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Suplicy quer levar CPI à militância
Sergio Kapustan
Do Diário do Grande ABC
29/05/2005 | 07:47
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O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) quer reunir as principais lideranças petistas no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, para discutir com a militância a crisa da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios e o papel do partido no Congresso Nacional. Segundo o senador, a legenda precisa "retomar a sua história", abalada pela CPMI. A investigação foi proposta pelos oposicionistas para apurar um suposto esquema de cobrança de propina que beneficiaria o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), aliado do presidente Lula. O governo tentou enterrar a CPI liberando verbas para os aliados. A manobra fracassou e a oposição ganhou um novo parceiro: Suplicy. Aos 63 anos, o senador, que pretende disputar o terceiro mandato em 2006, diz que o governo precisagir com rigor e punir os responsáveis. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Diário.

DIÁRIO – O sr. armou uma crise no PT ao assinar a CPI dos Correios contrariando o governo e a cúpula do partido. O sr. se sente confortável?

EDUARDO SUPLICY – Em primero lugar, a direção nacional não fechou questão. Mas a maioria da bancada do PT no Senado decidiu não apoiar a CPI. Fui voto vencido. Compreendo que tomei uma decisão que contraria a maioria e agora estou no aguardo. Fiz minha parte ao transmitir à direção nacional o que ocorreu.

DIÁRIO – Qual a lição que ficou?

SUPLICY – Eu espero que o PT e o governo reflitam sobre as decisões tomadas por senadores e deputados. O PT deve levar em consideração o que é o melhor para o interesse público, e não em função de quaisquer designação de pessoas para determinados cargos na administração pública ou em função de liberação de verbas.

DIÁRIO – Como o sr. viu o comportamento da cúpula?

SUPLICY – Alguns membros do PT e da direção nacional entenderam que a oposição (PFL e PSDB) usaria a CPI contra o governo. A CPI seria um palanque visando paralisar a administração pública e o Congresso Nacional. Eu discordo. Acho que nós podemos contribuir para que a CPI seja feita de maneira isenta e imparcial.

DIÁRIO – O sr. se dispõe a participar da CPI?

SUPLICY – Trata-se de uma decisão de bancada. Eu estou à disposição e posso contribuir de maneira responsável. Mas acho difícil porque o líder do governo, Aloízio Mercadante (SP), e o líder da bancada, Delcídio Amaral (MS), preferem indicar nomes contrários a CPI. De minha parte, estou pronto para trabalhar caso seja chamado.

DiÀRIO – Qual é o reflexo da sua decisão na base do partido?

SUPLICY – As pessoas flagradas em atos de corrupção não são filiadas ao PT. No caso dos Correios, a responsabilidade é do governo do presidente Lula, do PT. Portanto, temos de agir com rigor na apuração dos fatos e punir os responsáveis.

DiÁRIO – No Grande ABC, especialmente em São Bernardo, o PT tenta se recompor depois de perder a eleição municipal. Essa crise no governo não desmotiva a base ?

SUPLICY – Eu defendo que se faça um grande debate na sede do Sindicato dos Metalúrgicos por representar o início da história do PT. Vamos reunir os militantes do ABC e discutir a CPI dos Correios e o trabalho do PT no Congresso Nacional. Esse é o momento de o partido retomar a sua história.

DIÁRIO – O PT precisa resgatar a sua história?

SUPLICY – Três aspectos se destacam na história do PT que não podemos esquecer: a democracia, a ética na política e a justiça social. O partido defende as transformações por meios democráticos. A ética na política está presente na nossa vida desde a fundação. Participamos do movimento das diretas (1984) e do impeachment do presidente Collor (1992). A luta pela justiça social é outra bandeira histórica do PT. O Orçamento Participativo e o Programa de Renda Mínima, por exemplo, são conquistas importantes do PT.

DIÁRIO – É possível unir o partido?

SUPLICY – As eleições de 2006 constituem um desafio para o PT. Nós temos que ter ações em nível municipal, estadual e nacional que sejam consistentes no cotidiano dessa luta por democracia, ética e justiça social. O PT unido tem grandes chances de vencer as eleições.

DIÁRIO – O que o sr. acha das denúncias nos Correios?

SUPLICY – Na mensagem que transmiti ao presidente Lula, quando ele se encontrava na Coréia, disse que a CPI dos Correios era necessária e os fatos denunciados, graves. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), aliado do governo, é citado em gravações. Cabe ao Congresso esclarecer os fatos e punir os responsáveis.

DIÁRIO – Impedir o Congresso Nacional de fiscalizar o governo não é diminuir o seu papel?

SUPLICY – O Congresso Nacional tem um papel constitucional. A sua diminuição (não fiscalizar o governo) é ruim ao país. Por isso, eu defendi no PT o apoio à CPI dos Correios sem qualquer tipo de preocupação.

DIÁRIO – Essa postura do partido lhe preocupa?

SUPLICY – Eu avalio que a direção nacional do PT agiu de forma diferente ao sentimento do povo brasileiro. As pessoas que me procuram, na sua grande maioria, afirmam que a minha decisão foi correta. Estou consciente que fiz o melhor ao partido e ao país.

