais para os negros na teledramaturgia.

Hoje, reconhecem a melhora, mas ainda acham muito pouco. “Estamos falando de uma pequena parcela de personagens que se destaca. Mas e os outros? Ainda somos a minoria”, protesta Mílton. Para Léa, um dos fatores que prejudicam essa inserção é a própria idéia de que as emissoras precisam ser politicamente corretas. “Ninguém está agindo com ética. Os negros merecem espaço porque podem ocupá-lo e não porque são coitadinhos. Trata-se de uma mudança ideológica”, alerta.

Walquíria Ribeiro concorda e afirma que passou por maus bocados até ver as portas se abrirem. Sua primeia oportunidade na TV foi em A Escrava Isaura, da Record. Em sua quinta novela na emissora, ela já fez escrava, mãe, dona de casa de classe média e, agora, se prepara para viver Ana, uma secretária executiva refinada em Amor e Intrigas, próxima trama das nove. “Sonhava com um papel assim, mas não achei que fosse acontecer tão rápido”confessa.

COTAS TELEVISIVAS

Irmão de Camila Pitanga e filho de Antônio Pitanga, Rocco Pitanga assume que não teve dificuldades para entrar na televisão e nunca precisou interpretar personagens com função social ou um escravo por ser negro. Mas percebe que a maioria dos colegas que não carregam um sobrenome famoso passam por essa situação.

Para resolver o problema, defende um sistema de cotas para a TV. E critica a postura de algumas equipes que separam testes abertos para negros e para brancos.

Gilberto Braga conta que já participou de vários seminários e debates sobre o assunto, mas ainda não tem uma posição formada. Para ele, a TV não tem obrigatoriamente de documentar o que acontece fora das câmeras, mas também não pode se distanciar totalmente da realidade.“As novelas, em sua grande maioria, glamourizam a realidade”, despista.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;