DIÁRIO – Como o sr. avalia a permanência no governo do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ministro da Previdência, Romero Jucá, ambos envolvidos em denúncias de irregularidades?

SUPLICY – Se eu estivesse no lugar deles eu me afastaria. No governo do presidente Itamar Franco (1992-1994), o chefe da Casa Civil Henrique Hargreaves foi investigado por uma CPI e pediu licença do cargo para prestar depoimento. Tendo esclarecido que não tinha responsabilidade nas irregularidades, ele então voltou ao governo.

DIÁRIO – O presidente Lula e o PT serão cobrados por tentar abafar a CPI dos Correios. Preocupam os ataques da oposição?

SUPLICY – O PT e o governo precisam mostrar que desejam investigar a fundo. A CPI precisa ser isenta e não política. Ir ao fundo dos fatos ajuda o PT a mostrar à opinião pública que é um partido comprometido com a ética na administração pública.

DiÁRIO – O governo não está demonstrando muita fragilidade?

SUPLICY – É difícil fazer uma avaliação. Eu posso afirmar que se houver a comprovação do envolvimento de aliados do governo nas investigações, que comprometam a sua base no Congresso, nós não podemos recuar. 

DIÁRIO – O governo liberou verbas orçamentárias para os redutos eleitorais de deputados para enterrar a CPI dos Correios, mas foi derrotado assim mesmo. O sr. concorda com essa prática?

SUPLICY – Não concordo. O governo elegeu-se sem maioria no Congresso Nacional, mas isso é parte da vida democrática. O que deve prevalecer é o interesse público e não pessoal. É o critério que o PT sempre defendeu.

DIÁRIO – Como mudar isso?

SUPLICY – Tornando mais transparente o diálogo do governo com cada deputado federal e senador. O governo precisa dizer com transparência se por ventura algum parlamentar está exigindo qualquer procedimento indevido para votar de uma maneira ou de outra.

DIÁRIO – É a forma do governo limpar a sua imagem?

SUPLICY – É uma oportunidade do governo esclarecer inteiramente todos esses episódios e tornar muito mais transparente a sua ação. Essa transparência é uma exigência da opinião pública. O PT e o governo precisam saber disso.

DIÁRIO – O sr. imaginava o PT distante da opinião pública?

SUPLICY – Na carta ao presidente Lula que citei antes afirmo, de forma convicta, que a direção do PT está distante da vontade do povo. Cabe a nós insistir na mudança.

DIÁRIO – Preocupa a reeleição do presidente Lula?

SUPLICY – Tenho a confiança na reeleição do presidente Lula. Mas ele precisa dar uma resposta à sociedade de forma rápida. É preciso mostrar extremo rigor na seriedade e na condução da administração pública. O presidente Lula está fazendo um grande governo, mas é preciso ficar atento à opinião pública.

DIÁRIO – O presidente Lula é refém do fisiologismo que domina uma boa parte do Congresso?

SUPLICY – O presidente precisa dar demonstrações claras que a ação do seu governo não depende de quaisquer interesses fisiológicos. O voto no Congresso deve ser em função do interesse do povo e não de pessoas.

DIÁRIO – O sr. previa um governo com tantas dificuldades políticas?

SUPLICY – A gente previa dificuldades. Era natural porque o presidente Lula elegeu-se para fazer mudanças muito significativas na vida brasileira. Surgiram obstáculos e dificuldades, mas não podemos desanimar. Os aliados do Congresso e o governo devem se unir porque o povo espera muito do presidente Lula.

DIÁRIO – O desempenho do PT no governo é satisfatório?

SUPLICY – O nosso desempenho é satisfatório especialmente na área econômica e social. O número de pessoas empregadas aumentou, a inflação está controlada e houve uma diminuição importante do endividamento público em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). O Bolsa-Família, um dos princiais programas do sociais do governo, atingiu 7,33 milhões famílias com rendimento até R$ 100 reais mensais per capita. Em 2006, a meta é atingir 11 milhões de famílias.

DIÁRIO – Como sr. vai se conduzir nos próximos dias no Senado? O que sr. pretende fazer?

SUPLICY – Em princípio, sou pré-candidato ao Senado. No dia 26 de junho, no Teatro Oficina, em São Paulo, haverá uma plenária. Vou debater as realizações de meus dois mandatos e questionar as pessoas de minha candidatura em 2006. De resto, vou continuar trabalhando no Senado.

DIÁRIO – A deputada federal Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB) quer a sua vaga em 2006. A deputada afirma que o sr. dificulta os trabalhos no Congresso. Qual é a sua avaliação?

SUPLICY – Convido a deputada a participar da minha Plenária. Aceito as críticas e sugestões dela para melhorar ainda mais o meu mandato de senador. Sou uma pessoa aberta ao diálogo.

DIÁRIO - Qual o seu candidato a governador de São Paulo em 2006?

SUPLICY - Eu estou procurando harmonizar a disputa entre os candidatos Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e João Paulo Cunha. Os três têm qualidades, mas não vou me posicionar. Até porque, se eu me candidatar ao Senado, estarei trabalhando ao lado daquele que sair candidato.




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